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O Mercado de ração animal e as perspectivas para 2022 – Ariovaldo Zani

Escrito por: Ariovaldo Zani - Medico Veterinário e CEO do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
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O Mercado de ração animal e as perspectivas para 2022 

Entrevista com Ariovaldo Zani CEO do Sindirações

O mercado de rações é um importante termômetro para as projeções da produção de proteína animal. Para falar sobre essa indústria tão importante e basilar para a produtividade animal, convidamos Ariovaldo Zani, CEO do Sindirações (Sindicato Nacional da indústria de Alimentação Animal) e presidente do CBNA (Colégio Brasileiro de Nutrição Animal).

Nesta entrevista, Ariovaldo Zani fala com muita propriedade sobre o mercado de rações, e explica de forma muito didática e realista as oscilações e a dinâmica de preço dos principais insumos para alimentação animal e os efeitos do COVID para a indústria de rações

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Dados do Sindirações demonstram que o setor de produção de ração animal continua crescendo, e registrou um avanço de 5,2% no primeiro semestre do ano comparado a 2020.

Quais as perspectivas para o próximo ano?

Ariovaldo Zani: Sim, o otimismo sempre permanece porque a alimentação animal é um elo essencial na cadeia de produção de proteína animal. De maneira geral, tanto no consumo doméstico, quanto internacional, as pessoas continuarão consumindo proteína animal, com uma possibilidade de diminuição do ritmo no segundo semestre de 2021, que pode se acentuar no primeiro semestre de 2022 por algumas razões que explicarei a seguir.

Os preços dos principais grãos, milho e soja, atravessaram um período com preço bastante inflacionado em nível global, por uma série de fatores, inclusive climáticos. No Brasil, esse problema se acentuou por questões cambiais, desvalorização do real frente ao dólar, o que tornou o custo desses insumos praticamente proibitivo.

Desde outubro estamos passando por um momento de certo alívio no custo, no entanto, o patamar de preços em que se posicionaram o milho e o farelo de soja continua atrapalhando bastante a vida do produtor. Isso porque ele tem dificuldade de repassar este aumento ao consumidor, que também está em dificuldade por conta do desemprego, perda de renda e uma série de fatores.
Quando eu falo em acentuamento das dificuldades no primeiro semestre de 2022, me refiro à escassez de insumos importados, como:

Aditivos

Vitaminas

Aminoácidos

E outras especialidades de química fina utilizadas na alimentação animal, cujos fornecedores se concentram nos Estados Unidos, Europa e, principalmente, na China e Índia.

O compromisso ambiental firmado na COP 26, de reduzir já para o próximo ano a matriz de aquecimento global, leva a um eixo de produção diferenciada que eleva os custos de produção. Falando do Brasil, há um certo estoque desses insumos para atender a indústria de produção animal nos próximos meses, até findar o ano. Porém, para o próximo ano há uma incógnita na disponibilidade desses insumos e a perspectiva é pessimista, por conta da escassez que deve ocorrer.

Globalmente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta para um crescimento econômico menor em 2022. Os consumidores brasileiros continuarão enfrentando dificuldades econômicas, cenário que ainda pode ser agravado pelo advento das eleições presidenciais.
No mercado internacional, estamos acompanhando algumas dificuldades como :

Portanto, é esperado que haja sim um crescimento no próximo ano, porém, menor do que o alçando neste ano de 2021.
Desde 2018 quando o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China (Ministry of Agriculture and Rural Affairs – MARA) confirmou o primeiro caso de Peste Suína Africana (PSA) na província de Liaoning, a China tenta combater a PSA. De acordo com o MARA, em 2021 já foram confirmados 11 casos em 8 províncias, sendo o último em 9 de novembro.[registrados]

 

O Sindirações já tem um número para o crescimento do setor de rações em 2021?

O primeiro semestre ultrapassou 5% de crescimento. Para o segundo semestre tem-se a estimativa, com previsões baseadas na indústria de proteína animal, de um crescimento de 4 a 4,5%. Então, na contabilidade final, o crescimento deve ficar na casa dos 4% no ano.

 

Como você vê esse movimento de busca de novos ingredientes para a alimentação animal? Tem alguma tendência que você acredita ser promissora a médio prazo?

De fato, a disputa estabelecida entre a agricultura alimentar e energética é um fator muito relevante. Há algum tempo os grãos tradicionalmente utilizados na alimentação animal e humana, como milho e soja, têm encontrado uma outra destinação, que é a produção de energia, com os combustíveis renováveis, mais especificamente o etanol de milho e o biodiesel de soja.

Evidentemente, se temos mais de um competidor no mercado, o produto tende a encarecer, a inflacionar. Isso já ocorreu nos Estados Unidos com o milho, que custava em torno de U$$2,00 – 2,50 o bushel no início dos anos 2000.

