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Dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos

Escrito por: Gabriel Cipriano Rocha - Possui Graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa, Mestrado e Doutorado em Zootecnia, com ênfase em Nutrição de Animais Monogástricos,pela Universidade Federal de Viçosa/University of Illinois at Urbana-Champaign. Pós-doutorado na área de Nutrição Animal e Análise de Alimentos. Atuou como Gerente de vendas da Alltech. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa. , Jansller Luiz Genova - Concluiu o ensino fundamental na Escola Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, MS. Ensino médio e técnico em agropecuária formado pelo Colégio Agrícola de Frederico Westphalen, RS. Zootecnista pela UFSM. Mestrado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE na área de produção e nutrição animal/Zootecnia, com ênfase em Nutrição de Suínos. Doutorado na UNIOESTE na área de produção e nutrição animal/Zootecnia. Realizou Doutorado-sanduíche no Agriculture and Agri-Food Canada (AAFC) sob orientação do pesquisador Luigi Faucitano e estágio supervisionado no AAFC sob orientação do pesquisador Candido Pomar. Atuou como pesquisador em suínos na empresa De Heus Nutrição Animal, com interface Brasil-Holanda. Desenvolve estudos na área de alimentos alternativos, aditivos alimentares e saúde intestinal de suínos. Atualmente é pós-doutorando na UNIOESTE e professor universitário na Faculdade de Ensino Superior de São Miguel do Iguaçu/UNIGUAÇU. , Maykelly Da Silva Gomes - Zootecnista (2019) e mestre (2021) pela Universidade Federal de Viçosa. Doutora em Nutrição e produção de animais monogástricos pela mesma instituição. Atualmente é PhD Student em Animal Science na Universidade de Guelph, no Canadá. Atuou em diversas atividades no decorrer da sua formação acadêmica: Empresa Júnior de Zootecnia (2013 à 2015) como Diretora de Marketing e Diretora Presidente; Duas bolsas de Iniciação Cientifica EPAMIG/FAPEMIG; Estágio na Unidade de Pesquisa Ensino e Extensão em Suinocultura no Departamento de Zootecnia da UFV (2014 à 2017); Discente Representante no Colegiado do Departamento de Zootecnia (jun/2015 a jun/2016); Trabalhou na Central Estudantil de Empresas Juniores e no evento CARREIRAS atuando na área de publicidade; Supervisora Trainee na BRF na Unidade de Uberlândia, no ano de 2018, onde trabalhou em duas Fábricas de Ração da empresa.
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Avanços, implicações e limitações de dietas com baixo teor de proteína bruta na produção de suínos

Introdução

Os programas de alimentação para suínos “de produção” são divididos nas fases de creche, crescimento e terminação (Rostagno et al., 2017). Nesse sentido, o fornecimento dietético total de proteína bruta (PB) deve ser suficiente para atender as exigências de aminoácidos essenciais para cada fase, bem como o nitrogênio (N) necessário para garantir a síntese de aminoácidos não essenciais (van Milgen e Dourmad, 2015).

Assim, é geralmente aceito que as exigências são baseadas na ingestão de um grupo completo de aminoácidos em vez de PB (Millet et al., 2018).

Além disso, o aminoácido Ile também pode ser utilizado em dietas, dependendo do seu valor econômico e do programa de alimentação em questão.

Experimentalmente, níveis ainda menores de PB podem ser alcançados pela suplementação de aminoácidos como His, Leu e Phe.

Contudo, níveis muito baixos de proteína bruta podem prejudicar o desempenho dos suínos devido ao menor conteúdo de aminoácido não essencial da dieta, além da redução da proteína intacta e de compostos bioativos, como os peptídeos e as isoflavonas.

De fato, a redução do nível de PB da dieta, mesmo com a manutenção das relações ideais de aminoácidos essenciais com a Lis, tem mostrado efeitos contraditórios no desempenho de suínos.

Assim, o foco da presente revisão foi entender melhor os avanços e implicações da redução de PB em dietas balanceadas para todos os aminoácidos essenciais e seus efeitos no desempenho de suínos.

Benefícios e limitações do uso de dietas com baixo teor de PB

Com relação às perspectivas zootécnicas:

A eficiência econômica de dietas com baixo teor de proteína bruta pode variar com o preço dos ingredientes e a resposta de desempenho dos suínos.

Os benefícios para o meio ambiente devido à menor excreção de N estão bem estabelecidos.

Dietas com baixo teor de PB balanceadas com aminoácidos essenciais têm sido usadas como parte de uma estratégia para melhorar a saúde intestinal em suínos.

Dietas com baixo teor de PB, devido a menor quantidade de farelo de soja possuem menores quantidades de carboidratos indigeríveis (estaquiose e rafinose) e proteínas antigênicas (glicinina e β-conglicinina), que são considerados fatores antinutricionais.

Dietas com baixo teor de PB, podem reduzir a proliferação de bactérias patogênicas e suas toxinas para o trato gastrointestinal, como amônia e poliaminas.

Considerando que nesses estudos todos os aminoácidos essenciais foram adequadamente fornecidos, há algumas explicações na literatura para os efeitos negativos no desempenho de suínos quando fornecidas dietas com baixo teor de PB.

A síntese de aminoácidos não essenciais a partir dos essenciais pode se tornar um fator limitante no desempenho de suínos alimentados com dietas de baixo teor de proteína bruta (Peng et al., 2016).

Leitões alimentados com uma dieta com baixo teor de PB apresentaram uma redução na concentração sanguínea de aminoácidos não essenciais, em particular, Arg, Gln, Glu e Pro (Zhang et al., 2013).

Assim, alguns dos aminoácidos não essenciais podem se tornar funcionalmente essenciais e, portanto, deficientes em dietas com baixo teor de PB.

