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Como a qualidade da silagem de milho pode ser afetada pela estiagem?

Escrito por: Fernanda Gomes
Os efeitos da seca tem impacto na economia e na segurança alimentar. Os problemas relacionados à estiagem no Brasil vêm aumentando a cada dia como resultado das mudanças climáticas. As áreas do Centro-Sul do Brasil estão passando neste momento por uma estiagem devastadora, motivo de grande preocupação para o nosso país.


O milho é a cultura mais utilizada para produção de silagem, porque:
Apresenta teor de matéria seca adequado

Elevada concentração de carboidratos solúveis

Baixo poder tampão no momento ideal de corte favorecendo a fermentação do material

Alto potencial produtivo

Flexibilidade de uso (silagem da planta inteira, de grãos, de espigas).

Se a água não for limitante, a qualidade da silagem de milho é consistente. Entretanto, se houver estresse hídrico, a qualidade da silagem de milho pode ser comprometida.
O estado hídrico da planta é determinado por vários fatores, incluindo a quantidade e distribuição das chuvas, a evapotranspiração e a capacidade de retenção de água do solo. A interação entre esses fatores pode afetar substancialmente a produtividade e a composição nutricional do milho para silagem.
O efeito principal e mais direto do estresse hídrico está na redução da produtividade das  lavouras de milho. Entretanto, a qualidade do grão e da silagem de milho também é afetada. A extensão da perda de rendimento e qualidade dependerá do estágio de crescimento e do período de tempo em que a cultura estará sujeita a condições de seca.
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Se o estresse hídrico ocorrer durante os estágios reprodutivos (estágio de espiga) o desenvolvimento do grão será substancialmente afetado.

A falta de água pode reduzir o desenvolvimento e o crescimento do grão dentro da espiga, além de limitar a polinização, prejudicando a produção de pólen e o desenvolvimento dos óvulos da planta.
Além disso, existe uma fase muito crítica para o desenvolvimento da espiga, que vai do início da polinização até 10 a 12 dias posteriores. O endosperma é a estrutura do grão de milho que contém grânulos de amido. A divisão celular das células do endosperma durante essa fase determina a capacidade do acúmulo de amido dentro do grão.
Se ocorrer estresse hídrico e/ou calórico nesta fase, o acúmulo de amido no grão ficará comprometido.
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Outro fator relacionado aos efeitos da seca na qualidade da silagem de milho é decorrente da constituição da parede celular de seus tecidos constituintes, que está diretamente relacionada à digestibilidade, principalmente, da fibra.
Os efeitos de estresses hídrico na composição da parede celular são menos claros do que os efeitos no desenvolvimento do grão. Por um lado, o estresse hídrico durante os estágios vegetativos iniciais pode resultar em comprimentos de entrenós mais curtos como consequência do crescimento ou alongamento celular limitado.
Como os entrenós contêm tecidos altamente lignificados, a concentração de lignina na parede celular pode ser reduzida quando se considera toda a planta de milho. Além disso, a lignificação pode diminuir a nível do tecido quando as plantas de milho são submetidas ao estresse hídrico, pois esse fator afeta a síntese da lignina.

Por outro lado, em situações de estresse hídrico, pode ocorrer menor umidade e níveis mais altos de matéria seca, o que afeta o valor nutricional da silagem e a capacidade de compactação do material a ser ensilado.

A compactação do material ensilado é crucial para elevar a densidade de remoção de oxigênio no interior do silo. Quanto maior for a compactação do material ensilado, melhor será a conservação da massa e menor serão as perdas de matéria seca.
Além disso, ocorre a diminuição da turgescência das folhas (causando o murchamento da planta), maior suscetibilidade a pragas e doenças, além do aumento da senescência das lâminas foliares.

Fonte: Dorn et al., 2008 (The use and pricing of drought-stress corn)

Esse aumento da senescência pode explicar a maior concentração de FDN (Fibra em Detergente Neutro – fração fibrosa dos alimentos) nas lâminas foliares do milho submetido à situação de estresse hídrico encontradas em alguns estudos. Além disso, os entrenós do caule também apresentaram maiores concentrações de FDN, a qual pode estar relacionada à células de menor volume e maior área de superfície causada pela redução da pressão de turgescência dentro das células.
Em síntese, o estresse hídrico compromete além da quantidade de silagem de milho produzida. A qualidade da silagem de milho submetido à condições de estiagem é menor. Esse resultado será percebido somente no momento em que os produtores irão fornecer esse alimento aos seus animais, na abertura dos silos.

Referências bibliográficas disponíveis mediante solicitação.

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