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Período seco e de transição em vacas leiteiras

Escrito por: Maria Luiza Fischer - Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2018) e mestrado em Zootecnia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2021). Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em bovinocultura leiteira.
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Período seco e de transição em vacas leiteiras

Para se obter uma boa produção leiteira aliada à qualidade, o manejo em período seco e pré-parto é essencial, visto que o controle alimentar associado a manejos adequados promovem a redução na incidência de doenças metabólicas e infecciosas, que acarretam a redução de produtividade, sanidade e bem-estar.

Portanto, a nova lactação está diretamente relacionada à qualidade dos alimentos ofertados no período seco, bem como o tempo em que ele é executado.

 

O mesmo deve ocorrer por um período de 45 a 60 dias, visando proporcionar maior sanidade da glândula mamária. Períodos inferiores ao ideal acarretam a redução da produção por atrasos no desenvolvimento alveolar e períodos superiores podem aumentar o escore de condição corporal (ECC), favorecendo o desenvolvimento de distúrbios metabólicos.

Figura 1. Escore de condição corporal.

Escore de Condição Corporal (ECC) é uma escala com variação de 1 a 5 pontos (Figura 1), proposta por Edmonson e colaboradores (1989), onde verifica-se em vários pontos do animal sua condição nutricional, com base na avaliação visual e tátil. É uma medida subjetiva, que classifica as vacas leiteiras em função da massa de gordura e da cobertura muscular (Figura 2).

É preferível que animais em período seco possuam o ECC de 3,5 a 3,75, acarretando menores probabilidades de distocias e doenças metabólicas. Durante a lactação o ECC ideal pode variar em função da fase de lactação, como pode ser observado na Figura 3. [cadastrar]

 

FASES DO PERÍODO SECO

A fase inicial (FI) É composta pelos primeiros 30 dias após a interrupção da ordenha. Ele se estende até a terceira semana que antecede o parto, onde ocorrerá a involução completa dos alvéolos da glândula mamária e absorção do leite residual. Esta etapa é essencial para promover o descanso do úbere e renovação celular para obtenção de uma nova lactação saudável e produtiva.

É importante ressaltar que os cuidados com a alimentação nesta fase são de suma importância, visto que devem ser dietas baseadas em volumosos com teor de energia e proteína menores, garantindo assim sucesso na meta de secagem, sem estresse aos animais e evitando elevações extremas do ECC.

A segunda fase, ou seja, fase final (FF) corresponde as três semanas que antecedem o parto, conhecido também como período de transição. São considerados os dias mais críticos, onde a vaca passa por mudanças anatômicas, comportamentais, fisiológicas e endócrinas, preparando a mesma para o parto e lactação.

Período de transição é compreendido como 21 dias antes e 21 dias depois do parto, sendo essa fase considerada a mais importante do ciclo produtivo das vacas, devido as alterações em seu metabolismo. A demanda por nutrientes nesse período é direcionada principalmente para o crescimento do feto, preparação da glândula mamária para a nova lactação através da renovação alveolar, produção de colostro, parto e síntese do leite.

 

Outro agravante neste período é a baixa capacidade de consumo de alimentos, visto que o rúmen é comprimido pelo feto conforme seu desenvolvimento.

Vacas e novilhas tem o consumo de matéria seca (CMS) reduzido nas últimas três semanas, sendo de aproximadamente 1,7% e 1,5% do peso corporal (PC), respectivamente, podendo chegar a 1,2% do PC próximo ao parto. Novilhas possuem diferentes demandas de nutrientes comparado à vacas adultas, pois ainda apresentam desenvolvimento corporal; portanto, o ideal é fornecer dieta específica para animais desta categoria.

Na FF, os animais devem receber dietas especificas por, pelo menos, três semanas que antecedem o parto, conhecidas como dieta aniônica ou dieta pré-parto. Esta tem o objetivo de preparar o animal para o momento do parto e nova lactação, possuindo característica acidogênica ou aniônica e incremento ascendente em energia.

Dietas acidogênicas ou aniônicas são utilizadas no período de transição (pré-parto) e apresentam baixa quantidade de cátions em relação a ânions, ou seja, uma relação negativa cátion – ânion (DCAD).

