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Streptococcus suis, como enfrentar esse desafio?

Escrito por: Glaiton Martins - Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade de Passo Fundo (2003). Pós-graduação em Sanidade de aves e suínos pela Universidade do Oeste de Santa Catarina UNOESC. MBA em Nutrição de Aves e Suínos - DIdatus 2017. Extensionista e sanidade avícola BRF, dez 2004 -  jun de 2007 (2 anos 8 meses) na região Dois Vizinhos, PR atendimento a produtores de aves no sudoeste do PR, elaboração de projetos, gerenciamento rural, desenvolvimento pessoal, trabalho em equipe e instalações. Gerente de fomento Integra Agroindustrial, jun de 2007 - nov de 2009 (2 anos 5 meses) na região de Dois Vizinhos, PR. Gerenciamento de fábrica de rações, produção de ovos férteis e recria, projetos de construção de instalações para recria de matrizes frango de corte. Atualmente é responsável técnico na empresa Agronutri.
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Streptococcus suis, causador da meningite estreptocócica, como enfrentar esse desafio?

O agente Streptococcus suis é um dos patógenos com maior relevância nas criações tecnificadas de suínos, causando altos prejuízos econômicos às granjas em todo o mundo. 

Apresenta 35 sorotipos, nem todos com a mesma patogenicidade. A maioria dos isolados pertencem aos sorotipos 1 a 9. No Brasil, o sorotipo 2 foi o mais isolado entre amostras de animais clinicamente doentes (Sobestiansky et al, 2007).

As perspectivas para o futuro próximo não são animadoras. Com a supressão do uso de óxido de zinco como medicamento na Europa este ano, e restrições a Amoxicilina, destaca-se o S. suis como um dos patógenos mais oportunistas e adaptados.

Além disso, também é um agente zoonótico (essencialmente sorotipo 2), considerado na maioria dos países da OCDE como uma doença ocupacional dos trabalhadores de granjas suinícolas.

A complexidade desta patologia requer, portanto, uma análise multifatorial, discutida abaixo.

Etiologia

Os estreptococos são patógenos conhecidos em todas as espécies.

No suíno, o S. suis participa ativamente como agente primário, causando meningite, claudicação e morte súbita, sozinho ou acompanhado por Glasserella parasuis ou Mycoplasma hyorhinis. Também pode causar infecções dos tratos genital, urinário e mamário, bem como endocardite vegetativa.

Como agente secundário, pode causar complicações, como necrose de orelhas e cauda, e pneumonia tromboembólica.

De acordo com Flores et al., 1993, o mesmo suíno pode ser colonizado por diferentes sorotipos simultaneamente. 

Epidemiologia

S. suis é um colonizador do trato respiratório superior dos suínos, invadindo as vias aéreas e amígdalas muito precocemente, através do canal do parto. O agente pode ficar aí alojado por muito tempo, sem a manifestação de sinais clínicos.

Figura 1. O reservatório natural de Streptococcus Suis é a orofaringe dos suínos e javalis

Sorotipos como o 9 apresentam importância crescente, particularmente em alguns países da Europa Ocidental. No Brasil, em um estudo em animais de 41 a 90 dias de vida, onde foram analisadas 323 amostras, 61% pertenciam ao sorotipo 2, 19,8% eram amostras não sorotipadas e 6,8% eram do sorotipo 1. Foram encontrados também outros sorotipos, de 3 a 9 (Sobestiansky et al 2007).

A transmissão direta pode ser horizontal, nariz a nariz (e possivelmente fecal-oral), ou vertical (intravaginal). Também pode haver transmissão indireta por equipamentos (cochos e bebedouros), e fômites, como roupas, seringas, fezes, água, poeira e outros animais (roedores e moscas).

Como patobionte bem adaptado, o Streptococcus suis tem duas apresentações:

A bactéria aparentemente inofensiva, cujo genoma codifica enzimas e fatores que favorecem a colonização da mucosa do trato respiratório superior;

O patógeno altamente invasivo que, devido a fatores de virulência, fatores específicos do hospedeiro (como idade), coinfecções com patógenos-chave (Mycoplasma e/ou Influenza) ou estresse ambiental, pode causar processos e infecções inflamatórias graves em suínos e humanos.

Figura 2. Os dois lados do S. suis como patobionte no trato respiratório dos suínos

Ferrando e Schultz (2016) propõem um modelo hipotético de infecção in vitro em células epiteliais humanas e suínas, onde demonstram a translocação de cepas patogênicas do sorotipo 2 através do trato gastrointestinal. Portanto, S. suis deve ser considerado um patógeno emergente, transmitido por alimentos.

Após romper as barreiras mucosas (respiratórias, intestinais) ou cutâneas, o S. suis invade diversos órgãos e tecidos por disseminação hematogênica e/ou linfática, produzindo meningite, artrite ou outras patologias sistêmicas (como choque séptico com óbito, poliserosite e endocardite).

Durante a disseminação sistêmica, o Streptococcus suis tem diferentes mecanismos para resistir ao ataque do sistema imunológico do hospedeiro: prevenindo a fagocitose, induzindo a síntese de citocinas inflamatórias etc.

Tabela 1. Permanência (dias) de S. suis em diferentes meios (Clifton- Hadley e Enright 1984,1986).

Diagnóstico

É feito com base nos sinais clínicos (febre, movimentos de pedalagem, opistótono, vocalização intensa), lesões macroscópicas (em cérebro, coração e articulações) e idade. 

Diagnóstico diferenciando outras doenças como Aujesky, polioencefalomielite, doença do edema, doença de Glasser, listeriose e intoxicação por cloreto de sódio, deve ser feito. 

