A pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeito estufa
Gases de efeito estufa e a produção de bovinos
Os gases do efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são responsáveis por absorver parte da radiação solar irradiada pela superfície terrestre de forma a impedir que todo calor proveniente do sol retorne para o espaço. Essa ação é conhecido como “efeito estufa”.
A pecuária é considerada por muitos uma das responsáveis pelo efeito estufa, apesar das emissões globais de GEE da atividade representarem 14,5% do total das emissões antrópicas (Gerber et al., 2013). Desse total, a emissão de metano pela pecuária contribui isoladamente com cerca de 6% das emissões (Gerber et al., 2013).
Origem do metano ruminal
O CH4 é produzido em todos os ambientes anaeróbicos (muito baixa concentração ou ausência de oxigênio), tais como em áreas alagadas (pântanos, produção de arroz irrigado), sedimentos marinhos e tubo digestivo dos animais.
Nos ambientes anaeróbicos, como o rúmen (compartimento do tubo digestivo de animais ruminantes – bovinos), os componentes da dieta (principalmente carboidratos) são digeridos a seus açúcares (principalmente glicose) fermentados a ácidos graxos de cadeia curta (AGV), CO2 e H2 pela ação de micro-organismos.
A maior concentração de H2 no rúmen pode afetar de maneira negativa a ação digestiva e o crescimento da microbiota. Para reduzir o excesso de hidrogênio no meio ruminal, as bactérias metanogênicas utilizam o H2 como fonte de energia e o converte juntamente com o CO2 a metano.
Os organismos metanogênicos ruminais usam H2 como fonte de energia e reduzem o CO2 a CH4 contribuindo para a máxima eficiência dos eventos que ocorrem no rúmen.
Embora necessária para o ecossistema ruminal, a produção de metano no rúmen representa uma perda de energia da dieta que varia de 4 a 14%. Desta forma, a redução da produção desse GEE pela atividade pecuária é fundamental para melhoria da eficiência de utilização energética da dieta pelos animais. Portanto, a redução de produção de metano no rúmen tem importância de cunho nutricional e ambiental.
Estratégias de mitigação
Para que ocorra a formação de metano no rúmen é necessário que haja produção de H2 pelos micro-organismos que degradam a matéria orgânica da dieta. A maioria das estratégias de controle de CH4 têm sido voltadas para reduzir a produção de H2.
Desta forma, considerando que a produção de acetato no rúmen gera mais H2 que a produção de propionato, várias estratégias de controle da produção de metano envolvem a redução da produção de acetato e aumento da produção de propionato no ambiente ruminal.
Adicionalmente, o estímulo ao uso do H2 para outros fins (produção de acetato e redução do nitrato e sulfato), bem como a inibição direta dos organismos metanogênicos, tem sido avaliado objetivando mitigar a produção de metano ruminal.
Neste sentido, várias estratégias de controle da produção de CH4 no rúmen se baseiam na alteração da fermentação ruminal através da redução da produção de acetato e aumento da produção de propionato por mol de glicose fermentada, consumo de H2 e da inibição direta dos organismos metanogênicos.
Tecnologias utilizadas para controlar a metanogênese:
Algumas dessas estratégias reduzem a emissão de metano enquanto outras reduzem apenas a intensidade.
Nas últimas décadas, a pecuária nacional passou por profundas transformações, marcadas pela adoção de tecnologias principalmente relacionadas à alimentação como:
- Melhoria do manejo do pasto;
- Estratégias de suplementação de animais em pastejo;
- Semi-confinamento e confinamento;
- Uso de aditivos;
- Dietas de alto concentrado;
- Suplementação lipídica e
- Melhoramento genético dos animais.
Esses fatores indicam que a pecuária brasileira tem potencial para contribuir para a redução da emissão dos GEE, especialmente do metano ruminal.
Pastagens bem manejadas possuem a capacidade de sequestrar e fixar C no solo, contribuindo para diminuir o acúmulo de C na atmosfera e também permitem redução da intensidade de emissão dos GEE através da redução da idade de abate, maior ganho de peso, maior taxa de lotação e consequentemente maior produção por área.
É necessário destacar que atenção especial deve ser dada aos aditivos que promovem redução da emissão ou intensidade da produção de metano. Isso ocorre pela queda do consumo de matéria seca ou digestão de componentes da dieta, pois a produção reduz o desempenho dos animais.
Tabela 1 – Tecnologias utilizadas e seus impactos sobre a redução da produção do metano ruminal
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