O uso de pré e probióticos na alimentação de monogástricos
Sua microbiota está associada a uma ampla gama de funções dentro do hospedeiro, incluindo a fermentação de macronutrientes complexos, produção de nutrientes e vitaminas, proteção contra patógenos e manutenção do equilíbrio do sistema imunológico (Han et al., 2018; Li et al., 2020; Yin et al., 2018, 2020).
Estudos recentes indicaram que a dieta tem considerável efeito sobre a modulação da microbiota intestinal (Donaldson et al., 2016; Lalles, 2016). Alguns dos principais aditivos utilizados na nutrição animal para modulação da microbiota intestinal são os pre e probióticos
Probióticos |
Desde então, os probióticos mais frequentemente usados em monogástricos são as leveduras (Saccharomyces boulardii e S. cerevisiae) e as bactérias (Lactobacillus spp., Enterococcus spp., Pediococcus spp., Bacillus spp.) que tem como local de ação o ceco e o cólon.
Os benefícios mais comuns do uso dos probióticos para monogástricos são:
É importante destacar que os probióticos desempenham um importante papel na prevenção de diarreia em leitões. Além disso, probióticos como Enterococcus faecium e Bacillus subtilis podem reduzir a concentração de amônia nas excretas das aves (Dhama et al. 2008), o que auxilia na manutenção da cama, na qualidade do ar nos galpões, na redução de problemas respiratórios e de queimaduras de coxim plantar.
Lactobacillus
Algumas espécies do gênero Lactobacillus utilizadas como aditivo alimentar demonstraram habilidades benéficas, em particular para reduzir a mortalidade em peixes, melhorar o desempenho de crescimento em leitões, melhorar a produção e a qualidade dos ovos nas aves.
Além disso, os Lactobacillus foram associados à melhora dos mecanismos de defesa imunológica em peixes e na redução da contaminação por Salmonella em frangos de corte.
Bifidobacterium
As bifidobactérias são encontradas em grande número no intestino de animais e humanos. Sua presença geralmente indica a boa saúde intestinal do hospedeiro. Quando utilizada como aditivo alimentar em leitões, a espécie Bifidobacterium pseudolongum mostrou resultados significativos com melhor taxa de conversão alimentar.
Em aves, as espécies Bifidobacterium animalis, Bifidobacterium thermophilum e Bifidobacterium longum, quando usadas como aditivo alimentar, demonstraram, respectivamente, sua capacidade de reduzir a coccidiose em frangos infectados com Eimeria tenella, atividade protetora contra Salmonella e Listeria in vitro e contra E. coli em frangos.
No geral, as bactérias pertencentes ao gênero Bifidobacterium possuem potencial como aditivo para rações e como alternativa aos antibióticos convencionais.
Bacillus
Algumas bactérias deste gênero, como Bacillus subtilis, são regularmente usadas como suplemento alimentar, especialmente na piscicultura e na avicultura. Diversas pesquisas demonstraram que essas espécies possuem alto potencial de imunomodulação e proteção contra doenças.
Bacillus licheniformis também mostraram aptidões probióticas, quando usadas como aditivo alimentar em suínos, e se mostraram eficazes contra a diarreia que ocorre em leitões em 3-10 dias após o desmame causada por cepas enterotóxicas de E. coli.
Embora algumas espécies como Bacillus cereus possam causar problemas devido às endotoxinas e toxinas eméticas que produzem, bactérias do gênero Bacillus utilizadas como probióticos têm potencial e podem ser utilizadas na produção segura e como alternativa aos antibióticos convencionais.
Enterococcus é um membro comum da microbiota intestinal endógena de humanos e animais. Cepas de Enterococcus têm sido usadas como aditivos para rações em aves e suínos como alternativas ao uso de antibióticos nas rações. A cepa E. faecium demonstrou capacidade de estimular outras bactérias ácido lácticas (especialmente Lactobacillus) no intestino delgado de perus, melhora na conversão alimentar, na morfologia intestinal e manipulação benéfica da microflora cecal em frangos em frangos.
Porém, o gênero Enterococcus não apresenta apenas vantagens, pois essas bactérias podem participar da transmissão da resistência aos antibióticos. Além disso, esse gênero é frequentemente associado à patogênese, como infecções do trato urogenital e endocardite. Apesar de ter demonstrado bons resultados, o uso de probióticos pertencentes a este gênero deve ser verificado previamente para utilizar somente cepas que não apresentem qualquer perigo à saúde do animal.
Saccharomyces
Resultados positivos do uso de S. cerevisiae também foram observados em peixes. Sendo capaz de melhorar o crescimento, as respostas hematológicas, antioxidantes e imunológicas da tilápia do Nilo, melhorar a resistência da tilápia do Nilo contra o fungo patogênico A. flavus, bem como aumentar a resposta imune inata da dourada. Outras espécies pertencentes a este gênero, como Saccharomyces carlsbergensis, também são utilizadas como probióticos na alimentação animal.
