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Composição do milho na nutrição de frangos de corte

Escrito por: Alex Maiorka - Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Santa Maria (1995), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é professor Titular de Nutrição Animal da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de produção animal, com ênfase nos seguintes temas: nutrição de aves, suínos e cães. , Ana Carolina Britto Doi - Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal do Paraná. Possui experiência na área de nutrição de animais não-ruminantes. Atualmente é estagiária na BRF, atuando com frangos de corte. , Isabella de Camargo Dias - Graduada em Medicina Veterinária na Universidade Tuiuti do Paraná (2014- 2019) e graduada em Zootecnia na Universidade Federal do Paraná (2015-2022). Atualmente é Doutoranda em Ciências Veterinárias na Universidade Federal do Paraná (2020-atual). Atuação em nutrição de não-ruminantes. , Suzete Paes de Melo Neta - Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal do Paraná. Possui experiência na área de nutrição de animais não-ruminantes.
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Composição do milho na nutrição de frangos de corte

Cerca de 70% do milho produzido no mundo é destinado a alimentação animal (EMBRAPA, 2006). O mesmo é o componente energético mais importante na alimentação de frangos de corte, sendo um dos ingredientes com maior inclusão nas dietas, contribuindo com cerca de 65% de energia metabolizável e 20% de proteína bruta (Cowieson, 2004).

Quanto à morfologia, o grão de milho se divide em:

A região do endosperma, vítreo e farináceo, representa a fração de amido e algumas proteínas de armazenamento e corresponde a cerca de 80% do grão.

O endosperma vítreo possui matriz proteica densa e compactada, o que dificulta sua quebra (Wang e Eckohoff, 2000), nesse tipo de endosperma os grânulos de amido estão mais organizados (Figura 2a).

Figura 2a. Endosperma vítreo. Fontes: Holding, D. R., 2014; Sementes biomatrix

Já o endosperma farináceo apresenta matriz menos espessa e de menor densidade, com os grânulos de amido organizados de forma mais dispersa, o que pode facilitar o acesso de enzimas (Huntington, 1997) (Figura 2b).

Figura 2b. Endosperma farináceo. Fontes: Holding, D. R., 2014; Sementes biomatrix

Tanto a digestibilidade do amido quanto da proteína, podem ser comprometidas pelo difícil acesso aos grânulos de amido. A diferença estrutural entre o endosperma farináceo e vítreo, caracterizado principalmente pelo perfil da matriz proteica pode ter um impacto no valor nutricional do grão (Tamagno et al., 2016), sendo que o teor de proteína é maior no endosperma vítreo (Gayral et al., 2015).

Etapas do processamento de grãos como a secagem, podem afetar a solubilidade das proteínas (Peplinski et al.,1994), e na peletização de rações, na qual um dos objetivos é a gelatinização do amido, pode ocorrer a formação de amido retrogradado e reação de Maillard, respostas indesejáveis no processo.

Amido

O amido é um polissacarídeo formado por unidades de glicose, das quais se organizam dentro do grânulo como estruturas denominadas de amilose e amilopectina (Weurding et al., 2003; Isaksen et al., 2011). No milho, a amilose representa aproximadamente 25% do amido, a mesma apresenta cadeia linear de glicose ligadas por ligações do tipo alfa-1-4.

Devido a características estruturais e de ligações, o acesso de enzimas a amilopectina é mais facilitado em comparação a amilose, tornando-a mais digestível (Svihus et al., 2005).

O amido é classificado conforme sua susceptibilidade à hidrólise enzimática em amido rapidamente digestível (ARD), amido lentamente digestível (ALD) e amido resistente (AR).

O ARD é caracterizado por ser prontamente disponível à absorção e é hidrolisado após 20 minutos, o ALD é a fração que sofre hidrólise enzimática no intervalo de 20 a 120 minutos após ingestão, e o AR resiste à digestão enzimática no intestino delgado sendo fermentado pelas bactérias das frações finais do intestino (Englyst & Hudson, 1996; Yue e Waring, 1998).

