A convite da nutriNews Brasil o zootecnista Phyllypi Melo, abordou, durante uma Live, diversos temas da área de nutrição de bovinos de corte, como substituição do milho nas dietas, creep fedding, programação fetal, custo da dieta e muito mais!
O nosso convidado, Phyllypi Melo, é zootecnista de formação pelo Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) campus Bambuí, e tem mais de 10 anos de experiência na área, ele auxilia pecuaristas a tomarem decisões assertivas sobre nutrição animal e manejo de pastagem em suas propriedades, e com isso aumentarem seus lucros.
Veja a seguir os destaques da nossa Live!
Atualmente é economicamente viável fazer o confinamento utilizando milho?
Então, a tendência é que sejam utilizados, cada vez mais, substitutos do milho, por produtos energéticos, como por exemplo casquinha de soja, farelo de arroz, farelo de dendê e vários outros substitutos. O intuito é substituir o milho e baratear a dieta e a diária do pecuarista. Mas é preciso atentar para a regionalidade dos produtos e logística, existe uma variação da disponibilidade entre as regiões do Brasil.
Uma das maneiras de se reduzir o custo é usar a silagem, e normalmente ela é feita de milho, com os altos preços do milho, a silagem de capim é uma boa alternativa?
Então as silagens feitas a base de gramíneas, como Mombaça, MG 12 Paredão, sorgo gigante boliviano, têm ganhado bastante notoriedade na nutrição dos bovinos de corte, principalmente por produzir grandes volumes a baixo custo. Atualmente a silagem de milho está em torno de 200 a 250 reais/tonelada a preço de custo, já para silagem de capim ou sorgo boliviano é possível produzir ao custo de 80 – 100 reais/tonelada, com um volume bem mais expressivo. Então a silagem de capim é uma boa alternativa, mas devem ser realizados ajustes na dieta, especialmente pela falta de energia.
Quais seriam os parâmetros que devem ser observados para produzir e utilizar uma silagem de boa qualidade?
A campo temos outros parâmetros a serem observados, um dos principais fatores é a determinação da matéria seca (MS) no momento da colheita, o ideal é colher o milho com no mínimo 30% de MS para ocorrer uma fermentação anaeróbica correta.
Já em relação a silagem de capim ocorre uma maior variabilidade, pois podemos ter silagens de capim sendo colhidas com 22 e até mesmo 25% de MS, o capim pode também “passar do ponto” devido a um veranico e ser colhido com 28% – 30% de MS, por exemplo. É importante frisar que a MS é o principal índice a ser observado no momento da colheita quando se trata de material destinado para silagem.
Uma outra opção, é o uso do milho reidratado, em que se eleva a umidade do milho a 35 – 38%, fecha o milho no sistema anaeróbico e deixa o milho fermentando para que haja quebra da prolamina, que é uma membrana de proteína que envolve o amido. Deste modo ocorrerá uma maior quantidade de amido e sua maior digestibilidade para o ruminante, e assim tem-se um melhor aproveitamento.
Quais são caminhos que você mais utiliza para baixar os custos da ração e manter a eficiência dos animais? Tem alguma substituição que você, como zootecnista, usa e vê bons resultados?
Especificamente com o milho com um custo tão alto vale a pena incluir os coprodutos possíveis. Inclusive, neste ano, o desafio está na compra dessas mercadorias. Então se o produtor tiver a oportunidade de comprar os coprodutos, sejam eles, caroço de algodão, torta de algodão, DDG, casquinha, dendê, dentre outros, ele deve comprar e incluir na dieta.
O desafio é baratear a ração sem perder desempenho, pois, normalmente os coprodutos tendem a apresentar a energia metabolizável um pouco inferior ao milho.
Fale um pouco da dieta de sequestro e quando ela deve ser usada, e se é uma estratégia viável para o pecuarista.
