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Insetos na nutrição animal: fantasia ou realidade?

Escrito por: Diego Vicente da Costa

Insetos na nutrição animal: fantasia ou realidade?

Ultimamente os insetos alimentícios assumiram um papel relevante entre os pesquisadores e empresários da nutrição animal em todo o mundo. Mas será essa mais uma efêmera especulação do mercado ou uma real solução para a crescente demanda global por alimentos sustentáveis?

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a população mundial chegará a cerca de 9,5 bilhões em 2050. Como o mercado consumidor tem sido cada vez mais exigente quanto aos alimentos que consome, principalmente quanto à origem e forma de produção dos animais, cabem às indústrias de produção e nutrição animal fornecer soluções sustentáveis para o abastecimento de alimentos no mundo.
Portanto, a disponibilidade de insumos alimentares provavelmente se tornará um dos principais obstáculos para a expansão sustentável da produção animal no mundo. Por décadas, pesquisadores e empresas têm buscado alimentos alternativos para substituir total ou parcialmente os ingredientes convencionais usados na nutrição animal.
Existem vários motivos, tais como:
Alto custo ou flutuações de preços
Oferta sazonal
Qualidade inconsistente
Origem com algum impacto, seja ambiental ou até social

Surge então a pergunta: quais características um alimento deve conter
para ser considerado ideal para nutrição animal?

Para atender a estas demandas e com base em estudos recentes, a FAO indica que o uso de insetos pode ser a resposta.

 

Importância dos insetos como alimento

Ao se considerar um alimento ideal para nutrição animal, o mesmo deveria cumprir, resumidamente, algumas premissas mercadológicas, nutricionais e socioambientais. Desse modo, a matéria-prima ideal deve possuir:
Baixo custo
Constância de oferta
Padrão de qualidade
Alto valor nutricional
Não ser disputado no mercado para outros fins
Ao se levar em consideração todos esses aspectos, as opções de ingredientes para nutrição animal ficam totalmente escassas E é justamente nessa lacuna que os insetos surgem como potencial alimento para animais (e até humanos).


Este cenário vai de encontro a pauta mundial da sustentabilidade, sendo que a produção de insetos alimentícios cumpre com ao menos 10 das 17 Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Na figura abaixo, pode-se verificar a quantidade de gases de efeito estufa emitidos na produção de diferentes culturas animais.
Vale ressaltar também que é possível produzir insetos com pouca tecnologia, de maneira doméstica, o que permite a produção de proteína em lugares remotos, com limitados recursos naturais e/ou socioeconômicos.
O inseto pode até mesmo ser fornecido vivo aos animais, sem custos de processamento, possibilitando a oferta de um ingrediente de alta qualidade nutricional na atividade rural de subsistência.
Por fim, relembro que os insetos servem como alimento para animais desde que surgiram evolutivamente no planeta Terra, há mais de 450 milhões de anos.

Peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos (incluindo o homem) sempre
comeram insetos.

Além disso, muito dos animais de produção que temos hoje, como aves de corte e poedeiras, suínos, peixes (várias espécies, tais como tilápia, tambaqui, truta, carpa, pirarucu, matrinxã, etc), e também animais de companhia, como cães, gatos, pássaros e alguns PETs não convencionais, são todos naturalmente insetívoros.
Portanto não há nada de muito inovador em tratar os insetos como ingrediente para nutrição animal. Inovadoras são as tecnologias que estão sendo desenvolvidas para sua produção massal, bem como o desenvolvimento de produtos, como prebióticos e outros aditivos a base de insetos, como veremos a seguir.

