O período de transição é a fase mais desafiadora do ciclo produtivo de uma vaca leiteira de alta produção. Esta fase compreende os momentos que antecedem o parto, denominado de pré-parto, com duração de 30 a 21 dias antes da data prevista do parto e os primeiros meses da lactação. Nesta fase é que o sucesso da nova lactação e a viabilidade do bezerro e principalmente das bezerras é definido.
Condições ambientais e de conforto térmico no período pré-parto influenciaram a composição do colostro em estudo conduzido por Nardone et al. (1997), com primíparas.
Além das condições de conforto térmico, o protocolo sanitário, a alimentação, as instalações e o manejo dos lotes de vacas no período seco e no pré-parto (3 a 4 semanas antes do parto) podem ser manipulados pelos produtores de forma a propiciar as vacas leiteiras um período de transição mais confortável.
Dahl et al. (2020) alertam que embora seja considerado com menor importância, o stress térmico altera profundamente a resposta imunológica de vacas e bezerras da fase pré-natal até a lactação.
Segundo estes autores, o stress térmico durante a fase intrauterina de vida das bezerras, reduz a transferência de imunidade passiva independente da fonte de colostro, quando comparado a animais gerados em condições termoneutras. |
No entanto devido a elevada demanda nutricional e baixa capacidade de ingestão de matéria seca nesta fase do ciclo produtivo, a ingestão de muitos nutrientes nem sempre é adequada para atender a demanda metabólica (Abuelo, 2019).
Além dos ajustes nas condições ambientais e sociais, algumas intervenções nutricionais podem ser implementadas com o intuito de otimizar o conforto animal, o consumo de matéria seca, o consumo e absorção de nutrientes, e a digestibilidade da ração consumida.
Erasmus et al. (2005) observaram aumento na produção de ácido propiônico no rúmen de vacas leiteiras suplementadas com cultura de leveduras (CL) durante a fase de pré-parto e início da lactação.
A suplementação com CL para vacas da raça Jersey aumentou o consumo de matéria seca diário nos últimos 7 dias do período pré-parto (9,8 vs 7,7 kg) e nos primeiros 42 dias de lactação (13,7 vs 11,9), antecipando o pico de lactação em relação aos animais controle, com reflexos positivos na produção de leite (Dann et al. 2000).
Estes autores detectaram uma produção de leite 1,6 kg.dia-1 superior para as vacas Jersey suplementadas com CL nos primeiros 42 dias de lactação.
Além disso Nocek et al. (2011) relataram que ao adicionar parede celular de levedura (MOS – mananoligosacarídeos) a cultura de levedura, além do aumento na produção de leite e de sólidos no leite, foi observada redução na incidência de mastite clínica e redução na contagem de células somáticas no leite produzido.
No ciclo produtivo das vacas leiteiras os períodos pré-parto e neonatal são momentos de maior risco de desenvolvimento de stress oxidativo e alta susceptibilidade às doenças tanto para as vacas quanto para os bezerros, ficando a situação agravada pelo stress térmico (Abuelo, et al. 2019; Abuelo, 2019).
Desta forma intervenções para conter o stress oxidativo, deveriam ser dirigidas em aumentar o “pool” de substâncias antioxidantes. O fornecimento de níveis mais elevados de nutrientes como as vitaminas lipossolúveis A e E, e os microelementos minerais cobre, ferro, manganês, selênio e zinco, os quais possuem comprovada ação antioxidante, se faz necessária na fase de transição das vacas e na fase inicial de vida das bezerras (Sordillo e Aitken, 2009, Abuelo, et al. 2019).
O uso de fontes de microelementos minerais que diminuem a interação com outros minerais e até com outros nutrientes, é uma garantia de que estes nutrientes minerais serão absorvidos com eficiência e direcionados aos tecidos alvo para serem utilizados nos sistemas enzimáticos antioxidantes do organismo animal.
O uso de minerais ligados a moléculas orgânicas, mais conhecidos como minerais orgânicos ou quelatos, impedem a interação dos elementos minerais
Rabiee et al. (2010) realizaram uma meta análise e observaram que a suplementação de vacas leiteiras em lactação aumentou a produção diária de leite em 0,93 kg.vaca-1, a concentração de sólidos no leite e o desempenho reprodutivo dos animais.
Dados publicados por Jacometo et al (2015), demonstraram que a suplementação de vacas leiteiras com microelementos minerais orgânicos no período pré-parto apresentou benefícios aos bezerros após o nascimento.
Os autores também observaram que o uso de glicinatos quando comparado ao tratamento controle (sem adição de cobre, manganês e zinco suplementares) aumentou a capacidade total antioxidante (CTO) no sangue das vacas e bezerros. A Tabela 01 apresenta um resumo dos resultados obtidos por Roshanzamir et al. (2020).
A demanda por sistemas de produção sustentáveis e seguros, direciona o mercado para o desenvolvimento de aditivos mais naturais em substituição aos antibióticos. Os pontos discutidos neste texto são assuntos atuais que merecem ser explorados por técnicos comprometidos com o bem-estar animal e a segurança alimentar.
A bibliografia estará disponível mediante solicitação
Por: Ricardo Pereira Manzano
Médico Veterinário
Consultor Técnico
Biochem Brasil Nutrição Animal