Sabemos que a partir de junho/julho, principalmente no centro-oeste, ocorre uma queda significativa na qualidade das forragens, por exemplo, quando trabalhamos com brachiaria, andropogon, massai, panicum cultivar Mombaça, na época da seca a proteína das forragens caem para 3%, e fora da seca os níveis são próximos de 10%.
Então no período da seca é comum fechar a dieta pensando no animal não perder peso. Já a dieta de sequestro veio como uma oportunidade para o pecuarista evitar a queda de desempenho, pois além do animal parar de perder peso, ele continuará a ganhar peso mesmo na seca.
Outra vantagem do uso do manejo do sequestro é na formação e manutenção das pastagens, pois retirando uma porcentagem dos animais do pasto o capim, no início das águas, se desenvolverá com maior facilidade e rapidez, assim quando os animais retornarem ao pasto eles terão uma pastagem de maior qualidade.
Qual a meta do ganho médio diário no manejo de sequestro? E quanto tempo os animais permanecem no sequestro?
O que é servido para o animais em sequestro? Eles ficam em confinamento ou a pasto?
A outra opção é reservar um pasto na propriedade, fechar os animais, fazendo um lote um pouco maior, disponibilizando cocho suficiente, entre 40-50 cm por animal, e fornecer silagem e ração balanceada. Essa ração é fechada entre 14 e 15% de proteína e um NDT (Nutrientes Digestíveis Totais) baixo entorno de 65%.
Qual a média de idade de abate no Brasil e qual é a média ideal?
Se o tempo de aleitamento até a desmama é de 8 meses, a recria e engorda vai de 12 meses até 22 meses. Quanto mais rápido é atingido a meta de peso, dentro da programação, mais diluído será o custo fixo. O objetivo é ter eficiência.
A meta do peso ideal é ter uma receita do animal gordo que seja responsável por duas a três vezes o preço do bezerro na desmama.
A silagem representa qual porcentagem no total da dieta?
Assim, a oferta da silagem vai variar entre 15 e 18kg/cabeça/dia. É até interessante de observar que um bezerro ao desmame irá consumir mais silagem que um boi gordo, devido a proporção de silagem oferecida. Pois um animal jovem, na dieta de sequestro com aproximadamente 7@ consumirá 17-16kg de silagem/dia, já um boi gordo com aproximadamente 18@ irá consumir 9 a 10kg de silagem.
A frequência da suplementação dos animais afeta o ganho de peso médio?
Já para animais a pasto, a variação será de acordo com o tipo de suplementação, se for suplementação proteica de 1g/kg, o fornecimento geralmente ocorre 2 a 3x por semana; sal mineral 2 a 3x por semana. A partir do momento em que se adensa a dieta pasto:suplemento é necessário fornecer suplemento aos animais mais vezes. O ideal acima de 0,3 do peso vivo é fornecer suplementação aos animais diariamente e adequar os coxos ao número de animais.
Foi realizada uma pesquisa interessante em que foi avaliado o fornecimento de ração ou proteico:energético de segunda a segunda, ou seja, todos os dias da semana sem interrupção versus fornecimento de ração ou proteico:energético de segunda e sexta, excluindo-se o fornecimento aos finais de semana, sábado e domingo. Porém, o volume total fornecido aos animais foi o mesmo. Como resultado, não houve diferença no GMD (ganho médio diário) entre os tratamentos. Essa pesquisa é muito importante, pois no manejo da fazenda, as vezes, não se tem tantos funcionários disponíveis aos finais de semana, então de acordo com a necessidade da fazenda, pode-se distribuir ao longo da semana o que seria fornecido de suplementação ao final de semana.
Falando de animais mais jovens, ainda não desmamados, qual é o momento ideal para entrar com o creep feeding?
Desse modo, para os produtores que fazem estação de monta, os nascimentos ocorrem por volta de agosto para carimbo 8, carimbo 9 em setembro/outubro, de acordo com a estação de monta. Então para os animais que nascem em agosto o início do creep feeding seria a partir de novembro.
