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A produção de leite no Brasil pela ótica do produtor

Escrito por: Diandra Lezier - Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agronomia, atuando principalmente nos seguintes temas: bovinocultura leiteira, desaleitamento, sistemas e co-produto, desaleitamento, pré-ruminante, nutrição de vacas.
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A produção de leite no Brasil pela ótica do produtor

A produção de leite no País busca um crescimento após a queda no consumo e produção no ano de 2022. Esse cenário acompanha o produtor há algum tempo, sendo guiado por alterações no preço do produto, disponibilidade de alimento para os plantéis, altos custos de produção, preço pago ao produtor e outros.

Se manter otimista na atividade exige no cenário atual, atualizações para que a eficiência produtiva seja máxima e os riscos e perdas sejam mínimos.

E para entender melhor o ponto de vista do produtor, nossa equipe foi até o interior de São Paulo, na cidade de Tietê conhecer a granja leiteira da família Lezier.

“Desde sempre” produzindo leite, o sítio São José passou por diversas modificações e evoluções com o passar dos anos, contando hoje com 60 animais em lactação, no sistema Compost Barn, confinadas. Utilizando diversas tecnologias para a produção de leite de qualidade, entre elas, a ordenha mecanizada e inseminação artificial.

O envolvimento da família e os estudos na área são grandes aliados na atividade. Quem nos apresentou a propriedade e as expectativas sobre a produção leiteira foi a Diandra Lezier.

No meu ponto de vista, esses avanços foram acontecendo naturalmente por uma necessidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos animais da propriedade, foram necessários a evolução e um caminho que tínhamos que percorrer. [cadastrar]

Junto com as melhorias de produção, o bem-estar também é ponto chave para a produção:

“O ponto de bem-estar mais visível está nos animais, que caminham sozinhos até a ordenha, apresentam índices de saúde e produção cada dia melhores, afinal o ambiente é melhor controlado. Para as pessoas, um trabalho mais rápido e limpo, além de mais ergonômico.”

O bem-estar sempre esteve, mas atualmente tem sido ainda mais relacionado a sustentabilidade.

Mesmo sendo um conceito em alta nesse momento, a sustentabilidade na produção leiteira é presente a muito tempo, e a produção de leite junto com o gado de corte, sofre com a desinformação. De que forma vocês estão envolvidos?

Diandra nos contou um pouco sobre como atuam com essas necessidades:

“Durante os anos de estudo e busca por informações, sempre buscamos o melhor para os nossos animais e equipes, então utilizamos de ferramentas que nos auxiliam em todos os aspectos de sustentabilidade e bem estar, controle do uso de antibióticos, cultura na fazenda, um time muito bacana na nutrição, reprodução e sanidade fazem toda a diferença no dia a dia.

Ainda não temos as certificações de bem estar, mas houve a busca por empresas especializadas para isso em uma auditoria, necessária ao processo de certificação, além de manter os exames e demais exigências do GEDAVE sempre em dia (algumas certificações levam um tempo e, torno de 2 anos para serem emitidas, estamos no processo).”

Outro ponto chave na produção animal, e muito importante para a produção leiteira são os índices zootécnicos. Fomos atualizados um pouco mais sobre os indicadores zootécnicos de maior importância para a produção de leite.

Diandra explica que a produção caminha com muitos índices e cada um tem a sua importância dentro da cadeia produtiva, assim como estão todos interligados de alguma forma. Índices produtivos e reprodutivos, além desses juntos e índices diversos.

É uma corrente onde cada elo tem seu papel de nos mostrar o que está acontecendo nas diferentes áreas da propriedade, sendo difícil colocar apenas um em evidência.

Entre eles podemos citar:

Nutrição

Sobre nutrição Diandra nos conta de forma detalhada como procedem com o plano alimentar para todas as categorias animais presentes na propriedade.

Toda a dieta é formulada por um profissional, de acordo com os ingredientes que temos disponíveis.

A propriedade também faz toda a produção de volumoso e ficamos sabendo um pouco mais sobre esse processo.

Após esses primeiros passos, dos cuidados com a lavoura, quando se atinge o ponto de colheita, entramos com a colhedora própria, que também tem evoluído, e hoje tem o processador de grãos, aumentando a digestibilidade deste e a eficiência no uso deles pelos animais consumidores.

Após a colheita, esse material é depositado no chão, onde é feita a aplicação de inoculantes apropriados, a compactação, para retirada do ar e facilitar, com isso, o processo de conservação dessa forragem pela ensilagem.

O montante compactado e, posteriormente, coberto com duas lonas de silagem, e mais uma camada de material vegetal picado para diminuir a incidência do sol sobre as lonas, melhorando o processo em si e diminuindo as perdas.

