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Qualidade de mistura de rações e as mudanças na portaria SDA nº 798

Escrito por: Alex Maiorka - Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Federal de Santa Maria (1995), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002). Atualmente é professor Titular de Nutrição Animal da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de produção animal, com ênfase nos seguintes temas: nutrição de aves, suínos e cães. , Ana Carolina Britto Doi - Graduanda em Zootecnia pela Universidade Federal do Paraná. Possui experiência na área de nutrição de animais não-ruminantes. Atualmente é estagiária na BRF, atuando com frangos de corte. , Guilherme Deda - Zootecnista pela Universidade Federal do Paraná. Durante a graduação participou do programa de voluntariado acadêmico nos laboratórios: Laboratório Didático de Suinocultura - LADISUI, nas áreas de nutrição e reprodução de suínos (mar.19/mar.20), e no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Produção e Nutrição de Animais Não Ruminantes - LEPNAN, nas áreas de nutrição de aves e suínos (jun.22/dez.22). Realizou o estágio curricular em uma Agroindústria do Oeste Catarinense, em 2023. , Isabella de Camargo Dias - Graduada em Medicina Veterinária na Universidade Tuiuti do Paraná (2014- 2019) e graduada em Zootecnia na Universidade Federal do Paraná (2015-2022). Atualmente é Doutoranda em Ciências Veterinárias na Universidade Federal do Paraná (2020-atual). Atuação em nutrição de não-ruminantes. , Vivian Izabel Vieira - Bacharel em zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (2009-2013). Foi bolsista PIBIC e PIBITI/CNPq/Fundação Araucária entre os anos de 2010 e 2013. Possui mestrado em zootecnia pela Universidade Federal do Paraná (2014-2016), com pesquisa na área de nutrição e produção de frangos de corte. Durante o mestrado participou de diversos projetos de pesquisa na área de nutrição e avaliação de ingredientes para frangos de corte. Defendeu a dissertação sobre a inclusão de vitamina E na nutrição de frangos de cortes em fase final sob orientação da Prof. Dra. Simone G. de Oliveira (UFPR) e coorientação do Prof. Dr. Alexandre Oba (UEL). Atualmente, doutoranda em zootecnia na área de produção e nutrição de animais não-ruminantes (PPGZ/UFPR).
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Qualidade de mistura na produção de rações e as mudanças na portaria SDA nº 798

O fornecimento de uma dieta completa e fabricada de maneira adequada, é importante para garantir que os animais consumam os nutrientes necessários, o que irá refletir no desempenho e saúde durante o ciclo produtivo.

A qualidade da mistura durante a fabricação de rações tem um papel determinante na distribuição dos ingredientes na dieta, impactando diretamente a quantidade de nutrientes que o animal recebe.

O processo de mistura é um ponto crítico e essencial na produção de rações, e é essa etapa que garante a uniformidade na distribuição dos ingredientes (Ciftci e Ercan, 2003). 

Conforme a Portaria SDA nº 798, de 10 de maio de 2023, foram introduzidas mudanças relevantes no cenário.

 

No contexto da nutrição animal, a qualidade da mistura é um tema amplamente debatido, especialmente devido à inclusão de ingredientes em pequenas quantidades em rações para aves e suínos, como é o caso de aditivos tecnológicos, sensoriais e/ou zootécnicos.

Ter entendimento de como a qualidade da mistura influencia a dispersão de todos os ingredientes na ração, é essencial para obter um produto de qualidade.

Alguns fatores podem impactar na qualidade de mistura em dietas de aves e suínos, sendo assim, ao longo desse material vamos discutir alguns pontos relevantes. 

 

Conhecendo o ingrediente antes de fabricar uma ração

É importante entender que a qualidade de mistura não se dá apenas no processo que acontece dentro da fábrica de rações, mas sim desde a compra dos ingredientes.

A qualidade da ração produzida vai depender da matéria prima que será utilizada. Todo o processamento de rações em uma fábrica deve ter início no setor de controle de qualidade.

Realizar a avaliação dos ingredientes e ter um histórico dos fornecedores são estratégias que quando adotadas vão refletir diretamente no processo de fabricação de rações.

As avaliações químico-físicas dos ingredientes que chegam em uma fábrica de ração são realizadas por meio de análises e inspeções de matéria prima no recebimento e seguindo protocolos desde o momento da amostragem, até a realização de análises laboratoriais.

 

Atualmente, uma tecnologia que está bem estabelecida é o uso de NIRS (Near Infrared Spectroscopy) tanto em laboratório, quanto o equipamento portátil que permite um uso mais amplo e fora das estruturas do setor de controle de qualidade.