O manejo do creep feeding acelera o desenvolvimento do rúmen de maneira surpreendente, então a meta é fazer o animal consumir em torno de 80 a 90kg de ração no período de 150 dias. E propiciar o ganho de uma @ a mais.
Creep feeding e desmama precoce A desmama precoce é tirar o animal do aleitamento a partir dos 60 dias de vida, o que é diferente do creep feeding, em que o animal permanece no aleitamento, porém tem acesso a ração em local exclusivo, a vaca fica do lado de fora. A desmama precoce pode ser considerada bem agressiva do ponto de vista da natureza do animal. Fazendo um bom trabalho durante o verão, e com as vacas parindo em agosto/setembro com um escore corporal adequado, entre 3 e 4, não é necessário fazer a desmama precoce. É importante acrescentar que financeiramente a desmama precoce não agrega tanto ao produtor, especialmente com os valores dos insumos praticados atualmente. |
Quais são os pontos chave na nutrição das matrizes e programação fetal?
Isso condiz também, com três benefícios, que são eles, focar na melhoria da produção da fibra do feto, sabemos que a miogênese 1 e 2 (formação das fibras do feto) acontece de 60 até 150 dias de gestação, então com o fornecimento de uma nutrição com proteína e energia adequada para a matriz, o pecuarista estará favorecendo a formação dessas fibras e consequentemente a formação dos adipócitos, que é correlacionado ao rendimento de carcaça do animal na fase adulta.
O segundo beneficio da nutrição adequada das matrizes, ao proporcionar as vacas um escore adequado no momento da gestação e 120 – 130 no pós parto, é que a matriz terá que se manter, propiciar o desenvolvimento do feto e depois produzir leite para o bezerro ao pé; é uma “mantença tripla”, uma matriz bem alimentada produzira mais leite e consequentemente zela melhor do seu bezerro ao pé.
A vantagem número três, seria que, ao invés de se trabalhar o creep feeding exclusivamente para o bezerro e fornecer um sal com ureia para a vacada, pode-se substituir o sal com ureia por um proteico de baixo consumo. Assim, será oferecido uma proteína verdadeira para a matriz, que produzirá mais leite e beneficiará o bezerro indiretamente.
O que é fornecido aos bezerros no creep feeding?
O manejo de creep feeding para ser eficiente deve ter o fornecimento de uma ração preferencialmente sem ureia e com aditivo adequado.
Para saber o que suplementar e como suplementar é importante saber o objetivo do pecuarista, se o bezerro ficará na propriedade para recria e engorda ou se ele será comercializado. Caso o bezerro permaneça na propriedade, o produtor precisa de ter consciência que na desmama o trabalho com bezerro deve continuar, com a suplementação proteico:energética, do contrário ele vai gastar durante o aleitamento e posteriormente, caso o trabalho não seja continuado, o bezerro irá regredir. Porém, é necessário um trabalho de caixa, pois esse manejo é oneroso.
Porém, se o objetivo é a venda do bezerro por peso, quanto maior o peso do animal, maior o ganho do produtor, a partir do momento que a conta financeira fecha. Porém, o creep fedding é um dos melhores ganhos de peso da pecuária, o animal ganha peso proporcional a um bovino adulto a pasto. Geralmente, travamos o fornecimento de suplemento a 0,6 – 0,7 do peso vivo dos bezerros, pois se deixar os bezerros comerem suplementação a vontade facilmente eles alcançam 1% do peso vivo/dia.
Como considerações finais, o especialista frisou que a palavra de ordem agora é que cada vez mais o pecuarista se planejar e buscar alternativas para substituir a fonte de energia principal, que é o milho. O papel do zootecnista e do veterinário é cada vez mais orientar e auxiliar o pecuarista a ir atrás de novas alternativas de insumo, pois o nosso trabalho tem como objetivo o lucro do pecuarista.