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Os desafios da alta produtividade, inflamação e lesões nos cascos de porcas

Escrito por: Ton Kramer -

INTRODUÇÃO

A produção animal atual, intensiva e de alta produtividade é oportunidade para manifestações de estresse frequentes e aumento na susceptibilidade de doenças. Na reprodução, por exemplo, a alta prolificidade resulta em maior demanda de nutrientes e espaço para garantir o desenvolvimento fetal.

Isto nem sempre é alcançado e pode ser evidenciado pelo aumento do número de leitões nascidos com baixo peso e que, muitas vezes, têm dificuldade de sobrevivência.

Durante a lactação, porcas com boa produção de leite tem altas necessidades nutricionais, que podem levar a intenso catabolismo que, por sua vez, podem comprometer sua saúde, bem-estar e desempenho reprodutivo futuro (PRUNIER et al., 2010).

Entender a relação entre estresse e inflamação, seus impactos na reprodução e no crescimento dos suínos, e adotar meios para minimizar os efeitos negativos, de maneira a oportunizar o máximo desempenho dos animais, em condições de conforto e bem-estar animal, são necessários.

RELAÇÃO ENTRE REPRODUÇÃO, INFLAMAÇÃO E ESTRESSE

A fisiologia reprodutiva normal, incluindo todos os processos da inseminação ao parto, envolve uma série de processos regulados por mediadores inflamatórios, como citoquinas, fatores de crescimento e medidores lipídicos que regulam, por sua vez, respostas imunes e vasculares (JABBOUR et al., 2009; GEISERT et al., 2014).

Os processos reprodutivos são regulados por eventos inflamatórios.

Estresse, especialmente crônico, está associado ao desenvolvimento de processos inflamatórios, principalmente devido ao aumento na resistência de receptores de glicocorticoides.  Isto resulta em falhas na regulação negativa da resposta inflamatória (MAES et al., 2009; COHEN et al., 2012; PFAU & RUSSO, 2015).
Estas interferências no sistema imune levam a alterações hormonais em diferentes níveis, que, por sua vez, prejudicam o processo reprodutivo, resultando em falhas reprodutivas, queda no desempenho e descarte precoce de reprodutoras.

OS DESAFIOS NA SUINOCULTURA

Avaliações de porcas descartadas por baixo desempenho ou falha reprodutiva (KNAUER et al., 2007; DE JONG et al., 2014) observaram que o aparelho reprodutor, em geral, não apresentava problema. No entanto, outras lesões, especialmente nos cascos, estavam presentes na maioria dos animais descartados (KNAUER et al., 2007).
Em levantamento realizado no Brasil (KRAMER, 2016), observou-se que 99% das porcas apresentavam lesões nos cascos e 30% tinham lesões severas, com inflamação evidente.

Cascos saudáveis são indicadores de saúde. Lesões nos cascos estão entre as principais causas de perdas reprodutivas e descarte precoce de porcas.

Com isso, fica claro que falhas reprodutivas estão associadas a outras causas primárias e a inflamação é fator determinante para suas ocorrências.

Com relação ao ambiente, instalações e manejo, altas temperaturas e umidade associados, comuns à suinocultura brasileira, levam os animais a quadros de estresse intenso pelo calor, com consequentes respostas vasculares e desenvolvimento de inflamação sistêmica e estresse oxidativo (BAUMGARD, 2012).

Somado a isso, o processo reprodutivo, especialmente no periparto, resulta em intenso estresse oxidativo (BERCHIERI-RONCHI et al., 2011), o que também pode levar à infertilidade (RUDER et al., 2009).

É interessante observar que os efeitos da inflamação ocorrem antes mesmo da manifestação clínica da doença ou do estresse. Alterações séricas de metabólitos, mediadores inflamatórios e proteínas de fase aguda foram identificadas várias semanas antes de vacas demonstrarem sinais de claudicação, com consequente efeito negativo na reprodução (ZHANG et al., 2015).

Inflamação intensa, aguda ou crônica, resulta em reprogramação do metabolismo, resultando em menor consumo de alimentos, interrupção dos processos anabólicos e aumento das atividades catabólicas, o que leva ao consumo das reservas corporais e a perda de produtividade (TAYEK, 1996; SPURLOCK, 1997; MARCO-RAMELL et al., 2016).