O uso de NIRS em avaliações de ingredientes é um método adotado para prever o valor nutritivo e está correlacionado positivamente com métodos qualitativos de referência e mesmo o aparelho portátil se mostra eficiente (Modroño et al., 2017)

Explorando não apenas a análise individual de ingredientes, mas também avaliando a dieta em si, o uso NIRS pode ser uma alternativa para investigar a qualidade de mistura dos ingredientes durante o processo de fabricação da ração.

De acordo com Fernández-Ahumada et al., (2008), o NIRS pode auxiliar na detecção de erros durante a mistura, e essa ferramenta é viável de ser adotada nessa fase de produção por ainda permitir a correção do processo. 

 

Como o tempo de mistura pode impactar na qualidade do processo? 

Segundo Teixeira (2012), fatores como o tempo de mistura e o tipo de ingrediente são determinantes para a qualidade do produto. É importante considerar o tempo ótimo de mistura, pois períodos curtos ou excessivos podem comprometer a qualidade da ração.

Nesse sentido, a qualidade da mistura pode impactar na distribuição dos ingredientes da ração, o que diretamente está relacionado com as quantidades de nutrientes que são fornecidos aos animais. 

A moagem dos ingredientes é um dos processos que impactam na qualidade da mistura, visto que o tamanho de partícula pode influenciar na qualidade final do produto.

Considerando que cada espécie de animal de produção tem uma exigência diferente conforme a fase do ciclo, é necessário entender o processo como um todo. O tamanho da partícula não vai afetar apenas a digestibilidade pelo animal, mas também o processo de mistura, onde é necessária uma moagem uniforme para obtenção de um produto mais homogêneo.

 

Ordem de inclusão dos ingredientes

Um método prático para investigar a qualidade de mistura na fábrica e homogeneidade dos ingredientes, é avaliar o coeficiente de variação (CV) da mistura ou a uniformidade da mistura.

No dia a dia, avaliar a qualidade de mistura de cada ingrediente em uma ração não é um método prático, para isso são utilizados indicadores internos (algum ingrediente da ração) ou externos (adicionados de forma intencional) (Eisenberg, 1992).

Alguns tipos de componentes que podem ser usados são: DL-metionina, HCl-lisina, íon cloreto, partículas de ferro, semduramicina e roxarsone (Clark et al., 2007)

Segundo Fahrenholz (2018), um controle estatístico acurado dentro do processo é extremamente necessário e eficaz para garantir qualidade de mistura.

Mudar alguma variável dentro do sistema de produção pode impactar o restante do processo, e assim é possível predizer o que pode acontecer em conjunto com um bom sistema de controle de qualidade, desde a recepção dos ingredientes, até o produto final. 

Rocha et al. (2022) testaram diferentes tempos de mistura em relação a adição do premix por meio do coeficiente de variação entre as misturas, com o tempo variando de 30 a 120 segundos e intervalos de 30 segundos, e investigaram o impacto no desempenho de frangos de corte.

Como resultado, os autores encontraram que coeficientes até 22,6% não tiveram efeito negativo sobre o desempenho dos animais após os 12 dias de idade, quando as dietas eram balanceadas.

O CV ideal para frangos de até 12 dias é de no máximo 7,5% e misturas de 30 segundos apresentaram efeitos negativos para o desempenho, com CV de 39,5%. Como conclusão foi relatada a necessidade estudos sobre a forma física das rações, em relação ao CV da produção até o consumo e desempenho dos animais.

Ao comparar diferentes indicadores de mistura, Rocha et al. (2015) avaliaram a homogeneidade de mistura utilizando um misturador experimental horizontal, com o uso de diferentes matérias primas, por meio da avaliação de misturas secas e úmidas.

 

As misturas foram avaliadas por meio do coeficiente de variação, com indicadores de 15 segundos entre 20 e 155 segundos de mistura. Os resultados encontrados mostram algumas diferenças, principalmente para a vitamina B e para o cloreto de cobre.

No entanto, o uso de aminoácidos em formatos diferentes (pó ou líquido) podem ser utilizados para avaliar eficiência de mistura, visto que o coeficiente de variação não apresenta diferença significativa. 

Alguns fatores que podem interferir na qualidade da mistura estão relacionados às características físicas e químicas dos ingredientes, (Djuragic et al., 2015), e o tempo e ordem de mistura.

