Uso estratégico de pré e probióticos na criação de bezerras leiteiras
Apesar de sua importância inquestionável, existem desafios em torno da criação segura e eficaz de bezerros leiteiros. As taxas de morbidez e mortalidade de bezerros são extremamente importantes nos sistemas de produção de bovinos leiteiros, uma vez que têm grande peso em planilhas de custo.
Taxas de mortalidade em torno de 5% são consideradas normais, entretanto, a maior parte das propriedades apresenta índices superiores. Além disso, estatísticas nacionais são raras, dificultando a elaboração de políticas de treinamento e transferência de tecnologia para produtores e funcionários envolvidos nesta atividade.
Há uma grande necessidade de enfrentar esses desafios para proteger a sustentabilidade a longo prazo das indústrias leiteira.
A alta incidência de diarreia em bezerros é uma área de preocupação que deve ser abordada imediatamente, pois essa doença é responsável pela maioria da mortalidade e morbidade dos bezerros no início da vida (Urie et al., 2018; Scott et al., 2019).
A prevenção da diarreia deve ser enfatizada, pois os bezerros que necessitam de tratamento para diarreia apresentam:
(WaltnerToews et al., 1986; Svensson e Hultgren, 2008; Windeyer et al., 2014).
A última década foi marcada por grandes avanços em nossa compreensão de como a microbiota intestinal pode afetar a saúde e a doença intestinal. Estudos em bezerros, encontraram a prevalência de Faecalibacterium nas fezes, que resultou na redução da incidência de diarreia e aumento do ganho de peso corporal durante as primeiras semanas de vida (Oikonomou et al., 2013).
Os fatores que podem alterar a comunidade microbiana intestinal no início da vida do bezerro para beneficiar a saúde são de grande interesse. Os fatores externos que demonstraram induzir essas mudanças incluem:
- Dieta,
- Fatores maternos,
- Ambiente e
- Tratamento com antibióticos.
No entanto, é importante notar que o hospedeiro – especialmente a defesa imunológica do hospedeiro – desempenha um papel substancial na modelagem da microbiota intestinal e nas respostas adaptativas aos desafios da saúde intestinal e, portanto, não deve ser negligenciada.
Embora haja uma escassez de informações sobre a colonização microbiana durante o processo de parto, existem alguma caracterização de como colostro, leite e alimentos sólidos afetam a microbiota intestinal de bezerros.
O colostro acelera a colonização bacteriana no intestino delgado. Atrasar a alimentação do colostro em 12 h pode reduzir a prevalência de Bifidobacteria e Lactobacillus (bactérias benéficas) no cólon de bezerros leiteiros (Fischer et al., 2018).
A transição da alimentação com leite para alimentação sólida durante o desmame é marcada por algumas das mais dramáticas adaptações anatômicas e metabólicas (Baldwin et al., 2004), além de grandes mudanças no microbioma intestinal.
Tem sido amplamente caracterizado em várias espécies, inclusive humanos, que o microbioma intestinal tem maior plasticidade no início da vida e a exposição e perturbações microbianas podem ter consequências relacionadas à saúde e ao desenvolvimento mais tarde na vida. Acredita-se que o mesmo ocorra em bezerros, pois a suplementação de prebióticos (Marquez, 2014) e probióticos (Abe et al., 1995) exercem os maiores efeitos nas primeiras semanas de vida.
Essa estratégia pode ajudar a mitigar a exposição do rúmen em desenvolvimento à condições adversas e pode ajudar a evitar que os bezerros experimentem eventos que afetem negativamente a saúde e o crescimento durante e após o desmame.
Os probióticos podem se referir a:
Os pré-ruminantes jovens podem ser suplementados com probióticos no leite ou ração inicial para promover a saúde intestinal, estimular o consumo precoce de alimentos sólidos e melhorar o crescimento.
Os probióticos mais utilizados na alimentação de bezerros jovens são leveduras vivas, principalmente Saccharomyces cerevisiae (SC), culturas de leveduras de SC (Alugongo et al., 2017) e probióticos à base de bactérias, como Lactobacillus spp., Enterococcus spp., e Bacillus spp. (Uyeno et al., 2015).
