Não tem mobilidade (nascem e morrem no mesmo lugar), comem muito mal, consomem muita energia, reproduzem continuamente, trabalham exaustivamente e vivem pouco.
Assim são estas células escravas, mas essenciais na nutrição animal e humana, conhecidas como enterócitos.
No entanto, nenhuma outra célula do corpo animal conta com tantos auxílios internos e externos como elas.
A grande função dos enterócitos é a digestão e absorção dos nutrientes. Eles têm papel claro neste sentido, garantindo a absorção de íons, água, nutrientes, vitaminas e absorção de sais biliares não conjugados.
Eles trabalham em cooperação íntima com as células do tecido linfóide associado à mucosa, informando o que deve ou não ser considerado reativo em relação à dieta e antígenos microbianos.
Os enterócitos são impulsionados a trabalhar e serem produtivos com tudo que entra pelo bico da aves, e não podem reclamar, nem descansar. O trato digestório (TD) das aves é comparativamente mais curto que de outros animais e com trânsito intestinal mais rápido.
→ Ele é internamente e integralmente revestido por uma camada contínua destes enterócitos que se mantêm fortemente unidos entre si através de um conjunto de proteínas, formando o tecido epitelial da mucosa intestinal.
Estas células têm intensa atividade metabólica mesmo antes do nascimento dos pintos; atividade esta que se acentua com seu nascimento. Como elas são confinadas neste espaço cilíndrico por camadas de vários tecidos externos (inclusive muscular), sua intensa multiplicação leva a formação de longas pregas ou vilosidades pra dentro da luz intestinal.
Os enterócitos da base (cripta) empurram seus irmãos mais fracos para o ápice das vilosidades onde estes ficam mais vulneráveis as intempéries do que acontece no TD.
Para otimização da multiplicação e recuperação tecidual, os irmãos mais novos dos enterócitos recebem partes das que estão morrendo, como se estivessem numa linha de montagem contínua.
Uma das grandes proteções da mucosa intestinal é dada pelo revestimento por uma camada de muco semelhante a um gel, formada a partir de glicoproteína mucina (glicocalix) secretada pelas células caliciformes. Esta camada serve como primeira barreira a penetração de microrganismos e defesa contra infecção.
Caso algum microrganismo consiga passar por esta barreira, estas mesmas células de defesa, que se encontram na circulação periférica e lâmina própria, são recrutadas para o local onde elas lutam pra matar os invasores usando uma variedade de estratégias, como a fagocitose.
O TD das aves tem contato com uma variedade de microorganismos imediatamente após eclosão e, a partir daí, torna-se num habitat permanente para um complexo sistema conhecido como microbioma, consistindo primariamente por bactérias anaeróbias ou facultativas.
Quando esta microbiota é composta por microrganismos que trazem efeito benéfico ao hospedeiro, ela é denominada de Probiótica
O papel da microbiota no TD e saúde geral do homem e animais ficou mais claro com os experimentos realizados com animais livres de germes (germ free) e com a utilização de ferramenta genómica que possibilitou a caracterização e comprovação da existência de milhões de microrganismos não cultiváveis neste ambiente. A tal ponto que, sabe-se hoje que temos maior número de bactérias no TD que todas as células somáticas do corpo.
A microbiota é crucial no desenvolvimento da imunidade intestinal e geral (secreção de IgA e IgG), e da atividade enzimática.
Além da mucina que recobre a mucosa intestinal, os enterócitos tem receptores para inúmeras bactérias comensais formando uma segunda barreira que contribui para a sua integridade.
Elas também estimulam a produção de mucina e excluem outras bactérias patogênicas por vários mecanismos – a maioria ainda não conhecida -, como a produção de peptídeos antimicrobianos, bacteriocinas e outros metabólitos.
Os resultados têm demonstrado inúmeras vantagens para a produção avícola e para a melhoria da qualidade dos produtos que chegam as mesas dos consumidores.
Algumas características são desejadas para os Probióticos, entre elas: que as bactérias tenham origem no mesmo hospedeiro; que sejam GRAS (Generally Reconized As Safe), que resistam ao ácido gástrico e à bílis; que possam aderir ao epitélio ou muco; que persistam no TD; que produzam compostos inibitórios para bactérias patogênicas e de interesse em saúde publica humana; que modulem o sistema imune e que regulem o microbioma intestinal.
A dieta tem enorme impacto no microbioma intestinal das aves.
Quando funcionam como alimento para as bactérias Probióticas, são denominados de Prebióticos. Muitas bactérias hidrolisam polissarideos que não foram digeridos (galacto, fruto, manano, etc.) e produzem ácidos graxos voláteis de cadeia curta (AGCCs), principalmente acetato, lactatos, proprionato e butirato, que reduzem o pH intestinal atuando na redução de espécies bacterianas indesejáveis.
Para a associação sinérgica entre Probióticos e Prebióticos, dá-se o nome de Simbiótico. A aplicação destes compostos é indicada o mais cedo possível no desenvolvimento das aves.
Existem inúmeras publicações mostrando que o uso de Simbióticos tem função na melhoria do rendimento zootécnico, particularmente, na criação de frangos de corte.