O uso de espécies nativas em sistemas de integração agropecuários, além de agregar valor com a diversificação de produtos florestais de qualidade, é uma alternativa para produzir alimentos de forma mais equilibrada com o meio ambiente.
O componente arbóreo também regula o microclima, favorecendo a o bem-estar animal, com reflexos na produção de carne e leite. A pastagem com as árvores aumenta também a diversidade de fauna, auxiliando no controle de pragas e de doenças. Além disso, diminui a pressão por abertura e desmatamento de áreas florestais, com o incremento na produtividade.
Se o produtor optar trocar o eucalipto por espécies florestais nativas, o aumento da biodiversidade no sistema e o potencial de recuperar serviços ambientais é mais significativo ainda.Outra vantagem é a econômica. Geralmente, a madeira dessas espécies tem mais qualidade, por isso o retorno financeiro é melhor.
A integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF ou agrossilvipastoril) e a integração Pecuária-Floresta (IPF ou silvipastoril) com componente arbóreo nativo são bastante tímidas no país. A Amazônia trabalha com nativas há muito tempo e de uma forma consistente. Já na região Sudeste utiliza-se principalmente o eucalipto em integração, assim como em outras regiões.
A pesquisadora ressalta que há muitas espécies com grande potencial, mas faltam informações. “Ainda não há muito trabalho de seleção e melhoramento com foco em nativas, diferente do eucalipto que já está mais consolidado em sistemas de integração”, comenta.
Foram usadas árvores para diversas finalidades – madeireiras, melíferas e as chamadas tutoras (que auxiliam no crescimento retilíneo das madeireiras). As espécies plantadas foram mutambo, capixingui, angico-branco, canafístula, ipê-felpudo, jequitibá-branco e pau-jacaré.
Um resultado interessante nesse sistema foi em relação a parasitas. Ficou comprovado, por exemplo, que a infestação por moscas-dos-chifres na área de pastagem com nativas foi 38% menor quando comparada às pastagens convencionais, demonstrando que as alterações de microclima e microfauna afetam a dinâmica da população. A análise dos dados de contagens de carrapatos não mostrou diferenças significativas. Em relação aos vermes gastrintestinais e aos bernes, os testes nos dois sistemas mostraram médias de parasitismo semelhantes.
Segundo Maria Luiza, a diversificação das espécies é recomendável para o controle de pragas e doenças em áreas com nativas. O indicado é o produtor ter uma combinação de árvores de acordo com a finalidade do sistema. A integração com nativas, de uma forma geral, contribui para aumentar a biodiversidade agrícola com diversificação de produtos diretos (madeira, lenha, carne, leite) e benefícios indiretos como fertilidade do solo e maior produtividade do capim.
A pesquisadora enfatiza que não tem receita de bolo. O produtor precisa planejar e avaliar cada etapa do processo – desde a implantação até o mercado consumidor para os produtos. “O pecuarista precisa estar disposto a mudar e a encontrar caminhos para conciliar as demandas produtivas à capacidade dos ecossistemas”, finaliza.
Assessoria de comunicação da Embrapa Pecuária Sudeste