A farinha de soja é a principal fonte de proteína e aminoácidos (AA) na formulação de alimentos balanceados para o gado em nível mundial, especialmente no caso de animais monogástricos.
⇑ A soja é uma fonte vegetal de qualidade, com uma composição química menos variável que outras fontes proteicas, o que favorece altos níveis de inclusão na ração balanceada.
⇓ No entanto, devido a seu alto nível de utilização, especialmente em dietas para avicultura, a falta de uniformidade desta matéria prima é muito mais relevante que das outras matérias primas presentes na fórmula.
Em muitas situações práticas, o controle de qualidade das farinhas de soja e seus derivados se resume a analisar seu conteúdo em umidade, fibra bruta, proteína bruta (PB) e atividade ureásica.
Todos estes parâmetros são de interesse, já que nos permitem avaliar corretamente o valor nutricional da soja. Estas variáveis, no entanto, estão sujeitas a importantes variações em função de:
- Genótipo da semente
- Tipo de solo e condições ambientais durante a fase de crescimento (Westgate et al., 2000)
- Características do processamento (Grieshop et al., 2003)
- Tempo de armazenamento (Serrano et al., 2013)
- Presença de fatores antinutricionais (Karr-Lilienthal et al., 2004; Frikha et al. 2012)
- País de origem do grão (Ravindran et al., 2014; García Rebollar et al., 2014 y 2016).
É preciso melhorar os métodos utilizados hoje para o controle de qualidade, porém a maioria dos programas de controle de qualidade da soja são voltados a determinar seu valor proteico, com escassa incidência sobre o valor energético, o que reduz seu valor prático.
O objetivo do presente trabalho será exposto em três partes:
- Identificar os principais fatores que afetam o perfil e a qualidade nutricional das farinhas de soja.
- Definir e avaliar as diferentes metodologias que permitem sua avaliação e determinar possíveis melhorias no controle de qualidade a serem adotadas pela indústria de fabricação de rações balanceadas.
- Descrever os diferentes fatores de variação na composição e qualidade da soja.
Uma vez preparada, submete-se ao aquecimento térmico para reduzir o conteúdo de fatores antinutricionais.
Posteriormente extrai-se o óleo do grão com solventes, obtendo-se a farinha de soja (48% PB).
Muitas vezes adiciona-se parte do farelo separado no início do processo, dando origem à farinha de soja (44% PB).
Em certos países, tais como Argentina, a gordura não é extraída do grão via solventes, mas por processos de pressão acompanhados de temperaturas elevadas.
Neste caso, o produto que se obtém é a soja expeller, cujo conteúdo em PB está em torno de 40-44% e o de gordura em torno de 8-11%.
Deve-se considerar que este processo de obtenção do óleo por pressão é normalmente realizado em fábricas de pequeno porte, nem sempre com boas instalações.
A partir do grão processado e desengordurado, pode-se gerar produtos de valor agregado a partir de:
Eliminação dos fatores antigênicos
Desativação dos inibidores de Tripsina
Redução dos oligossacarídeos:
⇒ Por fermentação, ou processamento enzimático (farinha de soja fermentada: <55% PB)
⇒ Por extração alcoólica (concentrado proteico de soja: >65% PB).
Composição proximal e valor nutricional da farinha de soja
A composição química da farinha de soja é menos variável que a de outros ingredientes proteicos habituais nas rações comerciais para monogástricos. No entanto, devido a seu alto nível de inclusão em rações balanceadas, precisa-se um alto grau de uniformidade.
Níveis de PB lógicos oscilam entre 43 e 45%, para a farinha de soja padrão e 46,7 e 48,5% para a farinha de alta proteína.
No conteúdo em AA da farinha é variável, com níveis que oscilam entre 2,7% e 3,0% para o caso da Lys total (FEDNA, 2010).
Um problema a se considerar em situações práticas é que a maioria das fábricas de ração balanceada estima que a proporção, ou perfil em AA da farinha de soja é constante. Por isso, ao modificar o nível de proteína na matriz, costuma mudar proporcionalmente o conteúdo de todos os AA, o que implica erros e, consequentemente, maiores custos produtivos.
Diversos trabalhos demonstram que o conteúdo em AA essenciais não é proporcional ao nível de PB e que o conteúdo em AA das sojas depende não só de seu conteúdo proteico, mas também do país de origem do grão.
A disponibilidade dos AA da soja se correlaciona negativamente com a presença de fatores antinutricionais, em particular, dos IT e reações de Maillard.
Em geral, os grãos do Brasil / Paraguai contém mais PB que os dos EUA, que por sua vez contém mais que os da Argentina, sempre que não se adiciona farelo ao produto recém elaborado (Tabela 2).
Assim, a vantagem do maior nível proteico perde-se em parte, já que os animais não necessitam proteína, mas AA digeríveis.
O cálculo do valor energético das farinhas de soja é importante para uma boa estimativa de seu valor nutricional. No entanto, não há uma metodologia definida para sua avaliação nos diversos produtos de soja.
Na prática, a energia metabolizável (EMAn; aves) é determinada a partir de equações de predição com base no possível aporte energético de seus princípios imediatos.
⇓ O principal incoveniente deste método está no fato de não se considerar nem a possível variação na digestibilidade da proteína, nem o conteúdo de açúcar que normalmente supera 8-9% (García Rebollar et al., 2016), nem a presença de fatores antinutricionais. Todos estes parâmetros são variáveis, em função não só do processamento da soja, como também da origem do grão.
A farinha de soja contém cerca de 12% de umidade, 7-13% de FND e 1,7% de extrato etéreo, enquanto as cinzas supõem 6%, aproximandamente.
Estes valores dependem, fundamentalmente, da composição química do grão original, sua genética, porém, também e, talvez em maior proporção, da região geográfica onde foi plantada a semente.
Neste aspecto, possivelmente a latitude, relacionada com as horas de luz durante o crescimento e amadurecimento da semente, sejam chave na hora de entender a composição do grão.
No caso das farinhas brasileiras, assim com as da Índia, destacam-se por seu maior conteúdo de FND para um nível padrão de PB.
Os níveis de P e Fe variam em função da acidez e das características do solo, assim como da fertilização e condições de crescimento do grão (FEDNA, 2010). Os valores de Fe são maiores para as sojas do Brasil e os de P, ligeiramente maiores para as sojas dos EUA.
A planta de processamento, o tipo de solo e a conservação, assim como a origem do grão (latitude) são parâmetros que afetam seu valor nutricional.