A Zearalenona (ZEA) é uma micotoxina produzida principalmente por fungos pertencentes ao gênero Fusarium, incluindo F. culmorum, F. graminearum e F. crookwellense, em cereais e rações (Seeling et al., 2006; Mallmann & Simões, 2022). A ZEA é classificada como um metabólito fúngico estrogênico não esteroide, quimicamente descrito como uma lactona do ácido resorcílico (Mallmann & Simões, 2022).
Prevalência
Muitas pesquisas revelaram uma interação potencial entre as concentrações de ZEA em grãos e rações balanceadas e as chuvas que ocorreram em um determinado ano (Bryden, 2012; Audenaert et al. 2014).
O milho é o cereal mais contaminado, embora a ZEA também tenha sido encontrada em soja, arroz, centeio, sorgo, aveia, cevada e produtos de trigo (Zinedine et al., 2007). Gruber-Dorninger et al. (2019) analisaram 74.821 amostras coletadas em 100 países e, dentre as micotoxinas testadas, ZEA é uma das três principais com a maior taxa de contaminação em todas as regiões do mundo, exceto no sul da Ásia.
Com 45% de prevalência e concentração média de 55 μg/kg de Zearalenona entre as amostras positivas. A positividade e a concentração da micotoxina encontrada neste levantamento são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 – Ocorrência global de Zearalenona em amostras de diferentes commodities. Adaptado de Gruber-Dorninger et al. (2019).
Além disso, a América do Sul produziu a terceira maior taxa de contaminação de ZEA em comparação com outras regiões do mundo, e 13,1% das amostras positivas não cumpriram o menor valor de orientação da União Europeia (100 μg/kg) (Gruber-Dorninger et al., 2019).
Na análise de amostras de milho do Brasil foi constatado 78,6% de positividade para ZEA na faixa de concentração de 15,4 a 72,1 μg/kg em 2016. Outro levantamento de micotoxinas de 2022 indicou resultado de ZEA com taxa de prevalência em 69% (Vetanco, 2023), das amostras e uma concentração média de 157 μg/kg, considerada desta forma em alto nível de risco. |
Toxicidade na Produção Animal
A zearalenona é uma micotoxina com efeitos fortemente estrogênicos, hepatotóxicos, bem como imunotóxicos (Azam et al., 2019; Zinedine et al., 2007).
O α-ZEA tem maior afinidade por receptores de estrogênio e, portanto, é mais tóxico que a ZEA, enquanto a β-ZEA tem menor afinidade por esses receptores, tornando-o praticamente nulo (Ropejko & Twaruzek, 2021).
A principal razão para este fenômeno é que o principal metabólito é α-ZEA em suínos, enquanto em ruminantes e aves é β-ZEA (Buranatragool et al., 2015).
E, embora seja fortemente estrogênico, a quantidade de ZEA que se transfere para os produtos animais finais (carne, ovos e leite) é mínima em sistemas agrícolas típicos (Liu & Applegate, 2020), portanto, humanos tem baixa probabilidade de contaminação indireta por meio do sistema da cadeia alimentar. |
Toxicidade nos suínos
Como citado anteriormente, os suínos são considerados como espécie mais suscetível à ZEA, sendo as fêmeas neonatas mais suscetíveis, comparadas com fêmeas maduras e machos (Hennig-Pauka et al., 2018; Liu et al., 2019).
Os efeitos estrogênicos preliminares desta micotoxina induzem distúrbios de fertilidade (infertilidade ou fertilidade reduzida) (Tassis et al., 2022), inibindo a secreção de hormônios esteróides, interferindo na resposta estrogênica na fase pré-ovulatória e na maturação folicular (Zhang et al., 2018; Silva et al., 2021). Na Tabela 2 são apresentados os níveis máximos de micotoxinas em suínos de acordo com a fase de produção. |
Distúrbios de fertilidade causados pela contaminação por ZEA em
Pesquisas de meta-análise descrevem que rações contendo uma média de 3,8 mg/kg de ZEA interferem no desempenho zootécnico, em 15,8% no consumo de ração e 28,8% em reduções no ganho de peso (Hee et al., 2013).
Por fim, considerando os efeitos em futuras gerações, os leitões podem ser expostos aos efeitos da ZEA durante a gestação ou pela ingestão do leite contaminado (Dänicke et al., 2007). |
Diagnóstico
Normalmente, o histórico de introdução de uma partida nova de alimento, às vezes com características macroscópicas alteradas, está associado ao quadro de intoxicação (Dilkin, 2002). O diagnóstico presuntivo é baseado principalmente na observação de sinais clínicos e na análise dos cereais e rações.
O diagnóstico definitivo é realizado através da detecção da micotoxina no alimento dos animais intoxicados. As técnicas laboratoriais mais utilizadas são análises por kits de ELISA, Cromatografia em Camada Delgada (TLC) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC) (Dilkin et al., 2001).
A análise de amostras de cereais e ração é acompanhada por certos desafios, pois as amostras representativas de rações precisam ser coletadas, levando em consideração a distribuição não homogênea de certas micotoxinas dentro de um lote (Miraglia et al., 2005).
Métodos de controle
Na prática, podem ser utilizadas diferentes estratégias para minimizar os efeitos da ZEA na produção de suínos. Assim como há uma grande variedade de micotoxinas, existe uma enorme variedade de métodos de controle. Esses variam desde:
Nos últimos anos, o uso de enzimas para a inativação de micotoxinas tornou-se uma ferramenta segura e efetiva, com ação sobre uma ampla gama de micotoxinas que na sua maioria não são adequadamente controladas por métodos tradicionais.
Os inativadores enzimáticos têm uma atividade biológica que lhes permite alterar a estrutura química das micotoxinas, transformando-as em metabólitos atóxicos e, agindo de forma específica, cada enzima em cada micotoxina, desta forma sem danos colaterais ao animal e/ou a dieta. |
No ensaio, pode-se observar que os adsorventes não tiveram uma boa eficácia sobre a ZEA, uma vez que somente foram capazes de eliminar menos de 40% do desafio inicial. Por outro lado, os produtos enzimáticos apresentaram maior eficiência de eliminação, mas com diferenças muito perceptíveis segundo o pH de ação das enzimas (Figura 2).
É importante também entender as características das enzimas (pH de ação), priorizando as que tenham ação em caráter ácido, pois a inativação já iniciará a nível de estômago. |
Referências bibliográficas sob consulta