Uso de ingredientes alternativos na nutrição de cães e gatos
Com a terceira maior população de animais de estimação do mundo (ABINPET, 2023), o Brasil enfrenta o desafio de suprir de maneira sustentável as necessidades nutricionais de cães e gatos.
Nesse contexto, o uso de diversas farinhas, como as de insetos, minhocas e penas hidrolisadas, emerge como alternativa promissora.
Essas matérias-primas oferecem benefícios nutricionais, além de poder contribuir para a redução do impacto ambiental associado à produção de alimentos para pets.
A seguir, exploraremos mais detalhadamente o papel dessas farinhas na alimentação de cães e gatos, considerando tanto seu valor nutricional quanto seu potencial sustentável.
Farinha de Insetos e Minhoca
Ainda, os insetos podem ser ótimas fontes de taurina, aminoácido essencial para gatos, sendo a sua concentração variável de acordo com cada espécie, como pode ser observado na tabela abaixo:
Na Europa há o registro de pelo menos 12 alimentos secos para cães à base de insetos, sendo o primeiro lançado em 2015.
Todos os 12 alimentos são classificados como hipoalergênicos e oito deles trazem em seu rótulo o selo de sustentabilidade (Beyne, 2018), o que demonstra o avanço do uso de insetos na alimentação canina.
Outro aspecto importante a ser considerado é que os insetos podem influenciar positivamente no aroma dos alimentos para cães.
Desta forma, alguns insetos podem melhorar a atratividade das dietas e representar uma alternativa aos aromatizantes e palatabilizantes comerciais para cães.
Assim como as farinhas de insetos, a farinha de minhoca também possui potencial de uso em dietas para cães e gatos. Atualmente, a demanda por produtos oriundos da agricultura orgânica está em crescimento.
As matrizes de minhocas produzidas podem ser aproveitadas na alimentação animal e humana, seja na forma “in natura”, ou para a fabricação de farinha de minhoca (Ferreira, 2022).
Farinha de penas hidrolisadas por microrganismos
As penas correspondem a 7% do peso corporal do animal vivo (Holanda, 2009) e são consideradas coprodutos do abate.
Por não serem comestíveis para os humanos e apresentarem potencial poluente se descartadas na natureza (Machado, 2018), sua transformação em farinhas para a nutrição animal é uma alternativa eficaz (Sinhorini, 2013).
A queratina possui aminoácidos sulfurados, como a cisteína, cujas pontes dissulfeto conferem à proteína alta insolubilidade e baixa digestibilidade (Machado, 2018).
Os métodos convencionais de hidrólise incluem o processamento sob alta pressão e temperatura, permitindo a digestão parcial da queratina (Scapim et al., 2003). No entanto, o processo térmico gera somente 50% de disponibilidade de aminoácidos.
Em contrapartida, microrganismos queratinolíticos e suas enzimas podem ser empregados para o processamento hidrolítico das penas (Said & Pietro, 2004), aumentando seu valor nutricional (Grazziotin et.al. 2006).
Considerações finais
Os estudos sobre o uso de farinhas de insetos na nutrição de cães e gatos são relativamente recentes, mas os resultados apresentados até o momento indicam potencial da sua inclusão em dietas comerciais.
Outra alternativa é a farinha de minhoca, que também é rica em proteínas e ácidos graxos essenciais, mas ainda precisa de estudos em cães e gatos.
Além disso, considerando que o Brasil é um grande produtor de frangos, as farinhas de penas podem se tornar uma alternativa sustentável na formulação de dietas, desde que seu valor nutricional realmente seja melhorado pelo processo de hidrólise. Inclusive, pode ser uma fonte proteica para dietas hipoalergênicas.
Em resumo, essas farinhas oferecem potenciais benefícios à nutrição dos animais de estimação, mas é fundamental que mais estudos sejam realizados, principalmente para avaliar os efeitos desses ingredientes na saúde de cães e gatos a longo prazo.
Referências sob consulta junto ao autor.