Os efeitos mais significativos da suplementação com produtos de levedura durante a fase pré-desmame têm sido relatados quando incluídos na dieta dos animais durante períodos de estresse, promovendo a maturação ideal da microbiota ruminal e reduzindo o risco de colonização de patógenos (Chaucheyras-Durand e Durand, 2010).
Verificou-se que os produtos de levedura auxiliam na prevenção de desequilíbrios microbianos e aumentam a atividade microbiana em ruminantes jovens. Além disso, estudos sugerem que SC pode estabilizar o pH ruminal, um fator importante para as bactérias celulolíticas prosperarem nas condições iniciais do rúmen.
A resposta mais consistente da suplementação de levedura está associada a uma redução na incidência e gravidade da diarreia. Bezerros com falha na transferência de imunidade passiva suplementados com SC tiveram menos dias com diarreia (Galvão et al., 2005).
Os probióticos à base de bactérias (BBP) são amplamente utilizados em bezerros pré-desmamados, principalmente para melhorar a saúde intestinal, reduzir a diarreia e melhorar o crescimento. Algumas bactérias BBP comumente usadas são Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp., Bacillus spp. e Enterococcus spp. A suplementação de BBP demonstrou limitar a invasão de patógenos, fornecendo um ambiente estável e rico em nutrientes para a microbiota intestinal, aumentando assim a eficiência digestiva do hospedeiro e a imunidade da mucosa (Uyeno et al., 2015; Ma et al., 2018).
Em ruminantes jovens, os prebióticos demonstraram ter efeitos:
- No crescimento,
- Eficiência alimentar (FE) e
- Saúde.
Os prebióticos mais comumente usados na alimentação de bezerros são os oligossacarídeos (OS), que compreendem o principal grupo de prebióticos, e os β-glucanos.
Ao contrário dos probióticos, os mecanismos pelos quais os prebióticos exercem seu efeito têm sido relativamente inexplorados em modelos de ruminantes. No entanto, mecanismos potenciais foram sugeridos em monogástricos, incluindo alterações na microbiota intestinal, imunomodulação, efeitos de absorção de nutrientes e inibição de patógenos (Markowiak e Śliżewska, 2017).
Os frutooligossacarídeos (FOS) são uma família de OS que consiste em uma molécula de glicose ligada a várias moléculas de frutose por meio de ligações β-(2-1) ou β-(2-6). Algumas variações de FOS incluem inulina e FOS de cadeia curta (scFOS), que são encontrados em vegetais, como cebolas e alcachofras.
O uso de FOS como prebiótico é semelhante a outros prebióticos, pois demonstrou apoiar o crescimento de BAL (Sghir et al., 1998; Menne et al., 2000). No entanto, o FOS tem a capacidade única de prevenir a adesão de E. coli e Salmonella ao epitélio intestinal (Hartemink et al., 1997; Benyacoub et al., 2008) e demonstrou reduzir o crescimento de E. coli quando adicionado a um cocultura com LAB (Vongsa et al., 2016).
Os galactooligossacarídeos (GOS) são criados a partir da lactose e contêm moléculas de galactose repetidas por meio de ligações β-(1-3) e β-(1-4). Mais especificamente, os GOS são normalmente criados em escala a partir de permeado de soro tratado com β-galactosidase que foi filtrado de sobras de soro durante a fabricação de queijo (Vera et al., 2016).
A utilidade do GOS decorre de sua semelhança com o OS encontrado no leite, que demonstrou promover bactérias benéficas no intestino inferior (Malmuthuge et al., 2015) e, portanto, é usado como prebiótico em dietas para bezerros.
Mananoligossacarídeos (MOS) são derivados das paredes celulares de S. cerevisiae. É o prebiótico mais comumente usado e demonstrou ligar competitivamente as bactérias patogênicas, destacando o papel positivo que o MOS pode exercer nas dietas de bezerros.
A suplementação de pro e prebióticos para bezerros é de baixo risco, com benefícios potencialmente positivos que merecem investigação adicional.