O AR por sua vez, pode ser dividido em outras categorias:

Digestibilidade do amido

O nível de digestibilidade do amido é controverso, alguns autores encontraram o valor de aproximadamente 85% (Garcia et al., 2003) e outros chegam a 95% (Soto-Salanova et al., 1996). Essa variação pode ocorrer devido a fatores como: variedade cultivar, condições de cultivo da planta e arranjo espacial dos polímeros de amido (Penz Jr., 1998). Contudo, essa diferença dos valores pode ser atribuída à metodologia utilizada.

A digestibilidade do grão de milho pode ser afetada pela relação amilose:amilopectina, devido ao tipo de processamento, a gelatinização e a retrogradação do amido (Bjorck et al.,1994).

Segundo Carré (2004), o milho possui baixa concentração de fatores antinutricionais, como fitato e polissacarídeos não amiláceos (PNAs), e a sua digestibilidade pode ser influenciada pelo tamanho da partícula após a moagem e pela variação estrutural do grânulo. Já Hauschild et al. (2006) mostra que a digestibilidade e absorção dos nutrientes é alterada por micotoxinas, prejudicando o desempenho animal.

 

Estudos demonstram que animais de crescimento rápido são menos eficientes em digerir o amido, isso porque, a voracidade das aves faz com que a digestão e a absorção de nutrientes sejam influenciadas pela taxa de passagem ao longo do trato gastrointestinal (Duke, 1986; Rougière et al., 2009).

Nos estudos de Svihus (2011), o autor afirma que o consumo de ração é inversamente proporcional à digestibilidade, logo quanto maior o consumo de ração, menor será a digestibilidade do amido. Isso se explica por questões fisiológicas na relação entre a quantidade de substrato ingerido pelo animal e o aporte enzimático endógeno insuficiente para hidrólise.

Outro fator que limita a digestão do amido por animais é a quantidade de enzima endógena necessária para um aproveitamento adequado do amido pelo animal, e uma vez que isso não ocorre de maneira eficiente a ave não consegue expressar seu potencial de aproveitamento da energia proveniente da hidrólise do amido (Sklan et al., 2003).

Nas fases finais, a amilase pancreática aumenta cerca de 95% e a ingestão de amido em 200% (Noy e Skan, 1995), podendo gerar uma deficiência nas fases finais, onde se tem muito substrato e pouca enzima endógena. Sakomoto (2009) relatou que a secreção de amilase pancreática pode ser limitada nas fases iniciais e finais, podendo ocorrer déficit na digestibilidade do amido.

Dessa forma os fatores que interferem no aproveitamento do amido são a secreção de amilase e a quantidade de alimentos ingeridos.

Qualidade do milho

A qualidade do milho é importante na formulação para as dietas de frangos de corte pois, além de ser considerado o componente energético de maior destaque nas rações, sua baixa qualidade pode comprometer os índices zootécnicos dos animais.

Resultados apresentados por Leeson et al. (1993) mostraram que há variação no conteúdo energético de diferentes partículas de milho de uma mesma safra. Soto-Salanova et al. (1996) demonstraram que podem ocorrer variações de nutrientes de diferentes lotes de milho.

Segundo estudos de Rodrigues et al. (2003), a digestibilidade dos nutrientes e os valores energéticos das rações variaram de acordo com a composição dos milhos utilizados na formulação em dietas para frangos de corte.

Leal (2012) avaliou as características químicas e físicas do milho com diferentes níveis de contaminação fúngica (fermentados/ardidos) e de grãos íntegros, além dos efeitos do uso destes grãos em dietas para frangos de corte.

Foi observado uma piora na infestação por fungos, no desempenho zootécnico dos animais e os valores de coeficiente de metabolizabilidade de matéria seca e energia metabolizável aparente da dieta foram prejudicados.

A qualidade física do milho, assim como o seu grau de umidade, presença de micotoxinas, percentual de grãos quebrados, ardidos, podres, impurezas, entre outros, pode alterar a composição nutricional do milho e, consequentemente, afetar a qualidade das rações fornecidas aos frangos de corte causando uma diminuição no desempenho destes animais (Silva, et al., 2008).

O uso de milho de má qualidade pode influenciar no final do período produtivo das aves, gerando prejuízos. Stringhini et al. (2000) observou que milhos com diferentes infestações por insetos ou fungos aumentaram a incidência de problemas metabólicos nas aves, causando maior condenação das carcaças no frigorífico.

Referências sob consulta.

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