Site icon nutriNews Brasil, Informações nutrição animal

A pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeito estufa

Escrito por: Alessandra Schaphauser Rosseto Fonseca - Formada em Zootecnia ela Universidade Federal de Mato Grosso (2019). Mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal de Mato Grosso com foco de pesquisa em Nutrição e Produção de Ruminantes. Doutoranda em Ciência Animal pela Universidade Federal de Mato Grosso. , Ana Cláudia da Costa - Engenheira Agrônoma pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) no ano de 2014, mestre em Agricultura Tropical pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e atualmente doutoranda em Agricultura Tropical pela UFMT. Possui experiência com sistemas de produção animal com ênfase em nutrição de ruminantes.   , Farah Arruda Petter - Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá (2021). Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Nutrição, bem estar animal e sistemas de produção. , Karine Padilha Nunes Vieira -

Zootecnista formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Durante a graduação atuou como monitora da disciplina de Fundamentos da Ciência do solo, desenvolveu e auxiliou em projetos de pesquisas no laboratório de nutrição de plantas e no Laboratório de nutrição animal. Atuou como estagiária na área de gestão de pecuária nas empresas Silveira Consultoria e Gestão Pecuária e Nutripura Nutrição Animal. 

Atualmente é mestranda em ciência animal pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp).
, Luciano da Silva Cabral - Possui Graduação em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1995), Mestrado (1999) e Doutorado (2002) em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa e Pós-doutorado em Microbiologia do Rúmen no US Dairy Forage Research Center (University of Wisconsin/USA). Atualmente é Professor Associado da Universidade Federal de Mato Grosso. Leciona nos cursos de Graduação em Agronomia e Zootecnia da Faculdade de Agronomia e Zootecnia da UFMT. Orienta estudantes de Mestrado e Doutorado nos Programas de Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Ciência Animal da UFMT, atuando na área de Nutrição e Produção de ruminantes e Microbiologia do Rúmen. Atualmente está na Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFMT. É Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Zootecnia na gestão 2022-2024. , Thainá Pereira da Silva Cabral - Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Mato Grosso (2018-atual)
pecuaria-mitigadora-efeito-estufa

A pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeito estufa

Gases de efeito estufa e a produção de bovinos

Os gases do efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) são responsáveis por absorver parte da radiação solar irradiada pela superfície terrestre de forma a impedir que todo calor proveniente do sol retorne para o espaço. Essa ação é conhecido como “efeito estufa”.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média do ar na superfície terrestre aumentou 1,53°C nos anos 2006-2015 em comparação com os anos de 1850-1900. Ainda, a organização americana constatou um aumento de 0,87°C na temperatura média global.

A pecuária é considerada por muitos uma das responsáveis pelo efeito estufa, apesar das emissões globais de GEE da atividade representarem 14,5% do total das emissões antrópicas (Gerber et al., 2013). Desse total, a emissão de metano pela pecuária contribui isoladamente com cerca de 6% das emissões (Gerber et al., 2013).

Embora se saiba que a bovinocultura contribui para o aumento da concentração de GEE na atmosfera, a atividade pode contribuir para redução a concentração dos GEE. Isso porque o período de permanência do gás metano na atmosfera é inferior a outros gases presente nesse grupo.[cadastrar]

Origem do metano ruminal

O CH4 é produzido em todos os ambientes anaeróbicos (muito baixa concentração ou ausência de oxigênio), tais como em áreas alagadas (pântanos, produção de arroz irrigado), sedimentos marinhos e tubo digestivo dos animais.

Nos ambientes anaeróbicos, como o rúmen (compartimento do tubo digestivo de animais ruminantes – bovinos), os componentes da dieta (principalmente carboidratos) são digeridos a seus açúcares (principalmente glicose) fermentados a ácidos graxos de cadeia curta (AGV), CO2 e H2 pela ação de micro-organismos.

A maior concentração de H2 no rúmen pode afetar de maneira negativa a ação digestiva e o crescimento da microbiota. Para reduzir o excesso de hidrogênio no meio ruminal, as bactérias metanogênicas utilizam o H2 como fonte de energia e o converte juntamente com o CO2 a metano.

Os organismos metanogênicos ruminais usam H2 como fonte de energia e reduzem o CO2 a CH4 contribuindo para a máxima eficiência dos eventos que ocorrem no rúmen.

Já a degradação da matéria orgânica (MO) da dieta pelas bactérias, protozoários e fungos, necessita da manutenção de baixas concentrações de H2 para produção de proteína microbiana e AGV, os quais são a principal fonte de proteína e de energia para o animal.

Embora necessária para o ecossistema ruminal, a produção de metano no rúmen representa uma perda de energia da dieta que varia de 4 a 14%. Desta forma, a redução da produção desse GEE pela atividade pecuária é fundamental para melhoria da eficiência de utilização energética da dieta pelos animais. Portanto, a redução de produção de metano no rúmen tem importância de cunho nutricional e ambiental.

Estratégias de mitigação

A produção de ruminantes (especialmente bovinos) no mundo tem papel relevante na contribuição para a mitigação dos GEE, dado o menor período de permanência do CH4 na atmosfera. Além disso, há diversas possibilidades para redução da emissão de metano ruminal, seja do ponto de vista de emissão total (g de CH4/animal/ano) ou em termos de intensidade (g CH4/EB, g CH4/kg de MS ou g CH4 /kg de carne ou leite).

Para que ocorra a formação de metano no rúmen é necessário que haja produção de H2 pelos micro-organismos que degradam a matéria orgânica da dieta. A maioria das estratégias de controle de CH4 têm sido voltadas para reduzir a produção de H2.

Desta forma, considerando que a produção de acetato no rúmen gera mais H2 que a produção de propionato, várias estratégias de controle da produção de metano envolvem a redução da produção de acetato e aumento da produção de propionato no ambiente ruminal.

Adicionalmente, o estímulo ao uso do H2 para outros fins (produção de acetato e redução do nitrato e sulfato), bem como a inibição direta dos organismos metanogênicos, tem sido avaliado objetivando mitigar a produção de metano ruminal.

Neste sentido, várias estratégias de controle da produção de CH4 no rúmen se baseiam na alteração da fermentação ruminal através da redução da produção de acetato e aumento da produção de propionato por mol de glicose fermentada, consumo de H2 e da inibição direta dos organismos metanogênicos.

Tecnologias utilizadas para controlar a metanogênese:

Algumas dessas estratégias reduzem a emissão de metano enquanto outras reduzem apenas a intensidade.

Nas últimas décadas, a pecuária nacional passou por profundas transformações, marcadas pela adoção de tecnologias principalmente relacionadas à alimentação como:

Esses fatores indicam que a pecuária brasileira tem potencial para contribuir para a redução da emissão dos GEE, especialmente do metano ruminal.

Pastagens bem manejadas possuem a capacidade de sequestrar e fixar C no solo, contribuindo para diminuir o acúmulo de C na atmosfera e também permitem redução da intensidade de emissão dos GEE através da redução da idade de abate, maior ganho de peso, maior taxa de lotação e consequentemente maior produção por área.

É necessário destacar que atenção especial deve ser dada aos aditivos que promovem redução da emissão ou intensidade da produção de metano. Isso ocorre pela queda do consumo de matéria seca ou digestão de componentes da dieta, pois a produção reduz o desempenho dos animais.

Tabela 1 – Tecnologias utilizadas e seus impactos sobre a redução da produção do metano ruminal

[/cadastrar]

Exit mobile version