Períodos curtos ou excessivos de mistura resultam em uma má qualidade da ração final. Esses fatores estão relacionados tanto para qualidade de premix, quanto para a ração.

Quadro 1. Características físicas e químicas que afetam a qualidade da mistura.

De acordo com Djuragic et al., (2015) essas características têm um papel importante para se obter uma mistura homogênea e de alta qualidade.

O tamanho e formato das partículas afetam diretamente como os ingredientes se misturam, enquanto a densidade das partículas influencia a compressibilidade e a fluidez da mistura.

Aspectos químicos como potência, pureza, pH, reatividade e estabilidade são cruciais para garantir a eficácia e estabilidade dos premixes, e consequentemente, da ração final.

 

Mudanças na portaria SDA n° 798

Em maio de 2023 a Portaria SDA nº 798 foi oficialmente publicada e a partir de junho de 2023, os estabelecimentos iniciaram os processos de adequações com prazo final de implantação até 28 de novembro de 2023.

De maneira geral, todos os estabelecimentos autorizados a produzir alimentos para nutrição animal se adequaram nesse período seguindo uma série de orientações do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.  

A fabricação de rações é regulamentada por legislação específica que visa assegurar seu adequado funcionamento e o emprego correto de medicamentos na alimentação animal.

Atualmente, a Portaria SDA nº 798, de 10 de maio de 2023, estabelece as diretrizes vigentes nesse contexto. Em vigor desde 1º de junho de 2023, a portaria trouxe alterações significativas no âmbito da produção de rações, incluindo a implementação de programas sanitários elaborados por médicos veterinários e sujeitos a revisões semestrais.

Em termos de mistura ou avaliações de qualidade de mistura, as alterações que a Portaria SDA nº 798 trouxe modificações no método de avaliação, anteriormente era adotado somente a avaliação do coeficiente de variação no teste homogeneidade de mistura independente se era realizado o teste direto ou indireto de homogeneidade.

O teste de homogeneidade de misturas é um processo fundamental que deve ser conduzido através da contagem de partículas e do coeficiente de variação.

O coeficiente aceitável passou de 5% para 10%, com interpretação dos resultados conforme descrito na tabela abaixo (Tabela 1)

Tabela 1. Interpretação dos resultados dos testes de homogeneidade.

Fonte: Portaria SDA nº 798, de 10 de maio de 2023.

O método de avaliação por contagem de partículas metálicas é feito em uma amostra de ração e a leitura dos resultados deve indicar a proporção do que foi recuperado. Geralmente essas partículas são adicionadas no processo de mistura da ração, uma amostra representativa é coletada e analisada.

Com base na análise dos resultados, a concentração das partículas recuperadas é avaliada com testes de probabilidade que deverá estar dentro do limite aceitável maior ou igual a 5%.

Quando se fala do método de concentração de substâncias ela considera somente a avaliação e mistura pelo valor do coeficiente de variação.

Para isso, um componente que já existe na formulação da ração é escolhido, podendo ser um aminoácido ou um determinado mineral, após o processo de mistura uma amostra é coletada e analisada.

Na leitura da concentração desse determinado componente, a avaliação dos valores obtidos deve ter um coeficiente de variação menor ou igual a 10%. 

Para a limpeza de linha, destaca-se a modificação em relação à normativa anterior, que determinava limite de 1,0%, porém com essa alteração passou a ser até 2,5% de concentração do princípio ativo para que o estudo seja considerado satisfatório.

Quanto aos treinamentos, estes se tornaram obrigatórios para todos, incluindo médicos veterinários prescritores, gerentes, supervisores, colaboradores, responsáveis técnicos dos estabelecimentos e produtores rurais.

Tais treinamentos abordam a utilização responsável de medicamentos e produtos medicamentosos, bem como a conscientização sobre seu uso e a mitigação da resistência aos antimicrobianos, alinhados ao programa de boas práticas de fabricação.

 

Considerações finais

Qualidade de mistura de rações de animais de produção é uma das variáveis que impactam grandemente o desempenho zootécnico, sendo assim, ter atenção durante o processo é um ponto importante e que faz diferença.

Os estabelecimentos autorizados a produzir alimentos para animais devem cada vez mais seguir regulações que garantem que o material produzido será de qualidade. 

As adequações realizadas pelo MAPA na Portaria SDA nº 798, trazem consigo uma série de detalhes que melhoram as avaliações do processo de mistura e asseguram qualidade do que está sendo produzido e será colocado a campo.

Qualidade de mistura de rações e mudanças na portaria SDA 798

Referências sob consulta junto ao autor.

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