Nas últimas quatro décadas a cadeia produtiva da carne bovina sofreu uma modernização revolucionária, sustentada por avanços tecnológicos dos sistemas de produção e na organização da cadeia, com claro reflexo na produtividade, na qualidade da carne e, consequentemente, no aumento da competitividade.
Cabe contextualizar que esta evolução esteve sempre calçada em ativos estratégicos encontradas no país, tais como:
- Condições climáticas favoráveis
- Disponibilidade de terras a preços baixos
- Oferta abundante de mão de obra
- Tecnologia de produção adaptada às condições do país
Entre outros, o que determinou, de certa forma, a alavancagem da competitividade deste setor.
Entretanto, percebe-se que na última década houve um movimento crescente de deterioração desses ativos, decorrente de uma forte pressão de custos, que por sua vez deriva de um grande aumento da remuneração e da escassez do fator de produção mão-de-obra, importante valorização das terras e crescentes restrições socioambientais.
Esta nova realidade induz as organizações aos desafios de desenvolverem novos processos, métodos, siste
mas, produtos e serviços que contribuam para promoção da eficiência e competitividade da mencionada cadeia, com preservação do meio ambiente, reduzindo as desigualdades sociais e econômicas.
Estes desafios são de grande complexidade e demandarão uma enorme capacidade de adaptação.
Considerando essas constantes transformações e com o objetivo de subsidiar a definição de agendas estratégicas públicas e privadas, o Centro de Inteligência da Carne Bovina (CICARNE) da Embrapa Gado de Corte, em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), realizou um amplo e complexo estudo sobre o futuro da cadeia produtiva da carne bovina no Brasil para os próximos vinte anos.
Entende-se por megatendências um conjunto de vetores de transformação fortemente interligados e que deverão impactar a referida cadeia produtiva no futuro.
O mercado consumidor se movimentará em duas direções.
- A primeira, mais óbvia, será a do crescimento, oriundo de novos mercados, em especial na Ásia.
- E a segunda, será a sofisticação: cortes diferenciados e produtos de origem denominada irão abrir novas oportunidades de geração de valor ao mercado.
O maior grau de exigência do consumidor será um grande gatilho transformador da atividade. A concorrência com outras fontes de proteína também forçará toda a cadeia a produzir melhor. O bem-estar animal será mandatório, da cria ao abate, por questões econômicas.
A inovação digital será uma das duas maiores forças disruptivas para o mercado nas próximas duas décadas e servirá de força catalisadora no processo de transformação da cadeia, injetando gestão e inteligência na atividade.
A biotecnologia impactará desde o manejo na propriedade até a qualidade do produto final que chegará na mesa dos consumidores. Junto com o digital, a biotecnologia será a grande mola propulsora de transformações.
O impacto social será muito relevante
– muitos pecuaristas não conseguirão se adaptar e deixarão a atividade. A escala será um pilar importante no contexto produtivo.
A aposta é de muito desenvolvimento e sucesso para os bons gestores.
Por fim, cabe mencionar que os estudos de futuros apresentam alto grau de incerteza e complexidade, não sendo possível saber o que de fato vai ocorrer, principalmente quando se trabalha com horizontes temporais distantes. Tendências podem ser alteradas e eventos podem, de forma inusitada, surgir e mudar de forma substancial tudo aquilo que foi desenhado.
Entretanto, é importante sempre olhar para o futuro com o objetivo de subsidiar decisões no presente.
Os desafios estratégicos para a cadeia produtiva da carne bovina em 2040
Guilherme Cunha Malafaia – Pesquisador da Embrapa Gado de Corte