As tabelas de referência nutricional representam a base teórica para formulações de rações para suínos, indicando níveis mínimos de requerimentos nutricionais (NRC, 2012), ou valores para melhor custo-benefício em formulações de rações (Rostagno et al., 2017).
No entanto, considerando os avanços significativos obtidos nas últimas décadas pela indústria de suínos, quanto a prolificidade de matrizes e taxa de crescimento dos animais, pode-se supor que os níveis de referência para alguns minerais e vitaminas podem estar desatualizados.
Desta forma inicia-se uma excelente revisão do grupo de investigadores da Universidade Estadual de Londrina/Brasil (Dalto & Silva, 2020), sobre uma pesquisa ampla realizada em 15 empresas provedoras de alimentos completos/premixes/núcleos e 15 empresas cooperativas e agroindústrias deste país.
De acordo com os investigadores, a suinocultura brasileira agrega margem significativa de segurança para a suplementação de minerais e vitaminas, porém existe uma grande variação marginal entre as empresas, especialmente para vitaminas solúveis em água, o que reflete um conhecimento limitado sobre a disponibilidade destes micronutrientes para a suplementação na nutrição de suínos em suas diversas fases.
De fato, existe uma série de estratégias nutricionais que podem incrementar o aproveitamento de níveis de micronutrientes, como o uso de doses elevadas de fitase para gerar uma ruptura importante do anel de fitato incrementando o aproveitamento de minerais no alimento.
Esta estratégia é uma ação comumente praticada em pesquisas de nutrição humana, onde já há algum tempo, adotando ratos como modelo biológico, foi possível determinar que dietas enriquecidas de fitato (por exemplo, produtos a base de trigo) podem interferir significativamente (P<0,05) na absorção de Ca, Se, Zn, Cu entre outros minerais. |
Estas ocorrências são ainda maiores quando mais próximo do real requerimento dos animais, as dietas foram formuladas, ou seja, quanto menor for a “margem de segurança” aplicada, maior a importância de uma visão mais ampla de várias estratégias (Saha et al., 1994).
Sendo assim, existe a necessidade de atentarmos para ações cada vez mais sofisticadas dentro da estrutura de formulação das dietas para os animais de produção.
Seguindo este cenário, trabalhamos em uma publicação recentemente quanto a estratégias nutricionais para o aproveitamento de fontes de microminerais (Kim et al., 2018). Neste texto, avaliamos o status do ferro em leitões e impacto da superdosagem de fitase no fisiologia deste nutriente.
Os autores descrevem que há muito tempo se considerava que uma suplementação de ferro injetável dentro de 48-72 h após o nascimento atenderia de forma suficiente a necessidade de ferro para leitões de rápido crescimento (Figura 01 A), sendo que a prevalência de deficiência de ferro, e portanto, a anemia de animais criados em baias, não seria um dos principais problemas nos dias atuais.
Portanto, trabalhar a homeostase do ferro através da regulação de uma série de ações incluindo possíveis estratégias nutricionais para melhorar a sua capacidade de absorção, seriam etapas fundamentais a serem consideradas.
Os autores descrevem que o uso de doses elevadas de fitase gerou um padrão de ruptura elevado do anel de fitato, incrementando a disponibilidade de Fe em pH elevados do TGI (onde ocorre a absorção destes nutrientes), elevando, entre outros cenários, a taxa de hematócrito destes animais (Figura 01 C).
Em um outro trabalho, publicado por Stewart et al. (2018), avaliou-se a relação do uso de Superdosing de fitase em cachaços (machos reprodutores) em período de produção com relação à melhora na concentração de sêmen e eficiência reprodutiva destes animais.
Para isso, os autores utilizam trinta cachaços (9 a 12 meses de idade, PIC 280) com um programa alimentar de 2,5 kg/d de uma dieta comercial a base de milho e farelo de soja contendo 500 FTU/kg de uma E.coli fitase comercial, formulada para liberar 0,15% de P.disp. e 0,16% de Ca.
Os machos foram bloqueados pela idade e aleatoriamente escolhidos para consumir dois tipos de dietas, sendo:
- Dieta 1 – Controle;
- Dieta 2 – Superdosing com acréscimo da mesma E.coli fitase para gerar 3.000 FTU/kg.
O sêmen foi coletado semanalmente de todos os 30 cachaços durante 12 semanas, sendo avaliados a motilidade e morfologia deste ejaculado.
De acordo com os autores, estes resultados foram provenientes, possivelmente, devido a uma melhor utilização do perfil de microminerais usados no turno reprodutivos destes machos.
Estes conceitos são provenientes de uma série de estudos que estamos realizando a nível mundial. Estaremos a disposição sempre para ajudá-los a elucidar estes conceitos em suas estratégias de formulação visando o uso cada vez mais otimizados/sustentáveis destes micronutrientes! |
Por Alexandre Barbosa de Brito
Médico Veterinário, PhD Nutrição Animal