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Energia metabolizável da farinha de mosca-soldado negra para codornas

Escrito por: Brena Cristine Rosário Silva - Mestre em Zootecnia (2018-2020) pela Universidade Federal de Mato Grosso, com ênfase em Nutrição e Alimentação Animal. Bacharel em Zootecnia (2013-2017) e Técnica em Agropecuária (2010-2012) pelo Instituto Federal Goiano. Atualmente é doutoranda em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá e membro do Grupo de Estudos em Nutrição de Codornas (GENCO). Tem experiência na área de Zootecnia, atuando principalmente nos seguintes temas: Avaliação de alimentos para animais, Avicultura de corte e postura, Coturnicultura, Produção e nutrição de não ruminantes, Sistematização de dados e meta-análise. , Cheila Roberta Lehnen - Possui graduação em Zootecnia (2006), mestrado em Zootecnia (2009) e doutorado em Zootecnia (2012) pela Universidade Federal de Santa Maria. Desde 2013 é Professora Adjunta do Departamento de Zootecnia na Universidade Estadual de Ponta Grossa em Ponta Grossa/PR. Em nível de graduação ministra as disciplinas de Suinocultura e nutrição de não ruminantes e em pós-graduação, as disciplinas Tópicos avançados em suinocultura, Sistematização e meta-análise de dados e Nutrição e metabolismo em Não ruminantes. Coordenadora do Curso de Zootecnia na Universidade Estadual de Ponta Grossa (desde 2020) , atualmente atua como vice coordenadora da Programa de Pós -graduação em Zootecnia, desde 2016 é membro da Comissão de Ética no Uso de Animais/UEPG. Líder do grupo de pesquisa Biologia integrativa e modelagem na produção de não ruminantes/CNPq. Tem experiência na área de nutrição de monogástricos, com ênfase em modelagem animal e sistematização de bases bibliográficas, aditivos para leitões, gestão de informações e de dados de granjas. , Simara Márcia Marcato - Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (1993), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Pelotas (1997) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2007). Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual de Maringá. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Criação de Animais, atuando principalmente nos seguintes temas: produção de suínos, avicultura, frango de corte e modelagem de frangos de corte (curvas de crescimento de frango de corte)
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Uma abordagem meta-analítica de equações de predição da energia metabolizável da farinha de mosca-soldado negra (Hermetia illucens) para codornas japonesas

A principal preocupação em relação ao futuro da alimentação e da agricultura é se os sistemas globais serão capazes de alimentar a humanidade de forma sustentável até 2050, ao mesmo tempo em que acomodam a demanda por commodities agrícolas.

Nos últimos anos, os insetos foram identificados como uma promissora fonte de proteína e energia para alimentação animal.

Vários insetos têm sido testados como ingredientes na alimentação das aves, sendo a larvas de mosca-soldado negra (Hermetia illucens) uma das espécies mais promissoras. Seu alto potencial como ingrediente alternativo está relacionado à possibilidade de controlar o seu ciclo de vida e, assim, cria-las em massa. Além disso, as larvas de mosca-soldado negra possuem grandes quantidades de proteína, lipídeos e aminoácidos essenciais como, por exemplo, metionina e lisina.

Todavia, informações confiáveis sobre o teor de nutrientes e a digestibilidade da farinha de larvas de mosca-soldado negra são essenciais para a formulação de dietas precisas. Ensaios in vivo para determinar a digestibilidade da farinha de mosca-soldado negra são caros, demorados e impraticáveis para fábricas de alimento para animais obterem estimativas precisas das fontes de farinhas de insetos usadas na formulação de rações. [cadastrar]

A predição do conteúdo de energia metabolizável aparente (EMA) de um ingrediente com base na composição química pode ser um método útil e prático para a obtenção de valores precisos para a formulação de dietas, e várias equações de predição para vários ingredientes já foram publicados.

Equações de predição acuradas e precisas podem ser obtidas por meio da sistematização de achados quantitativos de vários estudos, denominada meta-análise.

A meta-análise se baseia na síntese de dados de vários estudos publicados para a construção de um modelo estatístico que melhor explique as observações. Assim, a meta-análise pode produzir equações de predição mais precisas para calcular os valores de EMA da farinha de mosca-soldado negra.

Pensando nisso, o grupo de estudos em nutrição de codornas (GENCO) da Universidade Estadual de Maringá juntamente com o grupo de estudos em biologia integrativa e modelagem na produção de não ruminantes (BIOMODEL) da Universidade Estadual de Ponta Grossa realizaram um estudo meta-analítico a fim de determinar a composição química e os coeficientes de digestibilidade da farinha de larvas de mosca-soldado negra para codornas japonesas.

