Micotoxinas na ração de pets
O que são micotoxinas? |
As micotoxinas representam um risco para a cadeia de abastecimento de rações, com impacto na saúde animal, no comércio de rações e, consequentemente, na economia. Recentemente, cerca de 100.000 fungos foram identificados, entre esses mais de 500 micotoxinas foram relatadas como potencialmente toxigênicas, as principais micotoxinas que impactam a saúde humana e animal são aflatoxinas, fumonisinas, tricotecenos, ocratoxinas e zearalenona.
Como características principais das micotoxinas destaca-se que são moléculas tóxicas, pequenas, muito estáveis e extremamente difíceis de remover ou erradicar (Haque et al., 2020). Na Tabela 1, é apresentado um resumo das micotoxinas, fungos de origem e os alimentos onde ocorrem de forma mais comum.
Por outro lado, a toxicidade crônica pode resultar no consumo de quantidade moderada a baixa de toxinas, acarretando em perda de peso e redução no consumo alimentar ou até mesmo não apresentar sintomas aparentes no animal afetado. No entanto, o consumo frequente de baixa quantidade de toxinas pode tornar o animal suscetível a várias doenças infecciosas, especialmente infecções bacterianas secundárias, pela supressão do sistema imunológico (Eshetu et al., 2016).
A contaminação por múltiplas micotoxinas é um tópico de grande preocupação, pois as amostras contaminadas ainda podem exercer efeitos adversos em animais devido a interações aditivas/sinérgicas das micotoxinas (Haque et al., 2020).
Aflatoxinas |
As aflatoxinas são produzidas por algumas cepas de fungos do gênero Aspergillus, principalmente das espécies A. flavus e A. parasiticus, os quais se desenvolvem naturalmente em produtos alimentícios, milho, trigo, arroz, sorgo, leite e laticínios, ovos e carnes.
Existem quatro afl atoxinas principais que são motivo de preocupação em alimentos para animais de companhia descritas pela ordem de toxicidade:
O primeiro caso relatado foi em 1952, nos Estados Unidos, com o uso de uma ração contaminada por fungos que causou uma doença hepática em cães, denominada “hepatite X”. É importante ressaltar que as aflotoxinas são:
O consumo de uma forma crônica, em alimentos contendo concentrações de 50 a 300 μg/kg (0,05 – 0,3 mg/kg) de aflatoxinas por 6 a 8 semanas, provocou uma resposta crônica, causando a anorexia, letargia, icterícia, coagulação intravascular disseminada e morte, sendo os mesmos sinais causados nas formas subagudas de cães alimentados com cerca de 500 – 100 μg/kg (0,5 a 1 mg de aflatoxina/kg) por 2 a 3 semanas (Newnan et al., 2007).
Fumonisina |
As fumonisinas são mal absorvidas no intestino e podem ser inativadas pela microbiota intestinal. Uma vez que entram na circulação sanguínea, as fumonisinas danificam principalmente o rim e o fígado. Os efeitos clínicos das fumonisinas variam entre as espécies animais, mas a maioria das investigações toxicológicas não abordam animais de companhia.
Tricotecenos |
A desoxinivalenol (DON) contamina as plantações de cereais, afetando mais comumente o trigo, milho e cevada. A sua a prevalência dependente das condições climáticas, incluindo precipitação e temperatura. Assim como outras toxinas, ela exibe estabilidade em temperaturas de até 120-180°C. Experimentalmente, cães que receberam acima de 4,5 mg/kg de DON na ração apresentaram recusa do alimento, já gatos demostraram ser menos sensíveis, refugando a ração quando a concentração foi acima de 7,7 mg/kg de DON na ração (Hughes et al., 1999).
Os sinais clínicos envolvem:
De acordo com estudos toxicológicos, o T-2 representa o composto mais tóxico entre os tricotecenos. Os gatos parecem ser particularmente suscetíveis às toxinas T2, devido à sua incapacidade de excretá-las. Os principais sintomas de toxicidade descritos em gatos foram vômitos, diarreia, anorexia, ataxia das patas traseiras e secreção dos olhos (Montes et al., 2020).
Ocratoxinas |
Zearalenona |
Pode ocorrer na cevada, aveia, arroz de trigo, sorgo, gergelim, soja, produtos à base de cereais.
O principal sintoma da zearalenona são:
Não foram encontrados estudos de intoxicação em gatos, mas cães são considerados particularmente sensíveis a essa micotoxina estrogênica (EFSA, 2017). Com uma dose de 25 μg/kg por peso vivo em cadelas adultas, a Zearalenona pode produzir lesões no miométrio e endométrio (Montes et al. 2020).
Micotoxinas Tremogênicas |
Os principais sintomas para os cães e gatos que consomem alimentos com a presença destas micotoxinas são fraqueza, tremores musculares, irritabilidade, rigidez, hiperatividade, febre, ataxia, convulsões e morte.
A ocorrência dessas toxinas contrasta com as aflatoxinas, ocratoxina A e o tricotecenos, pois raramente são encontradas em ingredientes de rações, mas geralmente são produzidas durante a deterioração dos alimentos. A exposição oral a 0,175 mg de penitrem A/kg de peso corporal mostrou induzir tremores musculares em cães (Hocking et al., 1988).
Prevalência das micotoxinas em ração pet |
[registrados]
Segundo Haque et al. (2020) as aflatoxinas prevalecem principalmente nas regiões temperadas e tropicais, onde ocorrem temperaturas médias mais altas (acima de 20ºC) e alta pluviosidade, ou seja, com calor associado a alta umidade. Assim como ocorre em algumas regiões da América do Norte e do Sul, e no Sul da Ásia e África. Nestas localidades, é necessário ficar atento, principalmente a ingredientes como:
No entanto, cabe ressaltar que manter o padrão de qualidade dos ingredientes que entram na fábrica de ração é fundamental. Problemas no processamento de grãos, erro de amostragem, entrada de ingrediente contaminado na fábrica, métodos analíticos não precisos, e condições de armazenamento podem representar desafios para o fabricante de rações ao tentar detectar micotoxinas com precisão.
Nem sempre estes surtos estão relacionados com a indústria de rações, e podem estar associados a uma dieta alternativa. Outra questão, está relacionada com o diagnóstico, quando a micotoxicose é aguda a sua percepção é fácil de relatar. No entanto, em casos de doenças crônicas, como fibrose hepática e renal, e infecções resultantes de imunossupressão que podem ser causadas por micotoxinas, muitas vezes esta opção não é investigada.
Como gerenciar micotoxinas nos alimentos para pet |
Em primeiro lugar, a fábrica de ração precisa estar ciente que impossível melhorar a qualidade de um produto armazenado, então a qualidade da matéria-prima que entra é fundamental para garantir a qualidade do
produto final.
Alguns métodos têm sido estudados para prevenir micotoxicoses, dentre elas as técnicas de processamento e o uso de agentes sequestrantes de micotoxinas.
de aditivos nutricionais com o papel de agentes sequestrantes para prevenir a absorção de micotoxinas no intestino dos pets (Diaz e Smith, 2005).
Priscila Moraes e Lucélia Hauptli
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural
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