O uso de enzimas na dieta de peixes foi o tema abordado pelo Dr. Alexandre Barbosa de Brito – Gerente Técnico Latino América da AB Vista durante o evento International Fish Congress & Expo 2022 (IFC2022), no bloco de nutrição.
O Dr. Alexandre inicia a palestra destacando o incremento de custos de algumas fontes nutricionais que pouco tempo atrás eram consideradas tradicionais – como farinha de peixe. Segundo ele, isso fez nosso setor olhar para outras fontes de origem vegetal.
“Essas fontes de origem vegetal trazem um benefício interessante com relação ao custo de produção, mas esses alimentos alternativos também trazem para a nutrição de peixes alguns outros fatores antinutricionais muito comuns em dietas de animais terrestres, como o fitato, pontua Dr. Alexandre.”
De acordo com Alexandre, há uma série de enzimas que podem ser discutidas como as fitases, lipases, amilases, proteases, xilanases; e uma série de aditivos enzimáticos que têm um efeito muito positivo na nutrição de peixes e organismos aquáticos. A fitase, por exemplo, libera fósforo do fitato, tendo relação direta com o aumento da digestibilidade de fósforo.
“Isso ilustra o aumento do rendimento financeiro para o produtor, com melhora de performance zootécnica devida à redução da conversão alimentar; e claro, fazer o máximo com o mínimo reverbera a sustentabilidade ambiental – qualidade de água.”
Alexandre destaca que a ação das enzimas é dependente de alguns fatores:
- Concentração de seu substrato – Estamos adicionando um grande volume de fontes vegetais na nutrição de organismos aquáticos ao ponto de ter um substrato importante para ser quebrado, trazendo benefícios para digestibilidade, saúde financeira do negócio e claro, saúde e qualidade de água.
- Volume de enzimas que é adicionado na dieta.
- pH – Cada organismo aquático traz em seu trato gastrointestinal inicial um pH diferente, isso muda de acordo com o hábito alimentar do peixe. As fitases têm melhor desempenho em ambientes de baixo pH. Então, entender e saber trabalhar isso dentro de uma estratégia de formulação pode ter um reflexo tanto em dose de enzimas trabalhadas quanto, de igual maneira, da eficiência das mesmas.
- Temperatura – Em organismos terrestres a temperatura é constante, já em organismos aquáticos existe uma variação muito grande. A ação da fitase, por exemplo, é proporcional à temperatura. Isto é, quanto menor a temperatura da água, menor será a ação da enzima!
- Tempo de retenção do alimento no trato gastrointestinal – O volume de arraçoamento pode alterar o tempo de retenção do alimento no trato gastrointestinal. Quanto menos tempo o alimento estiver retido na parte inicial do trato gastrointestinal, menos tempo a fitase terá ação nesta zona de pH mais baixo. Isso pode acarretar em um desserviço, em um problema para a ação da enzima.
“Esse é um tema que diferencia muito o uso de enzimas para organismos terrestre e organismos aquáticos. Para os organismos aquáticos, cada um deles trazem desafios ainda maiores para ação da fitase ou de qualquer outra enzima, dentro deste contexto.”
Outro ponto destacado na palestra foi a cinética enzimática. Alexandre enfatizou que é necessário trazer um cenário mais a frente de cinética enzimática para dar frente a todos esses cenários abordados.
“Um dos primeiros pontos de uma cinética enzimática é o “km”. Km é definido como a metade do volume de substrato para termos a velocidade máxima de reação de uma enzima para com o seu substrato.”
E por que isso é importante?
Dr. Alexandre exemplifica: “Pensemos em 2 fitases (A e B) com a mesma velocidade máxima entre elas, porém a fitase A tem metade do km da fitase B. Isso me indica que a fitase B é muito mais atrativa para com o seu substrato do que a fitase A, simplesmente porque chega no platô de velocidade máxima muito mais rápido. Os nutricionistas precisam saber dessas variações”.
Ralf Grainer, um dos maiores enzimólogos do mundo e estudioso do tema fez uma comparação de varias enzimas disponíveis no mercado e a que se destacou das demais como uma enzima de origem bacteriana foi a Quantum Blue, enzima de mais baixo Km do mercado mundial.
Ainda, de acordo com Alexandre, existe uma melhoria robusta com a inclusão de fitase sobre o aproveitamento proteico da dieta, já que esta enzima tem ação inibitória sobre a pepsina, o que resulta numa melhor digestibilidade dos animais.
Alexandre concluí a palestra destacando os seguintes pontos:
- O aumento do uso de ingredientes de origem vegetal determina o aumento de nível de fitato na dieta, oportunizando o uso de fitases;
- A fitase pode ser uma ferramenta efetiva para vários organismos aquáticos, visando a redução de fatores antinutricionais das dietas;
- A Fitase pode diminuir os custos de formulação, melhorando a performance do animal, incrementando a sustentabilidade, tanto do negócio quanto a ambiental.
Sobre o IFC 2022
O 4º International Fish Congress tem coorganização da Fundação de Apoio ao Ensino, Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação (FUNDEP) e da Unioeste. Patrocinam o IFC Brasil 2022: Itaipu Binacional, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Fomento Paraná, Companhia Paranaense de Energia (COPEL), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), Confederação Nacional da Agricultua (CNA, Federações e Sindicatos, Tilabrás, Cooperativa Copacol, Sistema FAEP/SENAR-PR e Cooperativa C.Vale.
O IFC Brasil tem o apoio da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), Associação das Indústrias de Pesca (Abipesca), Associação de Produtores de Peixes do Brasil (Peixe BR), Club de Innovación Aquícola do Chile, Organização das Cooperativas do Paraná (OCEPAR), Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (SINDIPI), Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA) e Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).
Como parceiro, o evento tem a Caixa Econômica Federal, que lançou recentemente linhas de crédito exclusivas para o agronegócio.