Avaliação da resposta inflamatória a nível intestinal de leitões na fase de creche submetidos a dietas com associação de blend de ácidos orgânicos, mananoligossacarídeos e betaglucanos
Introdução
Mesmo praticado sob idade mínima de 28 dias conforme determina a Diretiva Europeia 2008/120/EC (2009), é pertinente reconhecer que ao desmame os leitões ainda detêm uma imaturidade fisiológica e enzimática do trato gastrintestinal (SUIRYANRAYNA; RAMANA, 2015) e passam por um gap imunitário (JAYARAMAN; NYACHOTI, 2017). Relativo à insuficiência de várias enzimas digestivas nessa fase, há um aumento da osmolaridade do conteúdo intestinal, provocando a diarreia denominada osmótica.
Também limitada, a produção de ácido clorídrico do leitão recém-desmamado, que se agrava pelo fornecimento da ração pré-inicial com alto teor de proteína, piora a proteólise gástrica, com consequentes transtornos intestinais (ROTH; KIRCHGESSNER, 1998).
Nesse sentido, o desmame afeta o desenvolvimento imunológico inato e adaptativo dos leitões, etapa onde é observada a expressão de citocinas pró-inflamatórias (PIÉ et al., 2004; RYMUT et al., 2021), incluindo a fator de necrose tumoral (TNF), interferons (IFN) e interleucinas (ILs), que induzem alterações na estrutura do epitélio intestinal, aumentando sua permeabilidade (SIDO et al., 2017; NORDGREEN et al., 2020).
Desta forma, com este estudo objetivou-se avaliar a saúde intestinal de leitões em fase de creche submetidos a uma dieta com uso associado de um blend de prebióticos e ácidos orgânicos frente a uma dieta com antibiótico promotor de crescimento.
Material e Métodos
Foram utilizados 150 leitões, metade machos castrados e metade fêmeas, da genética PIC® (Camborough x AG 337), com 22 dias de idade média e 5,568 ± 0,781 kg de peso vivo. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso (DBC), formados com base no peso inicial dos animais e no sexo, com três tratamentos e 10 repetições por tratamento, sendo a baia com cinco animais de um mesmo sexo a unidade experimental.
Os tratamentos experimentais corresponderam a:
T1 – Controle negativo; T2 – Controle positivo (Colistina – 10 mg/kg) e T3 – Blend de ácidos orgânicos e prebióticos composto de formiato de amônio, ácido fórmico, propionato de amônio e ácido acético + mananoligossacarídeos + betaglucanos, 1 kg/ton (Uniwall MOS®, Vetanco, Buenos Aires, Argentina).
Para determinação da concentração das ILs 1β, IL-4, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12p40, IFN-α e IFN-ɣ e TNFα, foram coletadas amostras de sangue de 30 leitões, um de cada repetição, metade machos e metades fêmeas, aleatoriamente escolhidos, em dois momentos, aos 36 e 57 dias de idade.
Resultados e Discussão
Resposta Inflamatória
Relativa à quantificação das citocinas, marcadores sanguíneos indicadores de alterações imunes, que incluem os estados de inflamação intestinal (YU et al., 2019; NORDGREEN et al., 2020), pode ser observado que, referente à primeira coleta, realizada aos 36 dias de idade (Tabela 1), os animais do grupo T3 apresentaram elevado nível de IL-1β, quando comparado aos demais tratamentos (p<0,05).
Para a IL-6 observou-se uma tendência (p<0,10) no aumento da citocina para o grupo T3 em relação ao grupo T1 nas duas coletas. De maneira semelhante, o grupo T3 apresentou uma tendência no aumento de IFN-α na primeira coleta. Já na segunda coleta o grupo T2 apresentou as maiores médias em comparação ao grupo T1 e o grupo T3 mostrou um resultado intermediário para esta citocina (p<0,10).
- A avaliação de TNF-α identificou animais do grupo T3 com níveis mais elevados que nos grupos T1 e T2, na primeira coleta, não havendo diferença entre os tratamentos na segunda coleta. As citocinas IL-8, IL10, IL 12p40 e IFN-γ não apresentaram diferenças entre os grupos analisados nos dois períodos avaliados (p>0,05).
Tabela 1. Concentrações (pg/mL) de interleucinas (IL) 1β, IL-4, IL-6, IL-8, IL-10, IL-12p40, interferon alpha (IFN-α) e gama (IFN- γ) e fator de necrose tumoral alpha (TNFα) aos 36 e 57 dias de idade de acordo com os tratamentos experimentais.
A ativação de algumas citocinas inflamatórias, como IL1-β, TNF-α e a IL-6, está fortemente associada com o pós-desmame dos leitões (NOVAIS et al., 2021; RYMUT et al., 2021), sendo que sua maior expressão pode perdurar por dias (MOESER; POHL; RAJPUT, 2017; NOVAIS et al., 2021), corroborando com os resultados da primeira coleta (Tabela 1).
- Este último efeito foi também identificado neste trabalho, no qual, por meio da quantificação das citocinas, pode-se predizer que este estado inflamatório sofreu uma redução, dado à identificação de declínio numérico dos níveis de IL1-β, IL-4, IL-6 e TNF-α para o grupo alimentado com prebióticos e ácidos orgânicos entre a primeira (36 dias) e a segunda (57 dias) coleta.
Os prebióticos, como os oligossacarídeos, auxiliam na produção dos ácidos lático e acético; e provocam a redução do pH intestinal, favorecendo as atividades das enzimas digestivas, que contribuem para manutenção da saúde intestinal, com redução da inflamação intestinal pela menor expressão de citocinas inflamatórias (ZENHOM et al., 2011).
As respostas inflamatórias, no entanto, são distintas entre os animais de uma mesma categoria, dados os diferentes fatores envolvidos. Os agentes microbiológicos pelos quais os animais são expostos e os agentes não infecciosos determinam, assim, respostas distintas.
Uma infecção viral estimulará, em geral, a síntese de interferon (α e β), enquanto a infecção bacteriana determinará a expressão de IL1- β, TNF- α e IL-6 (NORDGREEN et al., 2020).
Os suínos, assim como outros animais, são propensos a várias doenças gastrintestinais bacterianas, como a colibacilose, cujo agente, uma bactéria gram-negativa, detém um lipopolissacarídeo responsável pela ativação da reação em cadeia de citocinas mediadoras do processo inflamatório (FAIRBROTHER; NADEAU, 2019; NORDGREEN et al., 2020).
Os prebióticos (como os mananoligossacarídeos + betaglucanos) e os ácidos orgânicos são princípios ativos que, com frequência, participam das dietas de leitões desmamados, representado efetivos substitutos dos APC, como a colistina (T2). Os prebióticos, reconhecidamente, modulam a microbiota intestinal, favorecendo a produção de ácidos graxos de cadeia curta (BOURGOT et al., 2014; SHANG et al., 2017), que, por sua vez, promovem o desenvolvimento de agentes benéficos no trato gastrintestinal (CHEN et al., 2017; LEE et al., 2017).
Estas condições corroboram os benefícios do blend avaliado, que determinou na fase inicial II e no período total um melhor desempenho zootécnico para os animais do grupo T3, comparado com o grupo controle, sem diferenças com os resultados obtidos pelo grupo que recebeu colistina.
Conclusões
Referências sob consulta