A construção da base de dados iniciou pela pesquisa bibliográfica utilizando as palavras-chave: quail”, “insect” e “nutrient digestibility” nas bases indexadas Scielo, Science Direct, Scopus e Web of Science.

A base de dados ocupou uma planilha com 32 linhas (tratamentos) e 28 colunas (variáveis exploratórias), contendo seis artigos publicados entre 2016 e 2022.

Os estudos incluídos na base de dados totalizaram 518 codornas japonesas, cuja idade média inicial foi de 23 dias e a idade média final foi de 35 dias.

A maioria dos estudos (60%) utilizou codornas fêmeas e 40% envolveram lotes mistos. O método de coleta total de excretas foi utilizado em todos os artigos. O nível médio de inclusão da farinha de mosca-soldado negra foi de 12,5%.

Uma seleção backward de preditores foi conduzida usando o procedimento REG no SAS versão 9.4, em que os preditores significativos foram mantidos nos modelos enquanto os não significativos foram removidos.

Os teores de proteína bruta (52,9±6,38) e extrato etéreo (20,8±10,0) da farinha de mosca-soldado negra apresentaram grande variabilidade (Tabela 1). Esses resultados podem ser contextualizados dentro da grande variabilidade dos achados relatados na literatura.

Tabela 1. Composição química (com base na matéria seca) da farinha de mosca-soldado negra. Dados de 32 amostras utilizadas na metaanálise.

A heterogeneidade na composição química da farinha de mosca-soldado negra pode ocorrer em função:

A quantidade de proteína bruta da farinha de mosca-soldado negra é superior ao farelo de soja (50,7%, na matéria seca). Os insetos possuem maiores concentrações e um melhor perfil de aminoácidos em comparação as fontes de proteínas tradicionais.

Os teores de lisina e metionina na farinha de mosca-soldado negra são maiores que os teores do farelo de soja e do glúten de milho. Esses resultados indicam que a farinha de mosca-soldado negra pode ser utilizada como substituta ao farelo de soja em dietas de aves.

Outro componente importante na composição da mosca-soldado negra é a fibra, composta principalmente por quitina. A quitina é um polissacarídeo naturalmente presente no exoesqueleto dos insetos e estudos recentes demostraram que a quitina e seus derivados têm um efeito imunomodulador sobre o sistema imune das aves.

Além disso, atividades antibacteriana, antifúngica e antiviral da quitina já foram observadas em vários estudos.

Os minerais têm papel fundamental no valor nutricional da ração para aves. Embora o foco da utilização da farinha de mosca-soldado negra seja devido seu teor de proteína e aminoácidos, são encontrados também teores significativos de cálcio e fósforo na farinha de inseto. No entanto, são necessárias mais investigações para estimar a disponibilidade desses minerais.

Os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes e EMA (Tabela 2) sugerem que a farinha de moscasoldado negra é uma boa fonte de nutrientes e energia. A farinha de mosca-soldado negra apresentou valores de EMA similares ao milho (3.784 kcal/kg, na matéria seca), mesmo sendo caracterizada como um alimento proteico. Este aspecto pode tornar a farinha de mosca-soldado negra atrativa e funcional para formulação de rações para codornas Japonesas.

Com base nas informações sobre a composição química da farinha de mosca-soldado negra obtidos na meta-análise dos dados, quatro equações de predição da EMA foram geradas (Tabela 3).

Tabela 3. Equações (com base na matéria seca) para predição da energia metabolizável aparente (EMA) da farinha de mosca-soldado negra para codornas Japonesas

A equação com maior número de variáveis (EMA1=-32.712+2,99EB+243,78PB+208,47 EE+338,55MM) apresentou melhor ajuste (R2=0,95), indicando que 95% da variação o teor de EMA da farinha de mosca-soldado negra pode ser explicado pelos teores de energia bruta, proteína bruta, extrato etéreo e matéria mineral.

A equação com três variáveis (EMA2=-14.899+2,03EB+93,61PB+109,74EE) também pode ser utilizada para predizer conteúdo de EMA da farinha de mosca-soldado negra, embora apresente um menor coeficiente de determinação (R2=0,80).

Equações compostas por até quatro parâmetros de composição química requerem um menor tempo de análise e são fáceis e baratas de executar à campo.

As equações EMA3=3.662+0,12EB-89,39MM e EMA4=4.303-85,52MM não são indicadas para estimar o conteúdo de EMA da farinha de larvas de mosca-soldado negra pois apresentam coeficiente de determinação baixo (R2=0,27 e 0,24, respectivamente).

Em conclusão, foram desenvolvidas equações de predição da EMA a partir da composição química da farinha de mosca-soldado negra. Essas equações podem ser usadas por nutricionistas para prever com maior precisão o conteúdo de EMA em várias fontes de farinha de mosca-soldado negra para tornar a formulação de dietas mais assertivas.

Referências sob consulta

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