Em virtude da alta exigência nutricional, fruto da excelente produtividade tanto da galinha poedeira, quanto do frango de corte atual, esses animais necessitam de um trato digestório capaz de digerir e absorver com grande eficiência. O epitélio intestinal atua também como uma barreira natural contra microrganismos patogênicos e substâncias tóxicas que estão presentes no lúmen intestinal.
Sendo que, a população microbiana intestinal constitui um dos mais complexos ecossistemas da natureza, resultado de uma série de relações entre os microrganismos, o ambiente e o hospedeiro (AJUWON, 2015), a esse conjunto de indivíduos e associações, chamamos de microbioma.
Segundo Macari et al. (2002) a capacidade absortiva do intestino é diretamente proporcional ao tamanho das vilosidades do mesmo, estas vilosidades se constituem de dobramentos da mucosa em direção a luz do órgão, aumentando em centenas de vezes sua área de contato (Figura 1). O lúmen intestinal é revestido com uma única camada de células que passam por uma renovação rápida e contínua (SHIRAZI-BEECHEY et al., 2011). Essas células estão localizadas próximas à base das criptas do órgão e se diferenciam em vários tipos celulares que compõem o lúmen, cada uma contendo diferentes funções:
O vilo é a unidade funcional do intestino, existindo uma alta correlação positiva entre o tamanho da vilosidade e as taxas de absorção dos nutrientes. Já a profundidade da cripta é um indicador importante de saúde do trato gastrointestinal, uma vez que, quando o intestino é lesionado pela ação de microrganismos patogênicos há intensificação do turnover celular na cripta da vilosidade, provocando um aumento da sua profundidade.
Esse processo gera redução da relação entre o tamanho do vilo/profundidade da cripta, uma vez que o vilo irá diminuir seu tamanho, em resposta à lesão, enquanto a cripta aumentará sua profundidade, visando realizar a reparação das células do vilo, promovendo menor volume digestivo e das atividades de digestão e absorção (VISEK, 1978; FURLAN et al., 2004).
Portanto, a manutenção da integridade intestinal é de suma importância para a manutenção da sanidade da ave e das altas taxas produtivas. Na ocorrência de um processo infeccioso, microrganismos patogênicos degradam a mucosa intestinal, aumentando a quantidade de nutrientes necessários para o seu reparo e reduzindo a eficácia da absorção. Segundo Goddeeris (2002) o trato gastrointestinal já necessita naturalmente de um grande aporte de nutrientes para sua manutenção e renovação de celular (cerca de 23% a 36% do total de energia e 23% a 38% de toda a proteína em frangos de corte).
Obled et al. (2002) apontam que nutrientes (principalmente os aminoácidos: treonina, triptofano e glutamina) são desviados de processos fisiológicos importantes para atuarem na síntese de mecanismos de defesa, deixando de serem utilizados para formação de produtos (carne e ovos).
Microbiota Intestinal |
É comprovado que a presença de bactérias intestinais benéficas aumentam o desenvolvimento das criptas, a migração dos enterócitos e o comprimento das vilosidades no intestino delgado (XU e GORDON, 2003). Por outro lado, microrganismos patogênicos provocam efeito contrário, causam distúrbios no microbioma normal e no epitélio intestinal, alterando a permeabilidade dessa barreira natural facilitando a invasão de outros patógenos e de substâncias prejudiciais, que propiciarão alteração do metabolismo, e da capacidade de digerir e absorver nutrientes, culminando em processos inflamatórios crônicos (OLIVEIRA et al., 2000; PELICANO et al., 2005).
A colonização do trato gastrointestinal (TGI) por microrganismos se dá, já nos primeiros momentos após a eclosão do ovo, sendo que a partir do 4o dia existe um aumento na população microbiana que tende a se estabilizar na segunda semana de vida de acordo com as condições do ambiente de criação das aves (CANALLI et al, 1996; MAIORKA et al., 2001).
Existem cerca de 109 a 1014 bactérias/g de intestino das aves, a quantidade de células que constituem a microbiota intestinal é maior que o total de células que a própria ave possui provindas dos seus ossos, penas, bico, órgãos, sistemas, etc. Só esse grau de magnitude já demonstra a importância do microbioma para a saúde e homeostase da ave.
Essa população microbiana é composta principalmente por bactérias aeróbias facultativas (cerca de 90%), que são principalmente Bacillus, Bifidobacterium, Lactobacillus, (FULLER e COLE, 1989; MACARI e MAIORKA, 2000). O restante (cerca de 10%) consistem de Escherichia coli, Proteus spp., Clostridium spp., Staphylococcus spp., Blastomyces spp., Pseudomonas spp., entre outras, que em condições normais vivem em equilíbrio dentro do TGI (SAVAGE et al., 1997).
A microbiota pode viver tanto aderida ao epitélio, quanto em vida livre na luz intestinal e sua população é bastante dinâmica, podendo ser alterada por inúmeros fatores, como: dieta do hospedeiro, presença de O2, temperatura, pH, peristaltismo, produção de ácidos graxos voláteis (ácidos acético, butírico e propiônico), presença de antibióticos, entre outros (SAVAGE et al., 1997).
Segundo Saullu (2007), esta população é bastante variável também entre os órgãos do TGI (Figura 2), no papo (inglúvio) predominam Lactobacillus e Bifidobacterium, que produzem ácido lático e acético, reduzindo o pH e impedindo o crescimento de bactérias patogênicas. No proventrículo e na moela existe uma quantidade menor de microrganismos devido à baixa resistência ao pH extremante ácido desses órgãos (em torno de pH 2,5 no proventrículo e 3,5 na moela). Nos intestinos também ocorre colonização, sendo que a maior concentração de microrganismos se encontra no ceco (intestino grosso).
Por esses motivos se adicionam nas dietas de aves de produção aditivos que tenham a capacidade de promover maior saúde intestinal, através da modulação do microbioma intestinal, promovendo assim melhor desempenho, saúde, e qualidade de carne e ovos produzidos. Esses aditivos são chamados de aditivos zootécnicos equilibradores da microbiota intestinal (Compêndio brasileiro de nutrição animal, 2017).
Antibióticos |
Existe uma ampla quantidade e variedade de aditivos que atuam promovendo maior saúde do trato gastrointestinal, e os mais comuns e utilizados na avicultura são os antibióticos melhoradores de desempenho, cujo seu início de uso na produção animal data da década de 1940 (NIEWOLD, 2007).
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