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Critérios de escolha de alimentos alternativos para rações – Parte II

Escrito por: Caroline Espejo Stanquevis - Zootecnista, doutora em produção e nutrição animal (2018), com ênfase em nutrição de não ruminantes pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde concluiu a graduação (2011) e o mestrado (2014). , Taynara Prestes Perine - Zootecnista, formada pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Doutora em Produção Animal pelo Programa de Pós-Graduação em Zootecnia - PPZ/UEM (2018). Atualmente é Professora do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Nutrição e Produção de Animais Monogástricos, atuando principalmente nos seguintes temas: determinação de exigências nutricionais, formulação de rações e análise de alimentos.
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Critérios de escolha de alimentos alternativos para uso em formulação de rações – Parte II

Na última edição pudemos ver um panorama sobre as possibilidades e porquês do uso de alimentos alternativos na nutrição animal. Agora veremos como proceder para a escolha destes ingredientes.

 

CRITÉRIOS DE ESCOLHA NO USO DE ALIMENTOS ALTERNATIVOS 

Dentre os critérios de escolha para o uso dos alimentos alternativos, alguns fatores são levados em consideração, como: preço do alimento, disponibilidade na região e durante o ano todo, qualidade nutricional, fatores antinutricionais, níveis de inclusão, palatabilidade e digestibilidade, viabilidade econômica, pesquisas, sustentabilidade e limitações das fábricas de ração.

O principal desafio no uso de alimentos alternativos é encontrar alimentos menos onerosos que tenham condições de substituir o milho e o farelo de soja na dieta animal.

Estes alimentos tradicionais se destacam principalmente pela qualidade nutricional e por permitirem altas taxas de inclusão na dieta, enquanto os ingredientes alternativos geralmente possuem uma série de limitações.

Encontrar opções substitutivas ao farelo de soja é o maior anseio, já que a proteína da dieta representa a fração mais cara de uma ração.

É fácil perceber que economicamente a maioria dos coprodutos são menos onerosos do que alimentos tradicionais, entretanto a menor qualidade nutricional, em algumas situações também limita a utilização. 

O preço do produto não está relacionado apenas ao custo de produção, mas principalmente à qualidade de sua composição nutricional e nos benefícios em desempenho que o mesmo pode provocar nos animais.

[cadastrar] O estudo da viabilidade econômica alia características do alimento frente a utilização e valor de mercado. Não adianta o alimento ter preço melhor (menor custo) se a inclusão dele não manter a produção.

Os alimentos alternativos tendem a estar disponível em determinadas regiões, sendo que a disponibilidade de grãos e resíduos industriais em abundância torna-se de grande valor econômico valorizando a cadeia.

No entanto, a sazonalidade de alguns alimentos que podem ser utilizados exige uma maior programação para diversificação da dieta.

Grande extensão territorial do Brasil também dificulta o uso de alguns ingredientes que são produzidos em poucas regiões.

Para um ingrediente ser utilizado na formulação é necessário conhecer suas propriedades físicas e químicas, pois desta forma é possível otimizar a eficiência de utilização dos alimentos pelos animais.

A composição nutricional do alimento irá definir sua classificação para que possa ser utilizado na alimentação animal. Sendo que alimentos com alto teor de fibra (>18%) são considerados alimentos volumosos e concentrado (menos 18% FB), sendo que o concentrado pode ser proteico (mais de 20% de proteína bruta (PB)) ou energético (menos 20%PB).

Deve ser levado em consideração as limitações existentes para o uso de alguns ingredientes, como problemas de toxidade, manuseio e conservação, características essas que influenciam na qualidade nutricional.

São descritos como compostos ou classes de compostos presentes em alimentos de origem vegetal que reduzem o valor nutritivo, interferem na digestibilidade, absorção ou utilização de nutrientes, interferindo na eficiência dos processos biológicos do organismo animal.

O conhecimento da presença de substância nocivas encontrados e sua ação sobre a digestibilidade devem ser estudados a fim de considerar sua utilização – avaliando os limites de inclusão, ou tomar medidas que possam inibir a ação destas substâncias.