Espécies de insetos alimentícios 

É muito importante ressaltar que não é toda espécie de inseto que tem aptidão para ser fonte de alimento. Muitas inclusive podem ser venenosas. No mundo, há mais de 2000 espécies de insetos alimentícios catalogadas, sendo que grande parte se encontra no Brasil e nas regiões tropicais do planeta.
Ainda que exista uma ampla gama de espécies de insetos alimentícios, a indústria e os pesquisadores têm focado em algumas poucas espécies, como:
Besouros (ex: tenébrio comum e gigante)
Moscas (ex: mosca-soldado negra)
Baratas (ex: cinérea e de Madagascar)
Grilos (ex: preto e doméstico)

Composição nutricional dos insetos

Insetos são ricas fontes de aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais. A composição nutricional dos insetos varia de acordo com:
Condições em que foi cultivado
Espécie e estágio de vida, ainda que dentro de uma mesma classificação taxonômica
De modo geral, os insetos mais utilizados como alimento para animais apresentam:

Os perfis de aminoácidos da maioria das espécies de insetos avaliadas como alimento para peixes mostram uma boa correlação com as exigências nutricionais das espécies piscícolas cultivadas. A larva de mosca-soldado negra possui um perfil de aminoácidos considerado próximo ao da farinha de peixe e globalmente melhor quando comparado ao farelo de soja.
Insetos geralmente possuem altos níveis de lipídeos, principalmente na fase larval. O perfil de ácidos graxos do óleo dos insetos pode ser fácil e rapidamente modulado pela alimentação do inseto, permitindo a incorporação de ômegas 3 e 6, como diversos estudos já demonstraram.
O óleo de inseto, por sua vez, tem se tornado um produto importante para as indústrias produtoras de insetos, como será mostrado mais adiante neste texto. De modo geral, insetos possuem baixa quantidade de matéria mineral, mas podem ser fonte de:

Os perfis vitamínico e mineral dos insetos dependem, em grande parte, da composição da dieta dos insetos. Por exemplo, a produção de larvas de tenébrio comum com diferentes dietas resulta em diferentes composições de vitaminas e minerais das larvas.

Insetos na nutrição animal

não restam mais dúvidas do ponto de vista técnico sobre a eficiência em se utilizar insetos como alimento para animais monogástricos. Muitas foram as pesquisas realizadas ao redor do mundo sobre o uso de insetos na alimentação animal. Não tenho a intenção de fazer deste artigo uma revisão bibliográfica sobre os estudos já publicados nessa temática.
Trago aqui apenas algumas breves informações para que o leitor da nutriNews tenha conhecimento sobre os aspectos nutricionais e a eficiência deste alimento para aves, suínos, peixes e PETs.

Insetos na nutrição de aves

Os insetos alimentícios podem ser fornecidos em forma de farinha, inteiros, desidratados ou até mesmo vivos, sendo esse último relativamente comum em produção de aves caipiras ou semiconfinadas por exemplo, para diminuir a bicagem de penas, melhorar o bem-estar animal ou diminuir o estresse ambiental nesse setor (Oddon et al., 2019; Veldkamp & Van Niekerk, 2019).
Schiavone et al., (2019) encontraram melhora no peso final de carcaça de frangos de corte alimentados com 10% de substituição de soja por farinha de larva de mosca-soldado negra. As pré-pupas de mosca-soldado negra também foram consideradas altamente palatáveis para codornas, que apresentaram maior preferência pela farinha de inseto quando comparada a ração a base de trigo e soja fornecida ad libitum (Ruhnke et al., 2017).
Em um estudo realizado por pesquisadores da USP e UFMG, os frangos de corte apresentaram preferência por farinha de larva de tenébrio comparado aos ingredientes convencionais (milho e soja) e melhoraram também a eficiência alimentar (Nascimento Filho et al. 2020).
Com relação a aves de postura, uma melhora significativa foi observada na aparência, textura e sabor dos ovos de codornas com a inclusão de mosca-soldado negra na dieta das aves (Al-Qazzaz et al., 2016).

Insetos na nutrição de suínos

De acordo com Biasato et al. (2019), leitões aceitaram prontamente as dietas com 5 e 10% de farinha de larva de mosca-soldado negra em substituição a 30 e 60% do farelo de soja, não sendo observada diferença na digestibilidade dos nutrientes da dieta e ganho de peso dos animais. Os autores indicam a inclusão de 10% de farinha de larva de mosca-soldado negra para leitões pós desmama.

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