Um estudo realizado com vacas leiteiras (KVIDERA et al., 2017) demonstrou que infecção e inflamação promovem considerável redistribuição e alteração das necessidades de nutrientes pelo sistema imune. Quando ativado, observou-se que a demanda por glicose aumentou 1 kg em um período de 12 horas, tendo sido desviado de outros processos fisiológicos, especialmente aqueles relacionados com a reprodução.


Além do aumento da demanda de fontes de energia, o estresse oxidativo e os processos inflamatórios elevam a necessidade de aminoácidos e nutrientes antioxidantes, como vitaminas A e E, e os microminerais zinco, manganês, cobre, selênio e cromo (BERCHIERI-RONCHI et al., 2011; BATISTEL et al., 2016; MENEZO et al., 2016; JAROSZ et al., 2017).

 

Durante periparto há intenso estresse oxidativo, demandando atenção especial no fornecimento de nutrientes que atuam no sistema antioxidante, como vitaminas A e E, e os microminerais Zn, Cu, Mn, Se e Cr.

Assim, situações adversas podem resultar em uma condição de deficiência relativa, na qual a disponibilidade dos nutrientes disponíveis é inferior à demanda nos processos fisiológicos alterados.

Zinco, em especial, tem efeito direto na modulação da resposta imune e em atividades antioxidantes e anti-inflamatórias, pois atua na redução da ativação de um fator nuclear que regula os mediadores inflamatórios (JAROSZ et al., 2017).

Os mediadores inflamatórios circulantes comprometem a produção e secreção dos hormônios gonadotróficos, podem levar à morte células do ovário e comprometer a produção do estrogênio (RIVEST & RIVIER, 1995; TOMASZEWSKA-ZAREMBA & HERMAN, 2009; KIM et al., 2013; GEISERT et al., 2014).

SOLUÇÕES PARA OS DESAFIOS

Reduzir a ocorrência do estresse e da inflamação é fundamental para garantir a máxima produtividade dos animais, de acordo com seu potencial genético.

Para tanto, é necessária a adoção de pelo menos três medidas:

IDENTIFICAR os problemas associados ao estresse e à inflamação, seu tamanho e suas causas; p.ex.: lesões nos cascos – prevalência, severidade e possíveis causas;


CONTROLAR e CORRIGIR os problemas e suas causas; p.ex.: melhorar a qualidade do piso, consertar piso ripado danificado e corrigir espaçamento entre vigas; e


PREVENIR a ocorrência dos problemas, com ações que mitiguem os riscos; p.ex.: manutenção periódica das instalações e aporte nutricional adequado.

Estas três medidas devem considerar os fatores relacionados com bem-estar animal, de maneira a diminuir ao máximo a ocorrência do estresse, infecção, irritação, injúria e consequente inflamação, incluindo:

Genética – melhoramento genético e seleção de animais;

Sanidade – biosseguridade e manejo sanitário;

Manejo e instalações – conforto e segurança; e

Nutrição – água potável e alimento balanceado, em quantidade adequada, e o uso de
fontes nutricionais, especialmente minerais, efetivamente absorvíveis e metabolicamente ativos, como complexo mineral aminoácido.

CONCLUSÕES

Reprodução é um processo fisiológico diretamente ligado ao sistema imune, sendo regulado por mediadores inflamatórios;

A liberação de mediadores inflamatórios, em resposta ao estresse ou inflamação, resulta em mudanças na priorização e utilização de nutrientes pelo organismo;

Quando o sistema imune se ativa, utiliza cada vez mais energia para controlar a inflamação, infecção ou injúria, sequestrando energia que seria destinada ao aparelho reprodutivo;

Em situações de inflamação intensa, há redução no consumo de alimentos e mobilização das reservas corporais;

A redução de nutrientes disponíveis para a reprodução, em função da ativação do sistema imune, altera a produção de hormônios e o desempenho reprodutivo;

A concentração de nutrientes antioxidantes (Zn, Mn, Cu, Cr, Se, Vit. A, C e E) na dieta devem ser reavaliadas quanto a níveis e fontes, especialmente para evitar e controlar estresse oxidativo excessivo; e

Claudicação e lesões de casco devem ser prevenidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Artigos disponíveis com o autor: tkramer@zinpro.com

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