As aves são animais homeotérmicos que mantêm a temperatura corporal ao longo do ano; no entanto, os mecanismos termorreguladores são eficientes apenas em zonas termoneutras (faixa de temperatura ambiental dentro da qual a ave é capaz de manter sua temperatura corporal sem aumentar sua taxa metabólica basal).
A zona termoneutra para aves pode variar aproximadamente de 21 a 37°C, a depender de fatores como:
Quando as aves se encontram acima da zona termoneutra, a depender da intensidade e duração da temperatura elevada, os animais buscam o aumento da dissipação de calor para manter a homeostase térmica.
Os mecanismos de perda de calor podem ser comportamentais como:
Deitar-se para manter o peito em contato com o chão, e assim aumentar a superfície de contato para perda de calor por condução,
Aumentar a frequência respiratória de forma ofegante com o bico aberto para perda de calor por evaporação
Pode aumentar a ingestão de água, e
A depender da severidade do estresse calórico, a ave recorre a mecanismos fisiológicos específicos, que pode levar ao aumento do pH e cortisol séricos, até interrupção de expressão gênica e gerar a presença de proteína de choque térmico.
Estima-se que uma ave pode perder cerca de 540 kcal de energia para cada 1 ml de água evaporada.
Um estudo avaliando os efeitos do aumento de 5°C na temperatura ambiente (dos 30 para os 35°C) sobre o consumo de ração e ganho de peso de aves, constatou redução em ambos os parâmetros em mais de 16%. Em outro estudo, a exposição ao estresse por calor por 50 minutos foi capaz de desencadear mudanças de resposta termorregulatória em frangos, tais como hipertermia.
De forma a amenizar parte desses problemas, a avicultura moderna adota o uso de alguns equipamentos já bem explorados a campo, como por exemplo, os ventiladores, aspersores, nebulizadores, atomizadores e exaustores, buscando adequar o ambiente para máxima eficiência produtiva no decorrer das fases de criação.
Além desses equipamentos e de todo manejo para propiciar melhor ambiência aos animais, a suplementação de vitaminas, minerais, antioxidantes, betaína, e o emprego de outras tecnologias vem sendo explorada, como por exemplo, o uso de aditivos fitogênicos e suplementos herbais.
Os aditivos fitogênicos são comumente definidos como compostos vegetais secundários e seus metabólitos com efeitos benéficos sobre a saúde e a produção animal.
Apesar do desconhecimento dos exatos mecanismos de ação, alguns desses efeitos são atribuídos a determinadas substâncias presentes em suas composições químicas, que ajudam a minimizar os efeitos deletérios causados pelo estresse calórico.
Determinadas classificações dos compostos fitogênicos destacam como os principais grupos aqueles que possuem:
No que diz respeito aos polifenóis, esses são substâncias caracterizadas por possuírem uma ou mais hidroxilas ligadas a um ou mais anéis aromáticos, e constituem de forma geral as principais substâncias bioativas da maioria dos extratos vegetais.
Em um estudo em que foi avaliado um blend de óleos essenciais tendo como base o óleo essencial de Eucalyptus globulus, fornecido via água de bebida para frangos de corte submetidos a dois diferentes ambientes com temperaturas de 22 ou 36°C, maior ganho de peso e consumo de ração foi constatado para os animais em condição de estresse térmico recebendo o blend fitogênico, em comparação aos animais que foram alojados em ambiente com temperatura amena.
Em outro estudo, em que óleo de eucalipto foi fornecido na água de bebida e aplicado via spray para frangos de corte submetidos a estresse térmico em temperatura de 32°C, foi constatada a diminuição de hematócrito, sendo esse um indicativo de adaptação das aves ao estresse térmico.
Tendo em vista que a principal forma de termólise endógena da ave é evaporação que ocorre via respiração ofegante, que por sua vez ocasiona aumento da frequência respiratória, as taxas de trocas gasosas podem ser afetadas negativamente, resultando em distúrbios metabólicos, como por exemplo a alcalose.
Quando a ave é submetida a um ambiente em que há o aumento da respiração ofegante, um mecanismo fisiológico adotado pelo organismo da ave é o aumento de hematócrito na tentativa de compensar a baixa taxa de troca gasosa.
Sendo assim, essa pode ser uma alternativa viável aqueles animais que permanecem mais tempo no ciclo produtivo, como matrizes e poedeiras comerciais, que podem adquirir adaptabilidade a temperaturas mais elevadas quando o óleo de eucalipto é administrado.
Outro óleo de interesse zootécnico com benefícios para utilização no verão é o óleo hortelã, que por sua vez é rico em substâncias bioativas como o eugenol, alfa-tocoferol, mentol, carvanona, limoneno e mentona, além de conter outros flavonoides. O alfa-tocoferol, conhecido como vitamina E, é um potente antioxidante natural, e tem mostrado benefícios na avicultura em diversos aspectos, inclusive aqueles relacionados ao estresse térmico.
Os flavonoides são substâncias metabólicas secundárias da classe de polifenóis que também apresentam efeitos benéficos as aves susceptíveis a estresse calórico.
A inclusão de um aditivo fitogênico rico em flavonoides na dieta de frangos de corte, submetidos a um ambiente com aumento de temperatura de 6°C e redução de umidade ambiental em 21,5% por cinco dias, resultou em redução de comportamentos característicos de estresse térmico, como bico e asas abertas, nas aves suplementadas com o aditivo fitogênico.
Além disso, alguns desses compostos fenólicos podem agir como antioxidantes, aumentando a atividade de enzimas que desempenham esse papel e inibe processos oxidativos. O mentol por sua vez, que se encontra em abundância na hortelã, possui a capacidade de ativar receptores específicos nos neurônios sensitivos chamados canais potenciais de receptores transitórios.
As referências podem ser disponibilizadas mediante solicitação ao autor em sac@biochem.net