A produção de leite no Brasil pela ótica do produtor
Se manter otimista na atividade exige no cenário atual, atualizações para que a eficiência produtiva seja máxima e os riscos e perdas sejam mínimos.
E para entender melhor o ponto de vista do produtor, nossa equipe foi até o interior de São Paulo, na cidade de Tietê conhecer a granja leiteira da família Lezier.
- “Viemos de sistemas poucos tecnificados. A produção de leite na propriedade vem de muito tempo, então passamos por pastagens, ordenha manual, balde ao pé, semi-confinamento, ordenha canalizada, até chegarmos onde estamos agora, no Compost, com animais confinados e mais tecnologia empregada.”
No meu ponto de vista, esses avanços foram acontecendo naturalmente por uma necessidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos animais da propriedade, foram necessários a evolução e um caminho que tínhamos que percorrer. [cadastrar]
Junto com as melhorias de produção, o bem-estar também é ponto chave para a produção:
“O ponto de bem-estar mais visível está nos animais, que caminham sozinhos até a ordenha, apresentam índices de saúde e produção cada dia melhores, afinal o ambiente é melhor controlado. Para as pessoas, um trabalho mais rápido e limpo, além de mais ergonômico.”
Mesmo sendo um conceito em alta nesse momento, a sustentabilidade na produção leiteira é presente a muito tempo, e a produção de leite junto com o gado de corte, sofre com a desinformação. De que forma vocês estão envolvidos?
Diandra nos contou um pouco sobre como atuam com essas necessidades:
Ainda não temos as certificações de bem estar, mas houve a busca por empresas especializadas para isso em uma auditoria, necessária ao processo de certificação, além de manter os exames e demais exigências do GEDAVE sempre em dia (algumas certificações levam um tempo e, torno de 2 anos para serem emitidas, estamos no processo).”
Outro ponto chave na produção animal, e muito importante para a produção leiteira são os índices zootécnicos. Fomos atualizados um pouco mais sobre os indicadores zootécnicos de maior importância para a produção de leite.
É uma corrente onde cada elo tem seu papel de nos mostrar o que está acontecendo nas diferentes áreas da propriedade, sendo difícil colocar apenas um em evidência.
Entre eles podemos citar:
- Taxa de prenhez;
- Intervalo entre partos;
- Idade ao primeiro parto;
- Taxas de mortalidade e morbidade de bezerras, são muitos índices importantes.
Nutrição
Toda a dieta é formulada por um profissional, de acordo com os ingredientes que temos disponíveis.
A propriedade também faz toda a produção de volumoso e ficamos sabendo um pouco mais sobre esse processo.
- A produção de volumoso se dá completamente na propriedade, sendo a silagem de milho o principal. Desde o plantio, escolha do melhor hibrido, preparo e correção do solo, área a ser plantada, tudo é realizado por meu pai, com o apoio e assistência técnica da coplacana e profissionais responsáveis (é muito importante ter uma boa rede de apoio).
Após a colheita, esse material é depositado no chão, onde é feita a aplicação de inoculantes apropriados, a compactação, para retirada do ar e facilitar, com isso, o processo de conservação dessa forragem pela ensilagem.
Depois desse processamento e do ponto de estabilidade do material ensilado (entre 30-90 dias) o material, sem sofrer injúrias, pode ser consumido após vários meses, por se tratar de um processo de conservação.
Após abertura do silo, é feito o consumo diário de quantidade adequada e que permita a retirada de uma camada correta do painel do silo, não permitindo que esse material se deteriore. De acordo com a receita, os componentes da dieta são carregados em vagão misturador e fornecido no cocho para os animais em lactação.
As demais categorias animais da propriedade têm a dieta composta por pastagens e suplementação de acordo com cada categoria.
Figura 1. Ilustração prática dos momentos principais para produção de silagem
Manejo das bezerras
Recebem leite de transição por cerca de 5-7 dias e posteriormente são aleitadas com sucedâneo lácteo, 6 litros por dia divididos em 2 refeições.
O desaleitamento é feito de forma gradual, quando os animais atingem consumo de concentrado acima de 1,5kg/dia, pelo menos 100kg de peso e em torno de 80 dias de vida.
Passado o desaleitamento elas recebem silagem, ração, suplementação mineral e têm acesso à pastagem. Por volta de 8 meses de idade, vão para pastagem com suplementação mineral. São inseminadas quando atingem 350kg, com sêmen sexado.
Também obtivemos uma explicação sobre as diferenças e importância do plano alimentar nas diferentes idades dos animais.
Há diferenças nutricionais de acordo com a idade e categoria do animal dentro do rebanho, isso se deve às diferenças entre as exigências desses animais.
Então as dietas são diferentes entre as categorias animais de acordo com as exigências de cada uma delas.
- Os preços pagos pelo litro vêm oscilando, qual a expectativa para 2023?
“Desde que eu me conheço por gente e que minha família produz leite, ou seja, desde sempre, há essa oscilação de valores no decorrer do ano e é um produto deveras desvalorizado e por outro lado necessita que seja barato para o consumidor e essa é a dificuldade dos produtores.
A expectativa para 2023 é ser ainda mais eficiente no ramo para que a atividade seja rentável. As reclamações são as mesmas quanto a preço, mas é como se não fossemos ouvidos ou não dessem importância às demandas dos produtores.
É como se nós tivéssemos que trabalhar para alimentar o povo, sem apoio nenhum para tal feito, sozinhos.”
- O que esperam com a aprovação pela câmara da Política Nacional de Apoio à Pecuária Leiteira?
- Para fechar, Diandra nos conta quais as expectativas para a produção, e as muitas oportunidades que a produção de leite tem:
“Vejo que os consumidores estão necessitados de informações de qualidade na área, e, por outro lado, vejo muitos leigos divulgando informações falsas ou com parcialidade sobre, o que gera um preconceito pela atividade.”
Da porteira para dentro vejo produtores se especializando, se tecnificando e evoluindo dia após dia, em todos os quesitos da produção (tecnologia, bem estar, nutrição, etc etc etc), melhorando tudo na atividade.
Temos muito o que melhorar? Claramente. A diferença é que estamos em constante evolução do lado de cá. Vocês estão dispostos a vestir a nossa bota por um tempo e tentar ver as coisas pelos nossos olhos?
Equipe nutriNews Brasil com Diandra Leizer, Sítio São José
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