Crédito rural mais verde e exigente: o que o novo Plano Safra sinaliza para a nutrição animal
As mudanças introduzidas pelo Plano Safra 2025/2026, analisadas em relatório técnico da Agroicone, devem influenciar diretamente a oferta e os custos dos principais insumos usados na formulação de rações. O relatório aponta que critérios de sustentabilidade, regras climáticas e acesso ao crédito rural estão cada vez mais integrados, o que exige atenção redobrada da cadeia de nutrição animal.
De acordo com a publicação da Agroicone, divulgada em julho, houve um aumento nominal nos recursos destinados à agricultura empresarial e familiar, totalizando R$ 594,43 bilhões. Porém, mais do que o volume, chama atenção o direcionamento das políticas de crédito para práticas sustentáveis — uma tendência que pode afetar a previsibilidade da produção de grãos como milho e soja, insumos centrais na alimentação de monogástricos e ruminantes.
Uma das principais novidades é a exigência, agora obrigatória, de observância ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) em todas as operações de custeio agrícola. Isso significa que produtores que buscam financiamento para plantar grãos precisarão seguir períodos e locais recomendados como de menor risco climático. A medida tende a reduzir perdas, mas também pode limitar a janela de plantio e, consequentemente, a disponibilidade futura de matéria-prima.
Além disso, o relatório destaca que produtores que adotarem sistemas produtivos sustentáveis — como integração lavoura-pecuária, plantio direto, recuperação de pastagens e manejo de resíduos — terão acesso a taxas de juros mais baixas, especialmente por meio das linhas RenovAgro. Esses estímulos financeiros devem acelerar a transição de sistemas produtivos e impactar a oferta de grãos ao longo dos próximos ciclos.
Outro ponto de atenção trazido pela Agroicone é a redução nos recursos operados diretamente pelo BNDES, com maior protagonismo das instituições financeiras privadas por meio de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e recursos próprios. Isso pode tornar o acesso ao crédito mais competitivo e restritivo para produtores com menor estrutura técnica ou sem certificações de sustentabilidade reconhecidas.
A análise também chama atenção para a possibilidade de antecipação da compra de insumos — como rações e suplementos — com financiamento prévio ao contrato formal de crédito rural. Essa mudança tende a beneficiar cadeias integradas ou pecuaristas mais capitalizados, mas também reforça a importância de planejamento antecipado por parte das empresas de nutrição animal.
Para o mercado de nutrição, os dados apresentados pela Agroicone reforçam que a oferta e o custo dos grãos estarão cada vez mais condicionados a variáveis não apenas de mercado, mas de clima, compliance ambiental e acesso a crédito regulado. Empresas que atuam no setor devem acompanhar com atenção as movimentações do Plano Safra e as diretrizes do Conselho Monetário Nacional, uma vez que podem interferir na previsibilidade de preços e no abastecimento ao longo do ano.
O relatório completo está disponível no site da Agroicone e faz parte de uma série de publicações anuais que analisam a execução e os efeitos das políticas agrícolas sobre a produção nacional. A edição de 2025 também traz propostas da entidade para aprimorar a alocação de recursos, ampliar o alcance do crédito verde e fortalecer a integração entre crédito rural, seguro agrícola e gestão de riscos climáticos.