Manejar adequadamente os pastos é tarefa básica para o pecuarista que deseja garantir resultados produtivos satisfatórios, equilibrando a estabilidade de boas forrageiras e o bom desempenho animal. Mas resultados de pesquisa da Embrapa comprovam que o manejo correto das pastagens promove outro resultado importante: a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Em estudos conduzidos no bioma Pampa, em área de integração Lavoura-Pecuária com pastagens cultivadas de azevém e aveia para terminação de novilhos no inverno, os animais, quando estavam em uma altura ótima de pastejo, emitiram 30% menos metano em comparação aos índices preconizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, o IPCC. No entanto, de acordo com a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul Cristina Genro, apesar de o uso da altura das forrageiras como ferramenta de manejo ser uma atividade simples e muito eficaz, ainda é pouco usada pelos produtores.
Para o produtor e engenheiro-agrônomo Marcelo Fett Pinto, “manejar bem as pastagens significa conciliar as demandas nutricionais dos animais com a manutenção dos potenciais produtivos das plantas pastejadas, como dizia um dos meus orientadores da área de pastagens na Nova Zelândia, saudoso professor John Hodgson”, relata Fett, coordenador do Programa Estâncias Gaúchas, que reúne produtores de animais criados em pastagens do Pampa.
Como trabalhar com a altura? |
A altura é uma característica da estrutura do pasto que tem relação direta com a massa de forragem, ou seja, a quantidade de pasto disponível em uma área. Quando se escolhe trabalhar com esse critério de manejo, é importante realizar medidas em toda a área de pastejo, porque o pasto é heterogêneo, ou seja, há locais onde existem pontos altos, médios e baixos. Isso se dá pelo fato de o crescimento das plantas ser influenciado por fatores do meio, como temperatura, umidade, fertilidade, pastejo, etc.
Para que a altura do pasto esteja dentro do recomendado, é preciso controlar a quantidade de animais por hectare. Se a lotação for muito alta, os bovinos perdem desempenho e emitem mais metano por área, assim como o pasto diminui sua capacidade de contribuir para fixação do carbono no solo. “Então, se nós trabalharmos fazendo um ajuste de carga para manter a altura ideal de manejo de cada planta forrageira, estaremos contribuindo para a redução de problemas com a degradação de pastagens e baixo desempenho animal, ao mesmo tempo que atribuímos um serviço ecossistêmico à produção de animais a pasto”, completa Silveira.
Exemplos práticos |
Cada pasto tem uma altura de manejo recomendada, inclusive dependendo da sua forma de uso, ou seja, em pastejo rotativo ou contínuo. “O azevém, espécie bastante usada no inverno aqui no sul, por exemplo, recomendamos que seja mantido entre 15 e 20 centímetros de altura durante todo o tempo de pastejo sob lotação contínua com taxa variável. Para pastejo sob lotação rotativa, a entrada dos animais deve se dar com 20 cm e a saída entre oito e 12 cm”, explica a pesquisadora.
A aveia, outra espécie usual para sobressemeadura de campo nativo no inverno sulino, tem recomendação de altura de 20 a 40 centímetros em pastejo contínuo; para pastejo rotativo, os animais devem entrar com 30 cm e sair quando o pasto atingir de 10 a 15 cm. Já o capim-sudão, forrageira bastante usada no verão, deve ser mantido entre 30 e 40 cm em pastejo contínuo. No rotativo, a entrada se dá entre 50 e 60 cm e a saída entre 15 e 20 cm. “Atendendo a essas recomendações, estamos garantindo boa oferta de forragem aos animais, ao mesmo tempo em que
As medições de altura do pasto podem ser realizadas, com o uso de ferramentas simples como uma régua ou um bastão medidor de altura de pasto (ver imagem). “Na prática, e após algumas medições, calibramos o olho com boa precisão para as alturas dos pastos (nativos e cultivados), podendo nos valer de referências campeiras, como a altura do pasto em relação ao casco do cavalo, aos bichos de campo como a lebre, à bota, etc., mas lembrando que o importante é sempre que possível ter pasto, seja a avaliação da forma que for”, destaca Fett Pinto.
Com a adequada disponibilização de forragem, os bovinos têm ganho de peso rápido e o tempo que os animais ficam na pastagem até a terminação é menor. “O que, consequentemente, diminui mais ainda em termos de emissão de metano. Isso quer dizer que, manejando o pasto em uma altura adequada, vamos produzir mais carne, conservando o solo, ter uma colheita mais eficiente dessa forrageira e, em consequência, contribuir na redução da emissão de gases de efeito estufa para o meio ambiente”, completa Cristina Genro.
Rede de Pesquisa Pecus |
Atualmente o IPCC indica que há emissão de 56 a 70 kg/ano de metano por animal da categoria de novilhos em terminação. A pesquisa apontou o valor de 54 kg em campo nativo e 48 em sistemas melhorados. “Se multiplicarmos essa diferença por milhões de cabeças de bovinos criadas no Pampa, o montante de metano emitido pelos animais ficaria extremamente menor que aquele preconizado pelo organismo internacional. Ou seja, o IPCC está superestimando essas emissões”, declara.
Publicação auxiliar
Os produtores interessados podem encontrar mais informações sobre manejo por altura de diversas espécies, inclusive de campo nativo do bioma Pampa e mesclas forrageiras, em publicação lançada pela Embrapa Pecuária Sul, intitulada Uso da altura para ajuste de carga em pastagens. De autoria das pesquisadoras Cristina Genro e Márcia Silveira, o documento apresenta como se dá a relação entre altura e quantidade de pasto disponível, destaca formas de fazer as medições e as ferramentas usadas para esse trabalho, assim como a periodicidade que se deve realizar essa avaliação de acordo com a estação do ano e a espécie forrageira, entre outros temas.
Fonte: Felipe Rosa | Embrapa Pecuária Sul
Fotos: Keke Barcelos e Felipe Rosa