Micotoxinas e Micotoxicoses
Fungos e micotoxinas podem interferir negativamente no processo produtivo, causando perdas diretas e indiretas em diferentes segmentos das cadeias de produção. Atuando de maneira silenciosa, as micotoxinas podem afetar não apenas a saúde dos rebanhos, mas também afetar a viabilidade econômica da produção se forem negligenciadas.
Manejo integrado e gestão são armas que o produtor pode estabelecer a fim de conhecer os pontos críticos diretamente na sua propriedade.
GESTÃO E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE PARA OBTENÇÃO DE UMA BOA ENSILAGEM E CONTROLE DE MICOTOXINAS |
Essa é a primeira pergunta que muitos produtores fazem quando o assunto micotoxinas é abordado. Sendo em uma resposta direta a recomendação sempre é de ZERO, ou seja, não existem níveis aceitáveis que não causem prejuízos ao processo de desenvolvimento dos animais ou riscos à saúde pública.
Sendo o primeiro já difícil de controlar em sua totalidade, mas fatores extrínsecos são muito complexos de monitorar, que dirá controlar.
Mas hoje a ciência tem avançado na tentativa de determinar níveis de micotoxinas que, se presentes na dieta dos animais, não causem prejuízo significativo. Essa determinação é complexa, uma vez que vários fatores estão envolvidos nos danos que as micotoxinas podem causar.
Por isso, o controle integrado é a melhor arma para o produtor garantir minimização de efeitos deletérios e ocorrência de fungos e micotoxinas.
Adoção de boas práticas de ensilamento certamente contribuirá para a prevenção da contaminação fúngica e diminuição da produção de micotoxinas, e ademais garantindo qualidade nutricional ao alimento conservado.
Estas práticas são ações que vão desde o campo, até o fornecimento da silagem para os animais, justamente tentando cobrir todas as possibilidades de produção da toxina pelos fungos ao longo da cadeia de aproveitamento.
Alguns fatores são importantes de serem controlados, estes destacam-se pela bibliografia como sendo os principais pontos críticos de controle a serem monitorados:
- A escolha de variedades ou híbridos adaptados à região e resistentes a contaminação de fungos;
- Controle de pragas e plantas invasoras;
- Aplicação de medidas de controle químico quando necessário como fungicidas e pesticidas;
- Garantir um bom desenvolvimento das plantas, a sanidade do cultivo garante um bom aproveitamento;
- Ponto de colheita ideal para a cultura de interesse e ponto de corte ideal ao processamento do cultivar;
- Grau de compactação efetivo para garantir o processo de anaerobiose adequado;
- Cobertura e vedação apropriadas, com impermeabilização tanto nas porções inferiores como superiores do silo;
Por último, a utilização de inoculante adequados que produza metabolitos que auxiliem no processo de estabilização do silo.
O teor de umidade no momento da ensilagem merece destaque, pois, teores de umidade acima de 80% irão proporcionar condições inadequadas ao processo de conservação.
Por final, ao processo de monitoramento integrado, após considerar pontos críticos relevantes que tem significativo impacto econômico, a utilização de aditivos alimentares de origem biológica pode ser considerada.
Estes produtos tem condição de garantir um incremento na qualidade do ensilado, além de oferecer incremento produtivo na criação, promover a sanidade dos animais e bem como oferecer uma alternativa sustentável e economicamente viável.
Muitos produtos ainda precisam de otimização, bem como adaptação nas condições de cada localidade onde poderão ser aplicados, mas certamente a utilização de inoculantes com potencial probiótico (leveduras e bactérias), bem como substâncias com potencial prebiótico ou estabilizantes que não só irão garantir a qualidade do silo, como também favorecer o desenvolvimento de uma microbiota desejável são recomendados.
Atualmente, os microrganismos mais amplamente utilizados em alimentos para animais de produção são as leveduras, principalmente Saccharomyces cerevisiae e bactérias ácido láticas (BAL).
Desta forma o desenvolvimento de produtos, para introdução de probióticos se torna promissor, principalmente por serem considerados organismos grau GRAS (Generally Recognized As Safe) garantem uma microbiota saudável, estável e com manutenção de suas atividades biológicas ao longo do período de aproveitamento do silo.[registrados]
APLICAÇÃO BIOTECNOLÓGICA NO CONTROLE E GERENCIAMENTO DE FUNGOS E MICOTOXINAS |
Métodos físicos e químicos tradicionais têm sido recomendados para a detoxificação de alimentos contaminados como a utilização de adsorventes ou probióticos com capacidades adsorventes.
Entre estes, o uso de adsorventes de micotoxinas como aditivos alimentares é uma das abordagens mais utilizadas e vêm sendo amplamente difundida como proposta para reduzir o risco de micotoxicoses em animais de produção e para minimizar a contaminação dos produtos de origem animal a partir dos alimentos.
