A complexidade do ecossistema gastrointestinal é extraordinária. A quantidade de células bacterianas presente na microbiota dos animais excede o número total de células somáticas.
A interação entre hospedeiro e microrganismo ainda não foi totalmente elucidada, mas as funções da microbiota sobre o trato gastrointestinal (TGI) já são descritas e compreendem:
Em criações não comerciais ou na natureza, assim que os pintainhos eclodem, eles são expostos a microrganismos naturais das aves adultas e do ambiente.
Em contrapartida, em condições comerciais, o contato e a transferência da microbiota da forma natural são mínimos ou inexistentes.
Sendo assim, o TGI dos pintainhos recém eclodidos fica praticamente exposto à colonização por microrganismos presentes:
É importante considerar que o período neonatal é o momento mais importante no desenvolvimento dos sistemas digestório e imune das aves, e este desenvolvimento é influenciado positivamente pela presença de uma microbiota adequada (Pedroso, 2011).
As bactérias que colonizam os primeiros dias de vida dos pintinhos crescem muito rápido, e o intestino se torna habitado por 108 e 1011 bactérias por grama de digesta no íleo e ceco respectivamente entre o primeiro e terceiro dia de vida (Yadav & Jha, 2019).
PREVENÇÃO
Na avicultura industrial, a maioria dos microrganismos presentes nos ambientes, aos quais as aves são expostas no período neonatal, não são os mais adequados para a colonização precoce do TGI.
Embora a administração de probióticos durante a criação seja eficaz, o intervalo entre eclosão e alojamento é um período delicado e muito importante para maximizar a performance produtiva e sanitária das aves.
COLONIZAÇÃO DO TGI
Dessa forma o TGI, que está em fase de estabelecimento da microbiota, fica sujeito à colonização por bactérias patogênicas e/ou indesejáveis, como por exemplo Salmonella spp.
O fornecimento de bactérias probióticas identificadas e selecionadas proporciona uma colonização precoce significativa no papo e intestino das aves, quando usado de forma estratégica nos incubatórios (Matté et al. 2020).
As figuras comparam cortes histológicos do íleo de aves com três dias de idade, que receberam ou não um tratamento com probiótico via spray no incubatório. As imagens comprovam o melhor desenvolvimento da mucosa intestinal nas aves tratadas com o probiótico (Informativo Técnico Vetanco 2017).
A saúde intestinal das aves é de extrema importância para seu desenvolvimento produtivo e sanitário.
Os diferentes sorotipos de Salmonela continuam sendo um dos maiores envolvidos na colonização e transmissão bacteriana nos primeiros dias de vida das aves. A Salmonela pode ser transmitida verticalmente pelas matrizes para os pintainhos.
O gerenciamento dos pontos críticos de controle em toda a cadeia de produção é de altíssima relevância para evitar que haja um aumento na transmissão e contaminação por Salmonela.
MECANISMOS DE DEFESA
Algumas intervenções são importantes para maximizar os mecanismos de defesa do organismo de cada ave.
É fundamental ter em mente que a capacidade probiótica de uma bactéria não se dá somente por pertencer a uma determinada espécie (p.ex. Lactobacillus acidophilus), mas sim é especifica às cepas estudadas para cada finalidade.
PROBIÓTICOS ESPECÍFICOS
Existem probióticos desenvolvidos especificamente para aves de produção, esses produtos são extensivamente estudados e avaliados em condições laboratoriais e de campo, com o objetivo de selecionar cepas capazes de colonizar rapidamente o TGI e inibir o crescimento de enteropatógenos, especialmente Salmonella spp. (Menconi et al. 2011)
O Gráfico 1 demonstra a redução significativa de Salmonella Enteritidis em frangos aos cinco dias de idade, que receberam uma aplicação do probiótico FloraMax-B11™ no incubatório antes do alojamento.
Para evidenciar os benefícios do uso de probióticos no incubatório, uma avaliação de campo foi realizada em uma integradora no sul do Brasil, no primeiro semestre de 2020. Foi mensurado o desempenho produtivo de um grupo e 955.490 pintinhos que receberam uma dose de probiótico constituído por 11 cepas de Lactobacillus, administrado no incubatório.
Os resultados dos lotes com abate aos 46 dias de idade, estão apresentados na Tabela 1, onde foram comparados com o grupo controle com 1.426.290 pintinhos alojados e abatidos no mesmo período. Os dados apresentados demonstram um melhor desempenho produtivo nas aves que receberam uma dose probiótico no incubatório.
Além do que, essa microbiota inicial protetora favorece as condições sanitárias e maximiza a performance zootécnica, resultando em melhores resultados econômicos para as agroindústrias.