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Estratégias para promover a estabilidade da produção em épocas de estiagem

Os problemas relacionados à estiagem no Brasil vêm aumentando a cada dia como resultado das mudanças climáticas. Portanto, devemos ir em busca de pesquisas e alternativas que amenizem esse problema.

Pesquisadores Embrapa Milho e Sorgo (MG) desenvolveram estratégias que promovem a estabilidade de produção em cultivos de sequeiro de milho, sorgo, milheto e pastagem, os quais têm sofrido déficit hídrico nos últimos anos. Os estudos englobam também o uso eficiente da água em cultivos irrigados dessas culturas. As estratégias envolvem quatro linhas:

Há a necessidade de tecnologias que permitam mitigar o efeito do estresse hídrico e possibilitem o uso otimizado da água. A irrigação busca eliminar o problema da redução do volume e da instabilidade de chuvas. Porém, ainda é uma realidade distante para muitos agricultores, por elevar o custo da produção.

Auxílio da genética

“A primeira linha, fundamentada em genética e melhoramento, envolve a utilização de genes que, nos solos ácidos do Cerrado brasileiro, permitem o desenvolvimento radicular em camadas mais profundas, favorecendo assim a absorção de água e tornando as culturas mais tolerantes ao estresse hídrico,” detalha o pesquisador da Embrapa Camilo Teixeira.

Na avaliação de cultivares, foram testados em campo genes de tolerância ao alumínio do solo, que já haviam sido identificados em laboratório.

“O campo apresentou diferentes níveis de disponibilidade hídrica no solo e detectamos que híbridos de sorgo e de milho contendo genes de tolerância ao alumínio apresentaram ganho de estabilidade de produção e de produtividade sob estresse hídrico”, relata a pesquisadora Cláudia Guimarães.

O uso de gene de tolerância ao alumínio em híbridos de milho em solo ácido resultou em ganhos de produtividade de 21% com irrigação plena e de 48% sob estresse hídrico, na fase de enchimento de grãos. “Com um sistema radicular mais profundo, as plantas de milho exploram melhor as camadas subsuperficiais do solo, em condições de distribuição irregular de chuvas nas regiões de solos ácidos”, explica Guimarães.
Nesses solos, a produção de milho pode ser bastante reduzida pela toxicidade do alumínio, que prejudica a exploração do solo pelas raízes, reduzindo a captação de água e de nutrientes e, consequentemente, a produção de grãos.

Bioinsumos 
A segunda solução é o uso de bioinsumos, como as rizobactérias, capazes de estimular o crescimento de raízes e, dessa forma, ampliar a capacidade da lavoura de tolerar períodos de escassez hídrica. Os cientistas testaram bactérias promotoras de crescimento.

“A inoculação do milho com estirpes de Azospirillum brasilense ou coinoculação com estirpes de Azospirillum brasilense e Bacillus contribuíram para o desenvolvimento e desempenho produtivo”, explica a pesquisadora Isabel Prazeres.

Integração Lavoura-Pecuária (ILP)
A terceira solução tem como foco a adoção de plantio direto e ILP, visando o uso eficiente de água. O pesquisador Ramon Alvarenga explica que a ILP tem garantido bons resultados, mesmo em anos com grandes períodos de estiagem.

“Ao recuperar a capacidade produtiva dos solos, as lavouras e pastagens tornam-se mais produtivas. É feita a correção do perfil do solo, com monitoramento da fertilidade, uso estratégico de corretivos e fertilizantes. Assim, as raízes crescem em profundidade e podem explorar melhor a água e os nutrientes. O sistema de plantio direto ajuda na infiltração e na conservação da água no solo, com a proteção feita pela palhada. Dessa forma, as plantas conseguem se manter sem perda significativa de produtividade, mesmo com ocorrência de veranico.”

 Irrigação subótima
A quarta estratégia abrange o desenvolvimento de recomendações para utilização de irrigação subótima, que consiste em aplicar sempre menos água do que a requerida, na produção de forragem, silagem e grãos. Nas avaliações desse tipo de irrigação, as culturas de milho, sorgo e milheto toleraram reduções nas lâminas de irrigação sem prejuízo significativo da produtividade de matéria fresca.

A técnica de irrigação deficitária ou subótima tem o objetivo de restringir a quantidade de água aplicada sem que haja perda expressiva da produtividade. O uso desse tipo de irrigação é uma alternativa para ampliar a eficiência no uso da água e garantir a produção em épocas ou locais com baixa disponibilidade hídrica.

Teixeira conta que o milheto e o sorgo toleram déficits hídricos maiores do que o milho, embora produzam menos silagem por hectare.
As forrageiras da espécie Panicum maximum apresentaram respostas diferentes à irrigação durante os períodos de seca e de chuvas anuais. Durante a seca, todas responderam com crescimento e produção, sendo que as cultivares Massai e Tamani toleram redução da irrigação sem perda significativa da produção de matéria seca.

“Em anos recentes, as mudanças climáticas têm desafiado a sustentabilidade da agropecuária. A sazonalidade na produção de forragens tropicais ocorre anualmente em função, principalmente, dos efeitos da seca. Isso reflete negativamente na eficiência dos sistemas de produção, inclusive os de carne e leite dependentes de forragens”, declara.

Foram avaliadas cultivares usadas para a pecuária intensiva, de alta produtividade, mas que reduzem sensivelmente a produção de forragem durante o déficit hídrico anual.

“Testamos três cultivares de Panincum maximum (Tamani, Quênia e Massai) em comparação com o Cynodon (Tifton). O material que melhor respondeu à irrigação subótima foi o Quênia. Sua produtividade foi equivalente à obtida pelo Cynodon, que é a forrageira mais utilizada no sistema de produção irrigado. Isso vem suprir uma demanda econômica dos produtores brasileiros”, explica a pesquisadora.

Para Teixeira, os estudos demonstram que a irrigação subótima, em um cenário de constantes crises hídricas, apresenta grande potencial para se transformar em tecnologia poupadora de água. Além disso, o uso de gene de tolerância ao alumínio apresenta grande potencial no ganho de estabilidade de produção de grãos em solos ácidos, com ênfase para o cultivo em segunda safra, que é mais afetada pelo déficit hídrico.

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