Rica biodiversidade, grande extensão territorial para a produção de alimentos e de energia renovável e domínio tecnológico fazem com que o Brasil seja um dos líderes globais no contexto da bioeconomia mundial. É o que pensa o Chefe-geral da Embrapa Agroenergia Guy de Capdeville.
No novo contexto de sustentabilidade ambiental, o que estamos buscando são fontes renováveis de matéria-prima e o desenvolvimento de processos para convertê-las de forma sustentável e ambientalmente amigável e de forma a produzir resíduos que possam ser reincorporados ao processo de produção”, explicou o pesquisador.
Ele citou algumas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa na área de energia que têm contribuído para a inovação na economia brasileira, como a pesquisa com cana-de-açúcar que permite a utilização do bagaço da cana para a produção de etanol de segunda geração, polímeros, novas moléculas e/ou ácidos orgânicos entre outras.
A Embrapa Agroenergia está desenvolvendo novos materiais de cana-de-açúcar, e também buscando novas oleaginosas que possam ser alternativa à soja visando a diversificação de matérias-primas no setor de produção de biodiesel. Também temos pesquisado novos processos e desenvolvido novos insumos agroindustriais como coquetéis de enzimas e novos microrganismos, a fim de ampliarmos o rol de ofertas de produtos de interesse e com maior valor agregado”, disse.
Novas oportunidades de ganho para a indústria
Produzir matérias-primas que possam ser convertidas por múltiplos processos em produtos de alto valor agregado poderá gerar novas oportunidades de ganho para a indústria, afirmou Guy. “Mesmo o bagaço da cana-de-açúcar sendo utilizado para produção de bioeletricidade, ainda há muita sobra que poderá ser convertida em outros produtos de valor agregado com novas oportunidades de ganho para a indústria”.
Segundo o pesquisador, a Europa faz grande pressão para que o setor de energia em geral, e biocombustíveis em particular, use no processo produtivo apenas matérias-primas que não concorram com a produção de alimentos. No Brasil, algumas alternativas como o algodão cujo óleo pode ser utilizado para a produção de biodiesel são consideradas tóxicas por possuírem moléculas com efeito nocivo para humanos e animais.
Tal toxicidade inibe a utilização dos coprodutos destas cadeias produtivas, como a torta resultante da prensagem, na alimentação animal. No caso, cita o pesquisador, o caroço do algodão (torta) só pode ser adicionado num percentual de 20% na ração animal, em função da presença de gossipol. Para resolver esse problema, e com isso alavancar a utilização da matéria-prima, a Embrapa Agroenergia desenvolveu um processo que utiliza macrofungos para detoxificar a torta do algodão e possibilitar um melhor aproveitamento na ração animal, além de baratear o seu custo.
Apoio e Políticas Públicas
O pesquisador também falou da necessidade de apoio governamental para que o Brasil avance no contexto da bioeconomia. “O papel da Embrapa nesse sentido tem sido o de prover tanto as soluções para o segmento produtivo embarcar em novos produtos, processos e serviços quanto as informações que possam subsidiar as políticas públicas que eventualmente os governos e indústria queiram para implementar esses novos processos mais sustentáveis”, afirmou.
Como exemplo do que já vem sendo feito no Brasil no âmbito da política, ele citou o Programa Bioeconomia Brasil – Sociobiodiversidade lançado em junho pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), um grupo de estudos em bioeconomia dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC) e ainda o Renovabio, política criada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) que visa dar crédito a quem produzir com mais sustentabilidade.
Como desafios para o futuro, o pesquisador citou, além de políticas que ajudem o setor a se estruturar, a necessidade de se fazer um esforço para a abertura de mercados principalmente no exterior, a resolução de problemas logísticos para possibilitar a movimentação dos produtos da bioeconomia e programas de pesquisa fortes com financiamento, dentro da lógica de interação público-privada.
“O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá papel importante para apoiar as novas indústrias que venham a se estabelecer dentro do contexto da bioeconomia, como foi feito com o petróleo no passado. O Estado vai precisar apoiar essa estruturação para que depois o próprio setor industrial consiga se movimentar sozinho nesse contexto”, concluiu.
Por último, o pesquisador da Embrapa disse acreditar que a matriz energética brasileira poderá ser totalmente substituída por fontes renováveis de energia. “Já estamos nesse movimento. Hoje o setor do biodiesel tem uma capacidade ociosa e ainda pode dobrar a sua produção. O próprio setor já está buscando soluções e alternativas para poder produzir em grande escala e facilmente poderemos substituir a nossa matriz energética por fontes renováveis”.