Dependem da natureza química do alimento, da espécie animal a que se destina, da fase de criação e dos custos produtivos

Alimentos que afetam o consumo, seja por baixa digestibilidade ou alto teor de fibra, os níveis de substituição são inferiores.

Alguns alimentos, em algumas espécies, sua composição nutricional interfere na taxa de passagem.

O aumento de fibra para animais não ruminantes acarretará aumento dos movimentos peristáltico, aumentando a taxa de passagem e consequentemente diminuindo o contato com enzimas e absorção.

Outros componentes também podem promover aumento da viscosidade da digesta, levando diminuição do contato das enzimas tendendo a reduzir a digestibilidade dos nutrientes e consequentemente diminui a absorção e diminuição da taxa de passagem, logo ocorre redução no consumo de ração e maior disponibilidade de nutrientes para proliferação microbiana.

Conhecer o coeficiente de digestibilidade é de grande importância na hora da tomada de decisão, isso porque ele ajudará na escolha de acordo com a espécie e o tipo de alimentação a ser produzida.

Escolher alimentos ricos em nutrientes sem conhecer sua taxa de digestibilidade pode colocar em risco a eficiência prática da ração. A baixa digestibilidade na nutrição animal pode fazer com que os animais percam peso e apresentem deficiência nutricional mesmo que os nutrientes estejam presentes.

As pesquisas com foco nos ingredientes alternativos têm possibilitado utilizá-los, mantendo o desempenho (com redução de custos), para isso a escolha de um alimento alternativo deve sempre estar pautada em resultados de pesquisas consistentes

Muitos alimentos alternativos atendem bem os critérios de desempenho, bem-estar animal e sustentabilidade do sistema, porém ainda não são viáveis economicamente para produção em escala industrial, como é o caso das farinhas de insetos, que tem sido estudada para a nutrição de aves.

As pesquisas são fundamentais para o desenvolvimento desta cadeia como um todo, buscando analisar a viabilidade econômica da produção ao longo da evolução dos processos de criação dos insetos e industrialização da farinha. 

O melhor aproveitamento do alimento consumido pode tornar a atividade ainda mais sustentável, melhorando o aproveitamento da ração, reduzindo a demanda de recursos para produção de proteína animal e, também a perda de nutrientes através das excretas que podem afetar negativamente o meio ambiente.

Como dito, algumas tecnologias vêm sendo utilizadas para maximizar seu uso por melhorar o aproveitamento, como é o caso das enzimas que melhoram eficiência da digestão, diminuem perdas de nutrientes e, consequentemente diminuem a poluição causada pelo excesso de nutrientes nos dejetos.

No Brasil, a pesquisa com o uso de insetos está sendo impulsionada pelas características sustentáveis, pois demandam de pouca energia e água para sua produção, não competem com outras culturas e são capazes de se transformar em biomassa de alto valor nutricional. 

Os desafios não se limitam ao balanceamento de uma dieta eficiente, o uso de alimentos alternativos também se esbarra às limitações das plantas das fábricas de rações para receber e armazenar estes novos ingredientes, sendo necessários disponibilizar silos específicos, ou espaços (em casos de big bags) e até dosadores (para diferentes fontes de gordura).

Portanto, a escolha de uma nova matéria prima depende também da capacidade da fábrica de ração para receber e armazenar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A busca por alimentos alternativos vem ao encontro da diminuição dos custos da alimentação. 

Novos produtos têm surgido no mercado constantemente e estes precisam da pesquisa científica para que sejam consolidados seus benefícios nutricionais ao animal, sua disponibilidade para o mercado e também, sua viabilidade econômica na formulação e na fábrica de rações. 

Para garantir a conformidade da utilização destes ingredientes, é essencial verificar as recomendações das tabelas nutricionais disponíveis, além da lista de matérias-primas aprovadas como ingredientes, aditivos e veículos para uso na alimentação animal (IN no 110/2020 – MAPA, alterada pela Portaria no 359/2021 -MAPA que vem sendo atualizada constantemente a fim de adicionar novos produtos ou excluir de acordo com a evolução das pesquisas científicas.

Referências sob consulta junto ao autor. [/cadastrar]

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