Porém, quando a política climática americana foi colocada em prática, além da adição crescente de etanol de milho à gasolina, ocorreu também uma disparada no preço do milho, que se estabeleceu num patamar que é o dobro do valor praticado anteriormente.
No Brasil ocorre uma situação parecida. E os setores privado e acadêmico têm buscado alternativas, entre as quais os cereais de inverno. Especialmente na região Sul, tem-se buscado dinamizar e aumentar a área plantada de cereais como:

Que são culturas que podem substituir, em parte, o milho e a soja.

Porém, a dieta deve ser adaptada à inclusão desses grãos. Além disso, deve-se observar o custo de oportunidade, disponibilidade e investimentos, como os silos para o armazenamento. Não é uma decisão simples, porém, está caminhando para se tornar uma alternativa viável.

Por outro lado, a produção do etanol de milho gera um subproduto, ou produto derivado, que é o DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis) ou DDG (grãos secos de destilaria), que tem um coeficiente nutricional apropriado.

Dependendo da sua formulação, ele pode ser mais proteico ou energético. De uso mais rápido se for mais úmido, ou desidratado/ seco, que pode enfrentar longas distâncias de distribuição para atender as granjas e confinamentos. Então, é um produto que também pode substituir parcialmente o farelo de soja e o milho das dietas.

Algumas novidades são relativas à quebra de barreiras com o consumo de farinhas de insetos, que já são muito aceitas no oriente e já começam a ser acrescentadas no ocidente. É uma alternativa recente, ainda tem a questão da pequena oferta do insumo no mercado, mas é um ingrediente que tende a crescer no mercado.
Principalmente, pelas questões do aquecimento global e sustentabilidade dos insumos utilizados, que é um assunto complexo que merece abordagem e argumentos específicos.

Afora o que eu listei, têm-se também os aditivos, que já são respaldados por estudos robustos, que demonstraram sua eficácia. Determinados aditivos, como enzimas, minerais proteinados e aminoácidos sintéticos podem substituir parcialmente os grãos na dieta, mantendo o desempenho zootécnico dos animais.

Além disso, o uso desses aditivos auxilia na mitigação de danos ambientais, como na redução da descarga ambiental, tanto de matéria orgânica despejada no solo, que leva à eutrofização e a nitrificação; como na redução da emissão dos gases de efeito estufa.

 

Nos últimos anos está ocorrendo um crescimento verticalizado da piscicultura, com destaque para a produção de tilápias. Quais as perspectivas para esse setor e os principais desafios que os piscicultores poderão enfrentar para tornar o Brasil um expoente dessa atividade nos próximos anos?

 

De fato, a aquicultura brasileira, tem se desenvolvido em uma velocidade intensa e é constituída pela:
Piscicultura (criação de peixes)
Carcinicultura (camarão)
Malacocultura (moluscos)

Por conta da partida de uma base pequena, o crescimento percentual é na casa de dois dígitos já há algum tempo. Além disso, os produtores aproveitam as grandes oportunidades relacionadas às condições naturais brasileiras, como a quantidade de água doce disponível no Brasil e o conhecimento em nutrição já bem estabelecido por conta da evolução da produção de outras espécies, como a avícola e a suinícola.

Inclusive o grande salto que a piscicultura deu nos últimos tempos foi por mimetizar o sistema de integração, que é empregado com muito sucesso na avicultura e suinocultura, principalmente, com as cooperativas se somando aos produtores independentes.

Além disso, há também influência e incentivo por ser uma proteína que goza do status de muito saudável, além de a própria FAO incentivar a piscicultura pela exaustão dos bolsões de pesca naturais, indicando que a aquicultura é a atividade que vai compensar o déficit global de proteína animal para alimentação humana, projetado para as próximas décadas.

 

DESAFIOS

No Brasil, os principais são relacionados à questão de licenciamento ambiental. Há a necessidade de desenvolver projetos e estabelecer linhas/áreas de produção respeitando as regras e a conservação do meio ambiente.

No entanto, a percepção é de que havia muito rigor, um certo exagero, tanto na avaliação do que deveria ser feito, quanto no tempo de resposta sobre se aquele empreendimento poderia, ou não, ser estabelecido. O que se percebe, ultimamente, é que há um certo movimento em que esses aspectos negativos e burocráticos têm sido simplificados e resolvidos, o que favorece o desenvolvimento da atividade.

Em relação à carcinicultura, o Brasil foi um grande produtor no início dos anos 2000 e praticamente exportava toda a produção. Lamentavelmente, por conta de protecionismo e clientes internacionais, países importadores tomaram algumas atitudes que atrapalharam a entrada do produto brasileiro. Isso retardou o desenvolvimento da atividade. Em seguida, o setor de carcinicultura sofreu com problemas sanitários, como infecções que acabam acontecendo.

