O desafio de substituir o milho e a soja na alimentação de suínos e aves
Adicionalmente, o país tem uma elevada dependência da soja como fonte de proteína para a alimentação de suínos e aves. A demanda interna para a soja para o ano de 2021 é estimada em 37,1% da produção (50,44 milhões de t este ano contra 48,99 milhões de t em 2020), os estoques finais serão mais elevados mesmo com maior exportação (estimativa de 85,6 milhões de t).
No entanto, a procura por ingredientes mais baratos visando a produção de dietas menos onerosas nem sempre conduz a resultados econômicos satisfatórios. Além de custo compatível, as alternativas para substituir o milho e o farelo de soja devem ter alta metabolização dos nutrientes e proporcionar desempenho animal equivalente ao oferecido pelos ingredientes convencionais. Da energia bruta total dos grãos, os animais aproveitam, em média, apenas 86,1% do milho e 77,2% do farelo de soja sob a forma de energia metabolizável.
Entre os ingredientes energéticos existem as opções de verão (Tabela 1) e as de inverno (Tabela 2). Na Tabela 3 estão apresentadas as alternativas proteicas.
Tabela 1 – Concentração de proteína bruta na matéria seca (PB, %) e aproveitamento energético (em % da energia bruta) de ingredientes produzidos no verão e subprodutos derivados usados em rações de suínos e aves
Já o farelo de arroz integral, resultante da produção do arroz branco para consumo humano, tem alto valor nutricional e uma produção de cerca de 1,2 milhão de toneladas anuais.
Tabela 2 – Concentração de proteína bruta na matéria seca (PB, %) e aproveitamento energético (em % da energia bruta) de cereais de inverno e seus subprodutos derivados usados em rações de suínos e aves
Entre os cereais de inverno, o trigo está disponível em maior volume e é fruto da rígida seleção genética com base em padrões de qualidade para a panificação. Em anos de chuva no período de maturação da lavoura, o grão de trigo que germina na espiga vai para alimentação animal.
Para que seja viável o uso dos cereais de inverno na produção de suínos e aves algumas condições básicas devem ser preenchidas:
- atendimento pleno ao consumo humano e industrial com a qualidade necessária
- qualidade nutricional ainda suficiente na condição de ingrediente de rações
- remuneração atrativa ao produtor para que esteja assegurada uma produção plena desses ingredientes
- produção aumente ano a ano na medida das demandas, organização dos canais de comercialização e contratos de compra antecipada das produções
Em termos de disponibilidade o maior potencial para a substituição do farelo de soja são os subprodutos processados do caroço de algodão (cerca de 3,5 milhões t). Porém, falta agregação de valor a esses produtos como a retirada parcial das cascas do farelo para reduzir o conteúdo de fibra bruta e aumentar a digestibilidade dos nutrientes. O aquecimento excessivo na extração do óleo torna a proteína e os aminoácidos do farelo menos digestíveis. Entre as demais opções (Tabela 3) o farelo de amendoim apresenta o valor nutricional mais próximo ao farelo de soja.
Tabela 3 – Concentração de proteína bruta na matéria seca (PB, %) e aproveitamento energético (em % da energia bruta) de ingredientes proteicos usados em rações de suínos e aves
Por Jorge Vitor Ludke e Teresinha Marisa Bertol
pesquisadores da Embrapa