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PERIFITON: Complemento alimentar nutritivo e com potencial para aquicultura

Escrito por: Cíntia Badaró Pedroso - Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Mackenzie (1986). Mestrado em Ciências da Engenharia Ambiental pela Escola de Engenharia de São Carlos - EESC da Universidade de São Paulo -USP (1993) e Doutorado Sanduiche pela EESC-USP e 'United States Geological Survey" (1999). Atuou como consultora para as empresas TECAM, DTA e como professora universitária das Faculdades de Oceanografia da UNIMONTE e de Biologia do Centro Universitário São Camilo. É pesquisadora científica V do Instituto de Pesca da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Foi membro consultor do Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Toxicologia Aquática (INCT-TA) /CNPq e MCT. Atua nas áreas de Ecotoxicologia Aquática e Aquicultura Sustentável com ênfase em amostras ambientais marinhas, água produzida, efluentes industriais, agrotóxicos, fitoterápicos, estudos de avaliação e identificação da toxicidade, produção de embriões e larvas do peixe zebra (Danio rerio), adequação/ desenvolvimento de METODOLOGIAS ALTERNATIVAS com o rotífero Brachionus plicatilis, embrião do peixe zebra e "in vitro" com oomicetos e mais recentemente em sanidade aquícola avaliando a capacidade oomiceticida de extratos aquosos e etanólicos de plantas nativas e exóticas em oomicetos patogênicos. , Fabiana Garcia - Fabiana Garcia concluiu o mestrado em Aquicultura de águas continentais pelo Centro de Aquicultura da Unesp em 2005 e o doutorado no mesmo Programa de Pós-graduação, em 2008. Atualmente é pesquisadora científica VI do Instituto de Pesca - Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios. Atua na área de Aquicultura, com ênfase em Sustentabilidade dos Sistemas Aquícolas. É docente nos Programas de Pós-Graduação em Aquicultura do CAUNESP e do Instituto de Pesca. Atua como Editora Chefe do Boletim do Instituto de Pesca. , Wesley Theodoro - Médico veterinário graduado pela Universidade Guarulhos no ano de 2020. Atualmente mestrando do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura e Pesca do Instituto de Pesca de São Paulo (2023-Atual). Possui experiência na área de piscicultura, atuando nos últimos anos com atividades relacionadas à sanidade de organismos aquáticos e principalmente a sua reprodução, nutrição a nível comercial. e transporte de peixes.
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PERIFITON: Complemento alimentar nutritivo e com diferentes potenciais para a aquicultura

A aquicultura vem à décadas garantindo o seu espaço entre os meios de produção. Isso se dá, principalmente, à capacidade do setor de explorar os potenciais variados existentes em diferentes cultivos.

Sendo baseado em organismos que possuem o seu ciclo totalmente ou parcialmente dependentes do meio aquático, o cultivo aquícola se estabelece tanto na produção de alimentos e proteína animal quanto no promissor ramo de pets, do qual os peixes e outros organismos considerados ornamentais se destacam.

Esta multifacetada gama de possibilidades incentiva os grandes, médios e pequenos produtores a buscarem, continuamente, maximizar seu potencial de produção de forma economicamente viável e condizente com os preceitos de sustentabilidade com os quais o mundo busca se adaptar.

Neste cenário surgem possibilidades de inovação dentro de cada etapa produtiva e podemos afirmar que uma destas possibilidades a ser explorada é a produção baseada em incremento de alimento natural como complemento das rações comerciais.

Estas tecnologias visam dois principais objetivos: a redução no custo de produção e a mitigação no lançamento de nutrientes via efluente, considerando que a produção de alimento natural no ambiente de cultivo favorece a ciclagem de nutrientes.

Dentre os principais alimentos naturais recentemente incluídos na aquicultura estão: os bioflocos, a lemna, o fitoplâncton e o perifiton. Nesta matéria, abordaremos a aquicultura baseada no perifiton. 

 

Mas afinal o que seria este perifiton?

Muitos de nós já tiveram a chance de observar uma camada, muito semelhante a um limo, crescendo sobre a superfície de objetos e materiais que se encontram submersos na coluna d’água.

Esta camada é um conjunto complexo de micro-organismos adaptados a vida séssil que podem aderir a superfícies de substratos naturais ou artificiais, fazendo interações entre os diferentes elementos que compõem aquele meio. É a este conjunto que damos o nome de perifiton (Figura 1).

Figura 1 – Camada de perifiton aderida a tela de sombrite para alimentação complementar de alevinos de carpas e piauçus, experimento realizado na Piscicultura Custodio no município de Mogi das Cruzes, SP. Fonte: Instituto de Pesca de SP, 2024.