A confirmação é obtida por diagnóstico laboratorial com base no isolamento e identificação do agente infeccioso e por histopatologia dos tecidos afetados.

Amostras de líquido cefalorraquidiano ou animais saudáveis ​​e não tratados devem ser coletados, a partir de 3 lotes diferentes. Swabs amigdalianos ou nasais não são recomendados, pois o S. suis é um habitante normal nesses locais e o isolamento tem sensibilidade muito baixa. A sorotipagem é importante para identificação do sorotipo predominante.

Quando o Streptococcus suis é um agente secundário ou oportunista, vários sorotipos diferentes serão recuperados do mesmo rebanho. A técnica de PCR é a de escolha, para a identificação da espécie (Okwumabua et al., 2003), e dos sorotipos (Smith e col., 1999b; Wisselink et al., 2002; Silva et al., 2006; Liu et al., 2013).

Controle

Diante de um processo estreptocócico, devemos nos fazer duas perguntas:

A partir daqui, abordaremos o controle a partir de dois pontos de vista:

Uma vez diagnosticado, o controle envolve a redução dos fatores, contando com sete pilares fundamentais:

Vírus ou bactérias patógenas existentes na granja.

Sistema de gestão McREBEL (McCaw et al 1996).

Superfícies limpas, desinfetadas e secas; a maioria dos desinfetantes é muito eficaz: hipoclorito de sódio, formaldeídos, glutaraldeídos, desinfetantes iodados, etc.

Secagem e pré-aquecimento das salas antes da introdução das fêmeas;

Ausência de biofilmes nas tubulações de água;

Controle de moscas e roedores.

Ambiente limpo e temperatura correta: 18-22°C na área da porca e 28-34°C na área de descanso dos leitões;

Evitar o excesso de umidade e poeira;

Ventilação adequada;

Práticas corretas de colostro (consumo mínimo por leitão de 250 g nas primeiras 24 horas de vida).

Temperaturas entre 28°C na semana após o desmame e24°C no final da transição

Velocidade máxima do ar: 0,15 m/s

Evitar poeira e gases tóxicos: NH3, CO2

Densidade adequada: mínimo 0,2 m2 por leitão

Evitar estresse social fornecendo material manipulável e com desenho correto das baias (áreas de comer, brincar, descansar e defecar)

Água com qualidade.

A antibioticoterapia em surtos agudos é indicada. Drogas como Amoxilina e cefalosporinas tem demonstrado alta eficiência no tratamento.

O tratamento com antibióticos não elimina a condição de portador assintomático.

Alguns especialistas defendem o uso de anti-inflamatórios juntamente com antibióticos (básico na meningite).

Vacinação: vacinas comerciais e autovacinas, com resultados muito diferentes. Para o futuro, as vacinas vivas atenuadas, colostrais e de subunidades heterólogas com Opsonização Ag.

Evitar brigas no pós-desmame para prevenir infecções transcutâneas: classificação correta por tamanhos, gestão de materiais manipuláveis, socialização antes do desmame etc.

Substituir o corte dos dentes (quando realizado) pelo lixamento superficial, e no nascimento realizar o corte e desinfecção do umbigo.

Trabalhar a saúde digestiva: controlando a microbiota e a integridade da barreira intestinal.

Utilização de piso vazado e não abrasivo na maternidade a fim de evitar lesões de pele e articulações.

Uso de alfa-monolaurinas para controle de S. suis

Os ácidos graxos de cadeia média e seus derivados apresentam efeito antimicrobiano, de duas maneiras:

Favorecem a proliferação de lactobacilos, produtores de ácido lático e peróxido de hidrogênio;

Inibem a colonização de E.coli, através do bloqueio de pontos de adesão na mucosa intestinal

Alfa-monoglicerídeos, e especialmente α-monolaurina (monoglicerídeo de ácido láurico), são uma ferramenta poderosa para reduzir ou substituir antibióticos na produção animal.

A α-Monolaurina tem uma ação muito maior contra Gram positivas do que o próprio ácido láurico. Este tipo de monoglicerídeo é hidrodispersível, e capaz de passar para a corrente sanguínea em sua forma original, sem ser atacado pela lipase pancreática, quando devidamente microencapsulado e não dissociado (Cos Quixal Porcinews, 2017).

Funciona dissolvendo a camada de peptidoglicano da parede celular das bactérias Gram positivas e penetrando no citoplasma, causando a lise da membrana. Uma vez no citoplasma, a α-monolaurina pode bloquear a expressão de toxinas e fatores de virulência.

Da mesma forma, pode atuar desestabilizando o capsídeo lipídico de certos vírus.

Em relação ao seu efeito imunomodulador, a α-monolaurina reduz o acúmulo de macrófagos produtores de citocinas, substâncias que induzem os hepatócitos a produzir proteínas de fase aguda.

Além disso, pode acumular-se no colostro da porca, de modo que a suplementação desse aditivo na alimentação da porca antes do parto produz um colostro com maior concentração e percentual de gordura. Suplementado durante a lactação, proporciona um maior nível de ácido láurico no leite.

Conclusões

S. suis causa perdas importantes no setor suinícola, além de zoonoses (sorotipo 2).

Até agora seu controle era baseado no uso profilático de β-lactâmicos na ração, mas devido às limitações ao uso de antimicrobianos e casos de resistência, exige soluções inovadoras, como as monolaurinas.

Como colonizador precoce e patobionte bem-sucedido, a abordagem da doença deve ser multifatorial.

O futuro nos apresenta desafios difíceis, que seremos capazes de superar, investindo em bem-estar e biossegurança, fazendo mais resistentes os nossos animais. Para isso, a saúde intestinal será fundamental.

Referências sob consulta.

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