Depois desse processamento e do ponto de estabilidade do material ensilado (entre 30-90 dias) o material, sem sofrer injúrias, pode ser consumido após vários meses, por se tratar de um processo de conservação.

Após abertura do silo, é feito o consumo diário de quantidade adequada e que permita a retirada de uma camada correta do painel do silo, não permitindo que esse material se deteriore. De acordo com a receita, os componentes da dieta são carregados em vagão misturador e fornecido no cocho para os animais em lactação.

As demais categorias animais da propriedade têm a dieta composta por pastagens e suplementação de acordo com cada categoria.

Figura 1. Ilustração prática dos momentos principais para produção de silagem

Manejo das bezerras

Logo após o nascimento é fornecido 10% do peso ao nascer em colostro de excelente qualidade (medida através de refratômetro de brix e corrigido com colostro em pó quando necessário), o umbigo é curado com solução de iodo a 10%, elas são alocadas em casinhas individuais, com cama e controle de temperatura.

Recebem leite de transição por cerca de 5-7 dias e posteriormente são aleitadas com sucedâneo lácteo, 6 litros por dia divididos em 2 refeições.

O desaleitamento é feito de forma gradual, quando os animais atingem consumo de concentrado acima de 1,5kg/dia, pelo menos 100kg de peso e em torno de 80 dias de vida.

Passado o desaleitamento elas recebem silagem, ração, suplementação mineral e têm acesso à pastagem. Por volta de 8 meses de idade, vão para pastagem com suplementação mineral. São inseminadas quando atingem 350kg, com sêmen sexado.

Os machos têm os primeiros cuidados iguais aos das fêmeas e são doados antes de uma semana de vida a pessoas que efetuam a criação desses animais.

Também obtivemos uma explicação sobre as diferenças e importância do plano alimentar nas diferentes idades dos animais.

Há diferenças nutricionais de acordo com a idade e categoria do animal dentro do rebanho, isso se deve às diferenças entre as exigências desses animais.

Exemplo, um animal lactante e gestante, tem uma demanda maior por nutrientes e volume consumido que uma novilha em crescimento apenas.

Então as dietas são diferentes entre as categorias animais de acordo com as exigências de cada uma delas.

A dieta dos animais em lactação é capaz de modular a composição do leite produzido por elas, principalmente no que diz respeito ao teor de sólidos envolvendo gordura e proteína e a relação entre elas, lógico que não apenas a dieta influencia nisso, mas tem um papel muito importante.

“Desde que eu me conheço por gente e que minha família produz leite, ou seja, desde sempre, há essa oscilação de valores no decorrer do ano e é um produto deveras desvalorizado e por outro lado necessita que seja barato para o consumidor e essa é a dificuldade dos produtores.

Os preços dos alimentos a serem fornecidos tiveram uma elevação acentuada.

A expectativa para 2023 é ser ainda mais eficiente no ramo para que a atividade seja rentável. As reclamações são as mesmas quanto a preço, mas é como se não fossemos ouvidos ou não dessem importância às demandas dos produtores.

É como se nós tivéssemos que trabalhar para alimentar o povo, sem apoio nenhum para tal feito, sozinhos.”

Vejo a aprovação como um alívio para os produtores, onde saber o preço a ser pago, antes mesmo da entrega do produto, dará ao produtor uma segurança maior diante dos investimentos, das contas e o controle maior da economia da atividade, podendo este investir mais na atividade ou saber, pelo menos, se pode efetuar tais investimentos os gastos.”

A bovinocultura está em constante transformação, muita coisa já mudou e tem muito a acontecer ainda. Eu acredito que, com o avanço das redes sociais, da facilidade de receber informações terão um papel muito importante para no situarmos para onde vamos.

Vejo que os consumidores estão necessitados de informações de qualidade na área, e, por outro lado, vejo muitos leigos divulgando informações falsas ou com parcialidade sobre, o que gera um preconceito pela atividade.”

Da porteira para dentro vejo produtores se especializando, se tecnificando e evoluindo dia após dia, em todos os quesitos da produção (tecnologia, bem estar, nutrição, etc etc etc), melhorando tudo na atividade.

Da porteira pra fora, eu vejo consumidores exigentes de diversas formas, com razão na grande maioria delas. Por outro lado, vejo também uma falha do entendimento de como as coisas acontecem porteira adentro e o porquê dessas coisas, distanciando um pouco produtor e consumidor. Isso, ao meu ver, vem da disseminação em larga escala de informações por leigos, ativistas e desinformados.

Temos muito o que melhorar? Claramente. A diferença é que estamos em constante evolução do lado de cá. Vocês estão dispostos a vestir a nossa bota por um tempo e tentar ver as coisas pelos nossos olhos?

Equipe nutriNews Brasil com Diandra Leizer, Sítio São José

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