Neste caso, a suplementação destes aminoácidos não essenciais pode ser necessária para manter a saúde e o crescimento dos suínos.

 

Metanálise

 

Devido à divergência na literatura e à importância e implicações para estratégias práticas de formulação na suinocultura, uma metanálise foi conduzida para estimar o nível mínimo de PB que não comprometesse o desempenho de crescimento dos suínos.

Além disso, a suplementação com aminoácidos industriais permite uma redução nas fontes proteicas, como o farelo de soja. Este contêm compostos biologicamente ativos, como as isoflavonas, as saponinas e os peptídeos bioativos, que também são importantes para manter o desempenho (Rochell et al., 2015).

Em adição, foi sugerido que os peptídeos bioativos possuem atividades antimicrobianas, antioxidantes e imunomoduladoras (Hou et al., 2017).

Um banco de dados foi construído a partir de 46 publicações (totalizando 60 experimentos). Os principais critérios para a seleção dos artigos foram:

As análises referentes ao estudo de metanálise foram realizadas pelo procedimento NLIMIXED do SAS (SAS. Inc., Cary, NC, EUA), usando um modelo estatístico não linear.

Fase de creche

De acordo com o NRC (2012) e as Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017), uma dieta à base de milho e farelo de soja para suínos de 7 kg de peso corporal contém cerca de 20,5% de PB.

Com base na presente metanálise, foi estimado 18,4% de PB como o ponto de quebra abaixo do qual o GPD seria reduzido. Considerando a eficiência alimentar, o nível estimado foi de 18,3% PB.

O nível mínimo de PB proposto para dietas de leitões em fase de creche está abaixo do nível apresentado no NRC (2012) e nas Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017), indicando que níveis de PB inferiores do que os propostos nas Tabelas podem ser usados para formular dietas nesta fase.

Além disso, também estimamos os níveis mais altos de lisina industrial que poderiam ser suplementados sem comprometer o GPD e a eficiência alimentar, que foram 0,42% e 0,43% de L-lisina, respectivamente.

Isso é equivalente a 0,54% de L-lisina HCl (78,8% de pureza) ou 0,71% de L-lisina sulfato (60,0% de pureza).

O uso da relação Lis DIE:PB também pode ser um bom estimador de até que ponto a PB pode ser reduzida (Millet et al., 2018; Liu et al., 2019).

Considerando a relação Lis DIE:PB, obteve-se que 6,6% é o ponto máximo acima do qual o GPD e eficiência alimentar estariam comprometidos.

Fase de crescimento

Em comparação com a fase de creche, as dietas da fase de crescimento são formuladas com um nível de proteína bruta mais baixo.

Com base no modelo estatístico da presente metanálise:

Para uma fase semelhante, o NRC (2012) e as Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) sugerem 15,7% e 18,9% de PB, respectivamente. O resultado encontrado no presente trabalho se encontra entre esses intervalos de PB.

Para a fase de crescimento, não foi possível estimar um ponto para a suplementação de L-lisina e nem para a relação Lis DIE:PB no desempenho. No entanto, o nível máximo médio de suplementação de L-lisina na fase de crescimento foi de 0,42 que equivale a 0,53% de L-lisina HCl ou 0,70% de L-lisina sulfato.

Fase de terminação

A proteína é um nutriente caro e devido ao aumento do consumo de ração na fase de terminação, a eficiência do uso de nutrientes impacta diretamente nos custos do sistema de produção.

Segundo as Tabelas (NRC, 2012; Rostagno et al., 2017), uma dieta para a primeira fase de terminação (70 a 100kg) pode ser formulada com ≅ 12,3% de PB, enquanto uma dieta para a segunda fase de terminação (100kg até o abate) com ≅ 11,0% de PB, mantendo a concentração de aminoácidos essenciais recomendada.

Esses níveis estão entre os níveis sugeridos no NRC (2012) para suínos na primeira (12,1% de PB) e segunda (10,5% de PB) fase de terminação, provavelmente porque consideramos ambas as fases juntas em nosso modelo.

Por outro lado, os níveis propostos estão abaixo das recomendações das Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) para suínos na fase de terminação.

Assim, níveis de PB inferiores das recomendações das Tabelas Brasileiras (Rostagno et al., 2017) podem ser utilizados sem comprometer o desempenho zootécnico.

Considerando o GPD, é possível suplementar até 0,24% de L-lisina, que equivale à suplementação de 0,30% de L-lisina HCl ou 0,40% de L-lisina sulfato.

Conclusões

 

Em conclusão, há um nível mínimo de proteína bruta que compromete o desempenho dos suínos, mesmo que as dietas sejam balanceadas para todos os aminoácidos essenciais.

Aparentemente, existe um nível mínimo de PB a partir do qual aminoácidos não essenciais, compostos bioativos e outros nutrientes se tornam limitantes.

Com base na metanálise, considerando o GPD e a eficiência alimentar, os níveis mínimos de proteína bruta foram estimados em:

Além disso, estimou-se que os maiores níveis de L-lisina (100% de pureza) a serem suplementados sem comprometer o desempenho foram de 0,42% na fase de creche e 0,24% na fase de terminação. Em adição, um nível de suplementação máximo de L-lisina de 0,42% é sugerido para suínos em crescimento.

Por fim, obteve-se que 6,6% de Lis DIE:PB é a razão acima da qual o GPD e a eficiência alimentar de leitões em fase de creche são comprometidos.

Este report tem como base o artigo “Rocha, G. C., Duarte, M. E., & Kim, S. W. (2022). Advances, Implications, and Limitations of Low-Crude- Protein Diets in Pig Production. Animals, 12(24), 3478.”

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