Prebióticos |
O conceito prebiótico foi iniciado pela primeira vez em 1995 por Gibson e Robertfroid (1995) e sofreu algumas alterações ao longo do tempo (Tabela 1).
Tabela 1. Definições de prebióticos
- 1995 “Componentes alimentares não digeridos que, por meio da estimulação do crescimento e/ou atividade de um único tipo ou de uma quantidade limitada de microrganismos residir no trato gastrointestinal, melhora a condição de saúde de um hospedeiro” (Gibson e Roberfroid, 1995)
- 2004 “Um componente fermentado seletivamente que permite mudanças específicas na composição e/ou atividade de microrganismos no trato gastrointestinal, sendo benéfico para a saúde e o bem-estar do hospedeiro” (Gibson et a., 2004)
- 2007 “Componente alimentar inviável que confere um benefício à saúde do hospedeiro associado à modulação da microbiota” (FAO, et a., 2007)
- 2010 ‘Prebióticos dietéticos’ como “um ingrediente fermentado seletivamente que resulta em mudanças específicas na composição e/ou atividade gastrointestinal da microbiota, conferindo assim benefício(s) à saúde do hospedeiro” (Gibson et al., 2010)
- 2015 “Composto não digerível que, por meio de sua metabolização por microrganismos no intestino, modula a composição e/ou atividade da microbiota intestinal, conferindo assim um efeito fisiológico benéfico ao hospedeiro” (Bindels et al., 2015)
- 2016 “Substrato que é utilizado seletivamente por microrganismos hospedeiros, conferindo benefício(s) à saúde” (Gibson et al., 2017)
Os prebióticos, são carboidratos indigestíveis, sendo considerados fibras funcionais que não são digeríveis por bactérias patogênicas e nem pelas aves e suínos, sendo digeríveis apenas pelas bactérias benéficas. |
Sendo, MOS, GOS e FOS os mais estudados e utilizados com aditivos na nutrição animal.
De acordo com Wang (2009), existem cinco critérios básicos para classificação de alimentos como prebióticos:
Modo de ação
Os prebióticos não são digeridos no TGI superior e acredita-se que sejam fermentados por bactérias seletivas assim que chegarem ao cólon. O ambiente no cólon é adequado para fermentação e crescimento comensal devido ao seu trânsito lento, disponibilidade de nutrientes e pH.
Assim, o ambiente ácido no cólon pode alterar a composição da microbiota, o que ajuda a suprimir o crescimento de alguns patógenos potenciais, como E. coli, Clostridium, Streptococcus faecalis e Proteus, e aumenta a crescimento de algumas bactérias benéficas, incluindo bifidobactérias, lactobacilos e Eubacterium (Morrison e Preston, 2016; O’Callaghan e van Sinderen, 2016; Zhang et al., 2015).
Os prebióticos podem estimular ou modular o sistema imunológico. Um dos mecanismos de modulação imunológica pelos prebióticos é atribuído ao estimulo da imunidade humoral por meio da interação do açúcar com receptores específicos localizados nos macrófagos e células dendríticas, que induzem a liberação de citocinas e proliferação de linfócitos (Saad et al., 2013).
A fermentação de carboidratos no cólon leva à produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), principalmente acetato, propionato, butirato e outros metabólitos, como lactato, piruvato, etanol e succinato (Janssen e Kersten, 2015; Sarbini e Rastall, 2011; Slavin, 2013).
Os AGCC são importantes pois podem reduzir a fermentação de proteínas no trato intestinal. O butirato, por exemplo, regula o crescimento celular e induz diferenciação e apoptose no intestino delgado, resultando em proliferação celular melhorada e digestão e absorção capacidades do intestino delgado (Linberg, 2014; van der Aar et al., 2017).
A presença de prebióticos como oligossacarídeos no intestino também pode aumentar a resistência de cepas probióticas por propriedades de adesão bacteriana. Os oligossacarídeos também auxiliam na manutenção da integridade da mucosa intestinal, aumentando a altura das vilosidades, a liberação de mucina e a composição do biofilme da mucosa (Wan et al., 2018a; Yasmin et al., 2015).
Alguns probióticos podem modular o sistema imunológico por ligação dos receptores da proteína G dentro tecido linfático associado ao intestino ou GALT. Outro modo de ação é via estimulo da produção de muco, diminuindo a conexão entre as bactérias e a barreira epitelial, aumentando a resistência celular e secreção imunoglobulina A (IgA) (Bischoff et al., 2014; Celi et al., 2019).
Pode-se observar que o uso de pré e probióticos é benéfico para a saúde, bem-estar e eficiência produtiva de aves e suínos. Esses aditivos, se bem utilizados, podem trazer diversos ganhos à produção animal, especialmente com as restrições crescentes aos antibióticos.
Confira a Tabela 2021 exclusiva de Pré e Prebióticos nutriNews Brasil
O uso de pré e probióticos na alimentação de monogástricos
Autora: Márcia G. L. Cândido
Veterinária e doutora em Construções Rurais e Ambiência DEA/UFV | Editora nutriNews Brasil
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