O uso de óleos essenciais como anestésicos em piscicultura
Essas moléculas estão presentes em pequenas quantidades nas partes das plantas (raízes, folhas, caules, flores, frutos) e para que se obtenha quantidades maiores são feitos os extratos botânicos ou a obtenção dos óleos por hidro destilação. Esses produtos (extratos ou óleos) são analisados em laboratório para ser traçado o seu perfil de componentes químicos. Dessa forma, é possível direcionar as pesquisas a respeito dos usos potenciais destes extratos e princípios ativos.
Nas práticas rotineiras na piscicultura, o manejo inevitavelmente está presente, sendo os peixes manuseados para fins de gerenciamento de campo da produção, como em pesagens, contagens, transporte e transferências entre tanques.
Entretanto, nessas ocasiões o equilíbrio dos peixes com o ambiente é quebrado, de forma que o metabolismo animal se altera no sentido de produzir energia extra para ser utilizada em fugas, lutas ou adaptações fisiológicas dos animais às novas condições. Esse conjunto de reações do metabolismo é chamado estresse que, quando em intensidade e duração excessiva, pode comprometer a produção aquícola.
Porém, um dos únicos anestésicos regulamentado para peixes é a tricaina metano sulfonato (MS 222). Além de ser um produto importado, apresenta custo inacessível para muitas unidades de piscicultura no Brasil. Em adição, necessita de período de carência de 21 dias após o seu uso.
O anestésico natural para peixes mais estudado é o óleo de cravo, extraído de partes da planta de cravo da Índia por hidro-destilação. O seu componente majoritário é o eugenol. Um produto anestésico comercial para peixes é produzido a partir do isoeugenol e descrito em outros países, como Austrália. O óleo de cravo tem vasto uso em seres humanos como aromatizantes em alimentos e, na odontologia, o eugenol é amplamente utilizado na composição do preenchimento temporário com o óxido de zinco.
Isso quer dizer que se um peixe que foi anestesiado com eugenol for acidentalmente consumido, o indivíduo estaria exposto a uma quantidade de eugenol muito menor do que a recebida em uma restauração dentária. Além do mais o tempo de eliminação do eugenol é muito inferior aos 21 dias citado acima para o MS 222.
Diversos grupos de pesquisas no Brasil têm estudado o uso de óleos essenciais como anestésicos naturais para peixes. Destacam-se os estudos com os:
- óleos de cidreira (Lippia alba)
- alecrim pimenta (Lippia sidoides)
- alfavaca cravo (Ocimum gratissimum)
- jambú (Spilanthes acmella)
- cidrão (Aloysia tryphila)
- melaleuca (Melaleuca alternifólia).
Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste trabalham com o uso de óleos essenciais na aquicultura. Possuem patentes depositadas e seguem os trabalhos buscando parcerias para o lançamento de produtos naturais no mercado. A Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) obteve bons resultados em um projeto financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado do Mato Grosso do Sul (Fundect TO 126/2016).
Na região Sul do Brasil destaca-se a Universidade Federal de Santa Maria com trabalhos de uso de óleos essenciais como anestésicos do bagre jundiá.
De forma geral, os peixes não devem ficar mais do que 5 a 10 minutos nas soluções anestésicas sob o risco de não retornarem da anestesia ou sofrem danos irreversíveis como descrito na literatura científica nas córneas e lamelas branquiais.
Muitos trabalhos avaliam respostas fisiológicas de peixes anestesiados com óleos essenciais. Amostras de sangue e tecidos são coletadas antes, durante e depois dos banhos anestésicos. De maneira geral, as alterações fisiológicas estudadas são detectadas com mais intensidade logo após as exposições aos óleos essenciais como anestésicos. Recuperação total dos indivíduos deve ser observada poucas horas depois.
No que se refere ao tempo de eliminação de componentes majoritários dos óleos essenciais da corrente sanguínea de peixes, foi constatado que peixes anestesiados com os óleos de Lippia alba e Lippia sidoides eliminaram a maior parte em menos de duas horas depois da anestesia e retorno à agua limpa livre de qualquer produto. Vinte e quatro horas após as concentrações na corrente sanguíneas eram mínimas até que em 48 h eram indetectáveis.
A prática do uso de anestésico no manejo de peixes é necessária e importante. Para tal, existem inúmeros produtos disponíveis no mercado, com destaque aos óleos essenciais. Os produtores precisam utilizá-los da forma correta e segura, de maneira que os benefícios do uso de anestésicos sejam obtidos sem trazer transtornos à sua produção.
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