Estes microrganismos apresentam uma composição tão variada (Figura 2) que se tornam ricos em fontes nutricionais que, aliadas ao fitoplâncton e zooplâncton, podem servir como base alimentar para diferentes cadeias alimentares.

Este conhecimento aliado com o manejo correto pode ser ajustado e aproveitado em conjunto com as rações comerciais.

Figura 2 – Representação da sequência de colonização de uma comunidade perifítica. Organismos de água doce representados em “a,b,c,d,e,f,g”; B, Bactérias; EPS, substâncias poliméricas extracelulares; P, protozoário; TEP, Partícula de Exopolímero Transparente. Fonte: Adaptado de Wu, 2017.

 

Espécies de peixes indicadas 

A escolha das espécies de peixes que podem se beneficiar deste complemento alimentar é baseada em suas exigências nutricionais especificas e características anatômicas e fisiológicas. É necessário que o animal seja capaz de remover o perifiton da superfície dos substratos para ingerir e digerir seu conteúdo.

De maneira geral, peixes da Famílias Cichlidae e Cyprinidae, que compõem as tilápias e carpas possuem alta habilidade de se beneficiar do perifiton.

No Brasil temos espécies de peixes e crustáceos com hábitos alimentares que incluem o perifiton e estudos recentes tem buscado soluções práticas para desenvolver esta tecnologia de produção em nossas condições de cultivo.

Na Tabela 1 estão apresentadas informações referentes a projetos e estudos conduzidos no país nos últimos anos que buscaram entender a dinâmica entre o perifiton e diferentes espécies.

Tabela 1 – Principais estudos brasileiros de aquicultura baseada em perifiton.

Notam-se benefícios relacionados ao perifiton que vão desde:

– A diminuição do tempo de cultivo;

– Melhora na conversão alimentar;

– Melhoria na viabilidade econômica

– Sustentabilidade da produção (Tabela 1). 

Outra observação é a presença marcante da tilápia na maioria dos experimentos conduzidos e isto é justificado por esta ser a principal espécie de peixe produzida no Brasil (Peixe BR, 2023).  

Embora em menor proporção, os estudos com nossas espécies nativas abrem um vasto campo de possibilidades de exploração da produção de pescado com uso deste alimento natural.

A curimba e o jaraqui apresentam boas possibilidades (Tabela 1) e isto pode abrir espaço para outras espécies que possuem importância econômica nas diferentes regiões do país, como é o caso do piau-açu (Leporinus amazonicus), lambari tambiú (Astyanax bimaculatus), jundiá (Rhamdia quelen), cascudo abacaxi (Pterygoplichthys pardalis), entre outros.

 

Demais potenciais observados

Muitas pesquisas são direcionadas para o ganho de peso destes animais, pois um dos grandes desafios do setor aquícola é tornar a nutrição mais eficiente, já que apenas uma fração dos nutrientes fornecidos na dieta comercial é realmente aproveitada pelo organismo animal em seu ciclo de crescimento.

O restante da fração não aproveitada acarreta na perda de recursos para o meio de cultivo, bem como na eutrofização de corpos d’água.

Observando este fato alguns estudos ainda apresentam resultados que mostram a capacidade que o perifiton possui em ciclar de nutrientes no próprio ambiente de cultivo, reaproveitando importantes elementos nutricionais como um biofiltro do meio aquático.

Na Tabela 2 estão relacionados os estudos brasileiros que apontaram para os resultados das interações entre o conteúdo perifitico e a melhora na qualidade dos efluentes.

Estes benefícios somados permitem que exista a opção de utilizar esses elementos de baixo custo como fonte de energia complementar para cultivos intensivos com possibilidade de reduzir o fornecimento de ração comercial e melhorar a qualidade da água de cultivo e dos efluentes gerados, bem como reduzir presença de organismos patogênicos (Tabela 2). 

Tabela 2 – Principais resultados de estudos brasileiros entre perifiton e efluentes.

No atual cenário global em que se buscam tecnologias mais eficientes na produção de alimento, é imprescindível olhar para temas ainda pouco explorados na aquicultura brasileira, como: escolha de espécies de baixo nível trófico, produção baseada em alimento natural e cultivos integrados.

Neste sentido, esperamos que este artigo possa despertar o interesse dos leitores por soluções inteligentes e visionárias e que seja uma centelha de inspiração para aqueles que vislumbram um futuro mais próspero.  

Referências bibliográficas sob consulta junto ao autor.

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