Como as tecnologias nutricionais na produção de suínos afetam o custo logístico da distribuição dos dejetos?
Os benefícios da utilização dos dejetos suínos como fertilizante são amplamente conhecidos e reconhecidos. Dentre esses benefícios, aspectos econômicos como redução nos custos com adubação e aumento da produtividade de pastagens e lavouras se entrelaçam com benefícios ambientais, como reuso dos nutrientes (principalmente nitrogênio, fósforo e potássio) e aumento da microbiota do solo.
Porém, o uso dos dejetos suínos como fertilizantes requer bastante cuidado. É sabido que, à parte de seus efeitos benéficos, existem os efeitos negativos que este pode causar quando usado de forma desordenada.
Impactos ambientais negativos como:
No entanto, nos anos recentes, o desenvolvimento e emprego de tecnologias nutricionais nas dietas de suínos vêm ganhando cada vez mais espaço na produção.
São exemplos de tecnologias nutricionais que, quer seja pelo impacto econômico, representado pela redução dos custos de produção dietéticos, quer seja pela melhor utilização dos nutrientes (e o apelo ambiental que esse exerce), vem se destacando na suinocultura.
Porém, questionamentos referentes ao tamanho da área agrícola que esses dejetos poderão atender a partir da utilização das tecnologias nutricionais; o impacto da utilização dessas tecnologias sobre o custo logístico dos dejetos suínos; ou ainda, a forma com que os equipamentos utilizados para a distribuição dos dejetos interferem nos custos logísticos dessa distribuição, são pouco estudados. De fato, pouco se fala sobre o assunto, o que carece de uma abordagem mais ampla.
A metodologia utilizada |
A partir destes tratamentos, foram coletados parâmetros referentes ao desempenho zootécnico (peso e consumo de ração) bem como o dejeto produzido pelos animais.
Para que o dejeto coletado se assemelhasse ao máximo possível àquele produzido em condições de campo, foram projetadas canaletas de escoamento dos dejetos para cada baia. Estas eram revestidas por lona plástica que terminavam em baldes capazes de estocar todo o dejeto produzido na semana.
Na segunda parte da pesquisa, teve-se a proposição dos modelos matemáticos para o cálculo da distribuição dos dejetos e do custo logístico da distribuição.
É importante ter-se o entendimento do que seriam modelos matemáticos e qual seu objetivo neste contexto.
Da mesma forma podemos atribuir um modelo matemático para o cálculo do custo logístico de distribuição. Modelos matemáticos vêm sendo desenvolvidos nas linhas de pesquisa do LAE com o objetivo de analisar o custo econômico e desempenho ambiental de diferentes sistemas.
Para o cálculo da distribuição dos dejetos, determinou-se, a partir de relatórios produtivos, o que seria uma granja de:
Foi determinado o número de animais em cada categoria (matrizes gestantes, lactantes, animais em creche, recria e terminação) e, em seguida, foi estimada a quantidade de dejeto produzida em cada categoria e no total, de modo a simular o que seria armazenado em uma esterqueira em 120 dias de produção, nas três escalas de produção propostas (Kunz et al. 2005; Martins et al. 2012).
Em seguida, foi simulada como se todo esse dejeto produzido fosse utilizado na fertilização de uma lavoura de milho com meta de produção de 6 t ha-1 (Aguiar et al. 2014).
Os dejetos apresentaram-se mais concentrados |
Os resultados da composição química apresentaram-se superiores aos valores propostos por Oliveira et al. (2001) (N: 2,2 kg t-1, P: 0,6 kg t-1, K 0,9 g kg-1) e Baral et al. (2017) (N: 3,5 g kg-1, P: 0,7 g kg-1, K: 2,2 kg t-1). No entanto, vale ressalvas para a composição de matéria seca apresentada pelos autores, 1,6 e 3,7%, respectivamente, e neste estudo (13%), bem como do tempo de armazenamento.
A concentração de nutrientes está diretamente ligada à quantidade de água presente no dejeto, ou seja, maiores volumes de água usados diluem os nutrientes. Neste estudo, o método de limpeza adotado foi de remoção mecânica das sujidades sem uso de água. Sabendo que a concentração é benéfica pois reduz o volume de dejetos por área de lavoura
(Diesel et al. 2002), visando o atendimento de suas exigências nutricionais em N-P-K, o apelo sobre o uso racional de água na suinocultura é reforçado, uma vez que 30% de todo dejeto suíno produzido corresponde a água oriunda da limpeza (Oliveira 1993).