Tem como função promover uma leve acidose metabólica, com o intuito de restaurar a sensibilidade dos tecidos, tendo assim uma maior resposta aos receptores de paratormônio (PTH), hormônio responsável para a mobilização de uma maior quantidade de cálcio do organismo (ossos) e reabsorção de maiores quantidades de cálcio no intestino.

A finalidade da implantação de dietas acidogênicas no pré-parto é reduzir o acometimento e severidade da hipocalcemia, assim como auxiliar no controle de ingestão excessiva de calorias, regulando o ganho de tecido adiposo e condição corporal.

Qual a importância de fornecer dietas ricas em energia? é importante aumentar a concentração de nutrientes da dieta, pois há o aumento da exigência energética e proteica no período de transição, visto que há uma grande demanda de nutrientes pelo feto e diminuição no CMS.

Neste período é muito importante adaptar o rúmen do animal aos ingredientes que serão oferecidos no início da lactação.

Assim, haverá menor incidência de acidose ruminal e deslocamento do abomaso, visto que o rúmen já estará adaptado a nova dieta.

O aumento da demanda de energia no período de transição juntamente com a diminuição do consumo de matéria seca leva o animal a um quadro de balanço energético negativo, tornando a vaca mais propensa a distúrbios metabólicos (hipocalcemia e cetose), devido ao seu estado imunológico fragilizado.

HIPOCALCEMIA 

Conhecida também como febre do leite, se manifesta pela baixa concentração de cálcio e cálcio ionizável no sangue. Ocorrendo geralmente cerca de 24 a 72 horas após o parto em vacas leiteiras devido à grande demanda da molécula no organismo. Causa grande impacto na atividade leiteira, causando prejuízos significativos ao produtor e ainda pode acarretar o acometimento de doenças imunossupressoras.

A imunossupressão é uma das causas do aumento da prevalência de infecções pós-parto (mastite e metrite), que pode ser ocasionada pelo aumento na secreção de hormônios próximo ao parto e diminuição do consumo de nutrientes. A metionina é um exemplo de suplementação que diminui esses impactos, melhorando a função imunológica das vacas.

CETOSE

Ela ocorre com o aumento de ácidos graxos livres (AGL) ou ácidos graxos não esterificados (AGNE) no plasma sanguíneo, devido a mobilização de gordura corporal com baixos níveis de glicose e déficit energético, ou seja, é a mobilização exacerbada das reservas corporais.

Quanto maior é a mobilização, maior será a taxa de captação pelo fígado aumentando assim a concentração de corpos cetônicos nos fluidos corporais, dentre eles o ácido beta-hidroxibutírico (BHBA).

Uma das formas de verificação se a dieta pré-parto está em conformidade com o proposto é realizar análise de pH urinário, que deve estar entre 6,0 e 6,5. A medição pode ser realizada a partir de tiras, pHmetro portátil ou de bancada.

O desafio do período de transição em vacas leiteiras de alta produção é mais elevado, devido ao maior número de células secretoras. Sendo assim, existe uma maior demanda nutricional para síntese do leite no início da lactação, ela é mais intensificada por glicose, aminoácidos e ácidos graxos não esterificados (AGNE).

Sendo que, qualquer restrição nutricional neste âmbito será contrabalanceada com respostas hepáticas na musculatura esquelética e tecido adiposo resultando em danos à produtividade da vaca na atual lactação.

O período pós-parto imediato envolve importantes mudanças na dieta, onde as concentrações de forragem e fibra são reduzidas e há aumento das concentrações de amido e proteína.

Aumentar a energia da dieta no período pós-parto resultará em maior consumo de matéria seca.

 

Somadas as mudanças do animal, podemos ainda ter fatores externos como: mudanças no manejo, condições de alojamento, estresse calórico, espaçamento de cocho, alimentação e outras enfermidades.

O monitoramento e as avaliações diárias desses animais são essenciais para que se possa identificar precocemente a ocorrência de distúrbios e definir a melhor alternativa para contornar as adversidades.

Realizar um período seco e de transição com devida atenção é o ponto determinante para a performance produtiva e reprodutiva das vacas leiteiras, considerando que tudo que acontece com os animais nesse período é refletido a curto e longo prazo em sua produção de leite e reprodução.

Animais que apresentam algum problema de saúde durante esse período tem menor fertilidade até os 150 dias de lactação.

Referências bibliográficas sob consulta. [/cadastrar]

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