Fatores como:
- Polaridade
- Solubilidade
- Forma
- Tamanho
- Distribuição
- Dissociação de carga dos adsorventes
Determinam a especificidade em relação às micotoxinas.
Segundo a Portaria nº 13 de 24 de maio de 2006 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), foi sugerida a substituição do termo “adsorvente de micotoxinas” pela denominação geral “Aditivos antimicotoxinas (AAM)”, deixando bem claro que essa denominação incluía os produtos que, adicionados ao alimento para animais, eram capazes de adsorver, inativar, neutralizar ou biotransformar as micotoxinas.
A maior parte dos AAM exerce dentro do animal um efeito de quimio-adsorção, e devem ter capacidade para unir-se de uma forma eficaz às micotoxinas e diminuir sua biodisponibilidade no trato gastrointestinal, dando lugar a compostos estáveis e irreversíveis que posteriormente serão eliminados pelas fezes.
Desta forma, a biodisponibilidade da micotoxina ficará reduzida, evitando os efeitos indesejáveis que esta produz. Para serem considerados AAM e entrarem no mercado, produtos novos devem passar por ensaios individuais in vitro e in vivo para assegurar a seguridade, capacidade e inocuidade do produto em relação à saúde animal (MAPA, 2006).
Além disso, independentemente do produto e protocolo proposto, devem ser realizados testes e procedimentos para implantação e otimização deste tipo de produto na rotina da propriedade.
Sendo importantíssimo o acompanhamento técnico e assessoria durante este processo. A adição de produtos, sem critérios e falta de acompanhamento técnico muitas vezes é a principal causa de insucesso.
A parede celular da levedura Saccharomyces cerevisiae é um prebiótico que tem despertado um grande interesse devido ao seu potencial de utilização em rações.
Os prebióticos são aditivos zootécnicos, equilibradores da microbiota ruminal e intestinal, que não são digeridos e que afetam de forma benéfica o hospedeiro, pois estimulam seletivamente o crescimento e a atividade de uma ou mais bactérias benéficas do rúmen ao cólon.
A ação prebiótica é decorrente dos mananoligossacarídeos (MOS), derivados da parede celular de leveduras Saccharomyces cerevisiae. A parede celular da levedura é formada por glucanos e mananos, em proporções similares, e pode conter proteínas, enquanto a quitina está presente em pequena quantidade (aproximadamente 1%).
Os benefícios dos MOS baseiam-se nas propriedades específicas, que incluem:
Estas propriedades têm grande potencial para melhorar o desempenho e diminuir riscos da ação patogênica das micotoxinas.
Além disso, ações utilizando microrganismos com potencial probiótico, que atuem não apenas na estabilização do silo, mas também de maneira efetiva na estimulação de microbiota do animal, bem como também com potencial efeito de adsorção e biometabolização das micotoxinas se torna uma ótima estratégia.
Tanto as BAL e leveduras, tem capacidade de reduzir a biodisponibilidade da toxina no trato gastrointestinal. Ambos os grupos de microrganismos têm sido utilizados há décadas como aditivos naturais na alimentação de humanos e animais de produção.
Este tipo de suplementação tem gerado incremento nos parâmetros produtivos e na saúde dos animais.
Certamente existem muitos protocolos e mecanismos que podem ser explorados e desenvolvidos diretamente na propriedade de forma eficiente, principalmente no que diz respeito a bovinocultura de precisão e com foco na qualidade e produtividade.
Assim, a aplicação de protocolos biotecnológicos associados a modelos de gestão de micotoxinas têm sido as melhores armas e pricipalmente, trazendo resultados significativos.
CONCLUSÃO |
Importante destacar alguns pontos que foram abordados, mas principalmente reforçar que não existem soluções individuais e sem acompanhamento por parte da equipe técnica, conjuntamente com os colaboradores que atuam na propriedade.
Medidas de esclarecim
Demonstra-se que as condições adversas do silo não são satisfatórias para inibir o desenvolvimento fúngico por completo ou mesmo o potencial produtivo de micotoxinas. A gestão e reconhecimento da problemática das micotoxinas é um grande passo nos protocolos de controle das micotoxinas.
A implementação de programas que permitam a adoção de medidas apropriadas para a prevenção e a redução problemáticas ocasionadas pelo desenvolvimento fúngico e potencial produção de micotoxinas é essencial quando se busca qualidade e eficiência na produção.
Ponto importante é que os produtos e práticas de manejo serão adequados e otimizados a cada tipo de
Assim sendo, não existe um protocolo generalizado para ser aplicado. Mas sim, é importante enfatizar a importância do acompanhamento técnico direcionado, com um controle contínuo.
Um entendimento que a agroindústria de eficiência, principalmente focada na bovinocultura entende que o produto de qualidade é totalmente dependente de uma alimentação de qualidade ofertada aos animais, dando condições de expressar todo o seu potencial produtivo, associadas a práticas de manejo sustentáveis e modernas.
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