As tecnologias nutricionais reduziram o conteúdo de N, P e K dos dejetos |
O uso das estratégias nutricionais reduziu, em média, 9,0 kg t-1 as quantidades de N nos dejetos (com máximo de 10,37 kg t-1 para C3), 0,13 kg t-1 de P (com máximo de 0,23 kg t-1 para C4), e 0,69 kg t-1 de K (com máximo de 0,99 kg t-1 para C1) quando comparado aos dejetos oriundos de suínos submetidos a dieta controle (Figura 1).
É sabido que dietas desbalanceadas e o uso excessivo de ingredientes proteicos promovem um aumento na excreção de nutrientes, principalmente N. Com isso, a partir do uso das tecnologias nutricionais e sua atuação sobre a matriz nutricional das dietas, resulte em melhor aproveitamento e redução da eliminação de nutrientes nos dejetos.
As tecnologias nutricionais reduziram a área necessária para a absorção dos dejetos |
De acordo com o estudo, as tecnologias nutricionais apresentaram menor área necessária para sua distribuição e consequentemente, menor distância a ser percorrida para tal (km), quando comparado à dieta controle (Figura 2).
Tal fato é justificado pelo maior nível de N e maior volume de dejetos produzidos pela dieta controle, quando comparado aos outros tratamentos. No entanto, se o propósito for aquele de atender os requerimentos de determinada lavoura, este benefício pode se tornar um desafio, uma vez que o baixo nível de N-P-K contido no dejeto a partir da utilização das tecnologias nutricionais acarretará menor área atendida e maior volume de dejeto a ser utilizado.
Nesta condição, um maior número de viagens será exigido, uma vez que se tem uma área definida a ser fertilizada e um dejeto com menor potencial fertilizante.
O trator é a melhor opção para a distribuição dos dejetos? |
De acordo com os resultados do estudo, o caminhão-tanque apresentou maior custo de distribuição por hora trabalhada (Figura 3). Trazendo para valores atuais (US$ 1,00 = R$ 5,53), o custo de distribuição por hora trabalhada foi de R$ 256,81 e R$ 94,95 para caminhão-tanque e trator-tanque, respectivamente.
No entanto, o menor tempo e número de viagens não foram suficientes para reduzir o custo de transporte e distribuição, sendo até duas vezes maior do que o trator-tanque (Figura 3). Porém, é possível que em distâncias maiores, o custo de distribuição com o caminhão-tanque seja reduzido, tornando-se viável (conforme identificado por Nolan et al. (2012)).
Qual foi nossa conclusão geral? |
A partir dos resultados deste estudo, concluiu-se que a inclusão das tecnologias nutricionais reduziu o volume de dejetos produzidos assim como a liberação de N, P e K nos dejetos. No entanto, a discrepância entre os volumes de dejetos produzidos demonstrados neste estudo àqueles citados na literatura técnico-científica indicam que a conscientização sobre o manejo de recursos hídricos na suinocultura se faz necessária.
O uso das diferentes tecnologias nutricionais reduziu os custos de transporte e distribuição dos dejetos a partir da redução da área necessária para a distribuição dos dejetos bem como a distância percorrida para tal.
No entanto, caso se tenha o interesse de utilizar o dejeto como fertilizante de modo a atender uma determinada área agrícola, serão necessários maiores volumes de dejeto caso este seja
oriundo de suínos submetidos a dietas contendo tecnologias nutricionais.
O caminhão-tanque apresentou o maior custo por hora trabalhada em relação ao trator-tanque, levado principalmente pelos maiores custos com mecanização e combustível. O maior volume de carga e menor número de viagens levados para a disposição dos dejetos não foram suficientes para tornar o sistema caminhão-tanque economicamente mais eficiente do que o sistema trator-tanque nas distâncias sugeridas. No entanto, essa inversão pode ser possível em maiores distâncias.
https://doi.org/10.37496/rbz4920190045
Autores
Rafael Araújo Nacimento1
Augusto Hauber Gameiro2
1Doutorando pelo Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal – Universidade de São Paulo
(LAE-VNP-FMVZ/USP) campus Pirassununga
2Professor Associado ao Departamento de Nutrição e Produção Animal – Universidade de São Paulo (VNP-FMVZ/USP)
e Coordenador do Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE), Campus Pirassununga
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