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Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

Escrito por: Luiz Fernando de Souza Alves - Zootecnista graduado pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Mestre em Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Doutor em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com período Sanduíche (Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior - PDSE/CAPES) na Facultad de Ciencias Veterinarias y Pecuarias da Universidad de Chile, desenvolvendo a tese no Laboratório de Genômica Aquícola. Atualmente é Professor Mediador do Curso de Tecnologia em Segurança Alimentar (UniCesumar), Orientador da Pós-Graduação do Cluster de Meio Ambiente (UniCesumar), e também é graduando em Medicina Veterinária pelo Centro Universitário Ingá (Uningá). Tem experiência na área de Zootecnia com ênfase em Produção Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: Produção animal, Piscicultura, Manejo, Animais não-ruminantes e Tecnologia de Alimentos. Atua também em Projetos de Extensão na área de Piscicultura e Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Pescado no estado do Mato Grosso do Sul.
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Hidrolisado proteico: uma alternativa para a nutrição de peixes

A aquicultura no Brasil possui um grande destaque na produção de peixes devido ao seu grande potencial aquícola, tendo uma extensa área territorial e possuindo a maior bacia hidrográfica do mundo, além dos grandes reservatórios e faixa litorânea.

Em se tratando da produção de peixes no Brasil houve um aumento nos últimos anos, impulsionada pelo aumento da demanda por proteína animal de qualidade e pelo desenvolvimento da aquicultura no país.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção de peixes em cativeiro atingiu 558,9 mil toneladas em 2021, um aumento de 0,92% em relação ao ano anterior.

Contudo, apesar desse discreto aumento na quantidade, a produção teve uma avaliação de R$ 4,7 bilhões, o que representa um acréscimo de 15,8% em relação ao ano precedente.

Podemos destacar principalmente o manejo nutricional, uma vez que a alimentação adequada é fundamental para o crescimento, desenvolvimento e saúde dos peixes, além de influenciar na qualidade da carne e na eficiência do sistema produtivo como um todo.

A nutrição é um fator fundamental na produção de peixes, pois influencia diretamente no crescimento, saúde e qualidade dos animais. Uma dieta balanceada e adequada às necessidades nutricionais é essencial para garantir um bom desempenho e rentabilidade na produção.

[cadastrar] Além disso, pode aumentar a taxa de crescimento, reduzir a mortalidade, melhorar a conversão alimentar e reduzir o tempo necessário para o peixe atingir o peso de mercado.

Ademais, uma nutrição adequada pode melhorar a saúde e a resistência dos peixes a doenças e estresses ambientais.

Sabemos que a alimentação possui o mais alto custo da produção. Quando tratamos da piscicultura, este custo chega ser de 70% do total da produção. Com isso, é importante conhecermos e verificar as possibilidades de nutrientes alternativos, os quais possam reduzir estes custos e atender as necessidades nutricionais.

Os peixes são animais ectotérmicos, o que significa que sua temperatura corporal é regulada pelo ambiente.

Eles têm uma alta taxa metabólica, o que requer uma alimentação adequada para suprir suas necessidades nutricionais e promover um crescimento saudável.

A proteína é um dos nutrientes mais importantes na nutrição de peixes, pois é essencial para o crescimento, desenvolvimento e reparação de tecidos do corpo dos animais.

A proteína é composta de aminoácidos, que são os blocos de construção das proteínas e são necessários para a síntese de enzimas, hormônios, anticorpos e outros compostos importantes para o organismo dos peixes.

Peixes em diferentes estágios de desenvolvimento requerem diferentes quantidades e tipos de proteína em suas dietas.

Larvas e alevinos precisam de uma maior proporção de proteína para o crescimento e desenvolvimento, enquanto peixes de engorda precisam de uma quantidade adequada de proteína para manutenção e reparação do tecido corporal.

A qualidade da proteína também é importante, pois proteínas de baixa qualidade podem afetar negativamente o crescimento e a saúde dos peixes. Fontes de proteína de alta qualidade, são frequentemente utilizadas em rações para peixes devido à sua digestibilidade e perfil de aminoácidos.

Além disso, a quantidade e qualidade da proteína na dieta também podem afetar a qualidade da água em sistemas de cultivo de peixes. A alimentação excessiva de proteína pode levar ao acúmulo de resíduos nitrogenados no sistema, aumentando a concentração de amônia e nitrito, que são tóxicos para esses animais.