Todos esses percalços levaram à protelação de uma série de investimentos em aplicação de práticas mais modernas de produção intensiva. Um ponto chave para o atraso no desenvolvimento foi o fato de o produto ser quase que exclusivamente comercializado no mercado interno. Considerando que é um produto com preço razoável, não é toda a sociedade que pode consumir, mas apenas uma parte dela.
A carcinicultura tem um potencial enorme, mas demanda a convergência de uma série de políticas públicas que possam favorecer e incentivar a produção. E também retomar, ou abrir (ação diplomática e comercial) mercados para a destinação do produto brasileiro, uma vez que temos concorrentes próximos, como o Equador e Peru, que são muito bem sucedidos na exportação.

Vale destacar o potencial brasileiro, com um litoral imenso, de produzir em tanques-rede escavados em regiões litorâneas. Por todos os predicados, a aquicultura é uma atividade que deve continuar com um crescimento invejável.

 

Em 2020 houve grande movimentação na indústria pet food, com empresas líderes de mercado fazendo aquisições importantes. A pandemia teve influência na mudança de consumo dos tutores ou o crescimento do setor já era esperado?

O setor de pet food vinha crescendo por conta de uma modificação do comportamento global das pessoas, com alteração dos costumes e do modo de vida das gerações mais novas. A pandemia acabou forçando o isolamento social, com as pessoas tendo que ficar confinadas nas suas residências, muitas delas já tinham seus animais de estimação e houve ainda um movimento interessante de adoção e compra de animais de companhia.

Assim, as pessoas passando boa parte do tempo interagindo com seus pets, começaram a perceber suas necessidades e o resultado foi um exercício de posse responsável mais intenso e acentuado.

Por conta da praticidade e do trabalho home office, houve um movimento de adquirir produtos semiprontos para a alimentação humana, com a compra via e-commerce do alimento industrializado com entrega por delivery. Esse movimento se expandiu da alimentação humana para o setor pet. Então, a pandemia contribuiu sim para o aumento da demanda do alimento industrializado para cães e gatos.

Em 2021, embora o consumidor continue comprando o alimento industrializado, se percebe um movimento de busca por produtos mais em conta, mais baratos por conta do cenário econômico mais fragilizado, com redução da renda e interrupção e posterior retomada, mas com valor menor, do auxílio emergencial.

Mas, outra vez, é um segmento que também no ano de 2021 vai ter um crescimento invejável, que deve ser continuado nos próximos anos, independente de pandemia ou não. Pois, a relação entre o tutor e suas mascotes se intensificou e é o que se vê no dia a dia.

 

Tem números de mercado para ração de Pets?

Este ano de 2021 o mercado de rações para pets deve ficar entre 5 a 7% de crescimento, que é um número razoável, muito parecido com o que se deu em 2020.

 

A pecuária de corte sofreu um grande impacto com os atrasos para o retorno das exportações à China após a confirmação de dois casos de encefalopatia espongiforme bovina atípicas, mais conhecida como doença da vaca louca. Quais serão os impactos da quebra de fluxo de exportações de carne bovina para o setor de produção de ração animal?

Veja bem, a demanda de ração para gado de corte brasileiro tem lá sua participação. Mas, por conta da atividade da pecuária brasileira ser notadamente extensiva, a indústria de nutrição animal acaba sofrendo menos, pois ela está mais voltada à tecnologia dos animais confinados e semiconfinados.

Isso, considerando os núcleos, pré-mixes e concentrados que vão ser misturados aos volumosos.

É UMA REAÇÃO EM CADEIA…
Se ocorre um embargo dessa ordem, de um cliente importante como a China, o produto que deixa de alcançar um destino pretendido tem que ser colocado em outro parque consumidor.

Se há dificuldade na realocação, ocorre o aumento dos estoques e isso acaba afetando o interesse em aumentar a produção.

Então, o mercado começa a perceber sinais como a queda no preço da arroba por haver mais oferta do produto que o planejado. Além disso, outra vez, isso se somou a um momento que aflige toda a produção, e não só a pecuária de corte, que é o alto custo da produção, do milho, da soja, dos aditivos e dos outros insumos que são utilizados, principalmente do confinamento, que são importados e pagos em dólar. Então, nesse ponto o câmbio também afeta.


Nesse cenário, quando se compara a relação entre o preço da arroba que o produtor vai alcançar ao vender o produto final e o valor do bezerro de reposição que será confinado e que está inflacionado, ela não é propícia para estimular o confinamento.

Então, é possível que nesse segundo giro que estamos passando há algum tempo no confinamento, ele sofra um esfriamento de interesse e uma diminuição de ritmo.

Levando-se em conta o ano de 2021, vai haver crescimento, mas bem menor do que se deu no primeiro semestre.

Portanto, de fato, esse episódio China acaba afetando razoavelmente a dinâmica da cadeia produtiva e uma reação em cadeia que retrocede e chega nos insumos que são utilizados, inclusive no produto mais tecnificado que a nutrição oferece à pecuária de corte, que são os núcleos, os concentrados, os aditivos. [/registrados]

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