Quando falamos em proteínas, temos que pensar em um assunto que está em alta atualmente, que é o reaproveitamento de produtos que são gerados na indústria.

E pensando na indústria animal, são diversos os resíduos produzidos, os quais podem tornar coproduto e serem utilizados na alimentação de peixes. E grande parte desses coprodutos são ricos em proteínas, as quais podem atender as necessidades nutricionais dos animais.

No entanto, a utilização de coprodutos proteicos na alimentação animal requer cuidados com a qualidade e segurança alimentar, além de serem necessárias regulamentações e controles sanitários rigorosos para garantir a ausência de patógenos e toxinas nos ingredientes.

Além disso, o uso de coprodutos proteicos na alimentação animal é importante para a sustentabilidade do setor, pois ajuda a minimizar o desperdício de alimentos e reduzir a pressão sobre as fontes de proteína vegetal, como a soja, que é uma importante commodity agrícola no Brasil e no mundo.

Hoje, na indústria do pescado, existem muitas alternativas para a nutrição de espécies aquícolas, principalmente para os peixes. Umas dessas alternativas e fonte rica em proteína, é o hidrolisado proteico.

A digestibilidade é uma característica importante dos alimentos utilizados na nutrição, uma vez que uma alta digestibilidade pode resultar em uma melhor utilização dos nutrientes e, consequentemente, em um melhor desempenho dos animais.

Além disso, os hidrolisados proteicos também podem ser utilizados para melhorar a palatabilidade das rações e aumentar a atratividade dos alimentos para os peixes.

Os hidrolisados proteicos podem ser produzidos a partir de diferentes fontes de proteínas, como peixes, crustáceos, aves, suínos, bovinos, entre outros, o que permite uma diversificação das fontes de proteína nas rações, contribuindo para a sustentabilidade e redução da dependência de fontes proteicas tradicionais, como a farinha de peixe.

No entanto, é importante ressaltar que a qualidade do hidrolisado proteico pode variar de acordo com o processo de hidrólise utilizado e a fonte proteica utilizada.

Portanto, é essencial que a qualidade do hidrolisado proteico seja avaliada, considerando fatores como composição nutricional, digestibilidade, perfil de aminoácidos, presença de contaminantes e propriedades funcionais.

O processo pode ser feito em diferentes etapas e com diferentes enzimas, dependendo da matéria-prima e do objetivo final do produto. Após a hidrólise, o produto é submetido a um processo de filtração para separar os peptídeos e aminoácidos menores daqueles que não foram hidrolisados, como gorduras e carboidratos.

O produto final é um hidrolisado proteico solúvel e altamente digerível que será utilizado na nutrição dos animais.

A utilização de hidrolisado oferece várias vantagens.

Em primeiro lugar, a hidrólise das proteínas torna os peptídeos e aminoácidos mais disponíveis e facilmente digeríveis pelos peixes, o que pode levar a uma maior taxa de absorção de nutrientes e, consequentemente, um melhor aproveitamento dos nutrientes ingeridos.

Além disso, os peptídeos e aminoácidos presentes no hidrolisado proteico podem ter propriedades bioativas, como: a capacidade de estimular o sistema imunológico, melhorar a saúde intestinal e promover a resistência a doenças.

Alguns estudos mostram a eficácia da utilização de hidrolisado proteico na nutrição de peixes. Decarli et al. (2016), em um estudo com jundiá (Rhamdia voulezi) observaram que os animais alimentados com dietas contendo hidrolisado de fígado suíno e de sardinha nas dietas melhorou o ganho em peso, e não afetou os índices de colesterol, triglicerídeos e a composição química da carcaça dos peixes.

Rocha (2018) avaliou o hidrolisado proteico de frango para larvas de tilápia do Nilo, onde pode observar uma melhora no peso final, comprimento final, ganho em peso e taxa de crescimento específico.

Em resumo, o uso de hidrolisado proteico na nutrição de peixes pode ser uma opção promissora, proporcionando benefícios como alta digestibilidade, melhor aproveitamento dos nutrientes, propriedades bioativas e diversificação das fontes proteicas nas rações. No entanto, é fundamental garantir a qualidade do hidrolisado proteico utilizado, por meio de uma avaliação criteriosa, para assegurar uma nutrição adequada e saudável aos peixes.

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