Utilização do milheto (Pennisetum glaucum) na dieta de aves
O milho e o farelo de soja compõem tradicionalmente as principais fontes energéticas e proteicas, respectivamente, na formulação de rações para aves no Brasil. No entanto, a oscilação nos preços destes insumos sugere a busca por ingredientes alternativos para a sua substituição total ou parcial, a fim de baratear os custos com a alimentação, que podem representar até 80% do custo total no sistema de produção.
O milheto (Pennisetum glaucum), pertence à família Poaceae, sub família Panicoidae, gênero Pennisetum (Kumar & Niomey, 1989), originário de clima tropical e semiárido do continente Africano, sendo posteriormente disperso para outros continentes e atualmente abrange vasta extensão territorial. É uma gramínea forrageira anual de verão, de espécie cespitosa, porte alto e hábito ereto, ciclo vegetativo curto (60 a 90 dias em cultivares precoces e 100 a 150 dias em cultivares tardios) (Kollet et al., 2006)
Essa forrageira tem ganhado destaque no agronegócio brasileiro, por apresentar vantagens em sua cultura, sobretudo pela sua rusticidade e adaptabilidade às condições edafoclimáticas no desenvolvimento e produção, em condições de temperatura que variam de 25 a 35°C (Buso et al., 2014).
Além disso, apresenta tolerância ao estresse hídrico, que torna possível produzir este grão em solos pobres e regiões de baixa pluviosidade, devido ao seu sistema radicular profundo e consequente capacidade de extrair nutrientes. Este processo permite a sua sobrevivência em condição de solos arenosos ou ácidos e com pouca matéria orgânica ou baixa fertilidade (Camargo et al., 2009; Tabosa et al., 1989).
O potencial produtivo do milheto é capaz de alcançar até 60 toneladas de matéria verde e 20 toneladas de matéria seca por hectare, o que lhe permite uma versatilidade de uso que vai desde:
O uso do milheto como ingrediente alternativo na dieta de aves tem ganhado ênfase por apresentar baixo custo de produção, já que é possível realizar pelo menos dois cortes por ano, a partir de um único plantio (Pinto et al., 2009).
Os valores de composição química e energética do milheto, definidos por Rostagno et al. (2017), estão dispostos na Tabela 1.
A composição do milheto pode variar em função:
- Do cultivar;
- Das atividades relacionadas ao plantio e cultivo que são realizados;
- Condições edafoclimáticas, dentre outros fatores.
No entanto, em análise bromatológica, Gomes et al. (2008) encontraram valores similares em seus resultados, sendo:
Segundo Rostagno (2017), os valores de composição nutricional do milho são de:
Sendo estes valores inferiores aos do milheto, como verificado nos valores apresentados na Tabela 1 sugerindo a vantagem de se utilizar este ingrediente alternativo em dietas avícolas.
Apesar de não apresentar grande conteúdo de fatores antinutricionais, o milheto tem energia metabolizável inferior à do milho, para frangos de corte (Moura et al., 2019).
Além disso, uma fração fibrosa deste ingrediente pode dificultar o seu aproveitamento pelos animais e, com isso, torna-se necessário a adoção de estratégias que contribuam para aumentar a disponibilidade da energia e dos nutrientes deste alimento, como por exemplo, a inclusão de enzimas exógenas na dieta (Rostagno et al., 2011).
A capacidade das enzimas exógenas em aumentar a digestibilidade de nutrientes das rações com a redução dos fatores antinutricionais presentes nos ingredientes, promove a maior disponibilidade desses nutrientes da dieta com a consequente melhora no desempenho animal (Onderci et al., 2006).
Hidalgo et al. (2004) relataram que a inclusão de até 10% de grão de milheto na dieta de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade não afetou o seu desempenho e características de carcaça, comparada à dieta controle.
Posteriormente, Gomes et al. (2008), ao estudarem os diferentes níveis de inclusão de milheto na dieta de frangos de 1 a 21 dias, encontraram melhor resposta de desempenho em dietas com 20% de inclusão do grão. Além disso, os autores relataram valores de energia metabolizável aparente corrigida de 2556 kcal/kg.
Da mesma forma, Manwar e Mandal (2009) não observaram efeito em até 75% de substituição do milho por milheto para frangos.
Akinola et al. (2015), em experimento substituindo milho por milheto inteiro para avaliar o desempenho de frangos (Tabelas 2 e 3), mostraram que não houve diferença no ganho de peso final e na carcaça à 60% de inclusão na dieta.
No entanto, o nível de 20% proporcionou melhor conversão alimentar e maior peso final, comparado ao tratamento controle. Kawu et al. (2020) encontraram melhores resultados de desempenho e de características de carcaça de frangos em que houve substituição de até 10% do milho pelo grão de milheto.
Com objetivo de buscar o maior aproveitamento do potencial nutricional do milheto, Moura et al. (2019) utilizaram este ingrediente associado à complexos enzimáticos e verificaram que não houve o favorecimento da utilização da energia, no entanto, melhorou o coeficiente de digestibilidade da proteína do milheto em frangos de 1 a 20 e 31 a 40 dias de idade.
Da mesma forma, Leite et al. (2011) relataram que a adição de enzimas à dieta contendo milheto não proporcionou ganho no desempenho de frangos. Do contrário, Edache et al. (2020) afirmaram que a inclusão de até 100% de milheto na dieta de frangos, suplementado com enzimas, não apresentou efeitos adversos em sua carcaça ou parâmetros hematológicos.
Em pesquisa com poedeiras, foi possível verificar que a inclusão de milheto pode modificar o perfil lipídico da gema, como demonstrado por Collins et al. (1997), em que aves alimentadas com rações contendo milheto produziram:
- Ovos enriquecidos com ácidos graxos poli-insaturados;
- Bem como o aumento de 2% no peso da gema e;
- Redução da sua coloração em 62%, fazendo-se necessário o uso de pigmentantes na dieta.
Mehri et al. (2010) relataram que a produção máxima de ovos ocorreu quando houve substituição de 75% de milho por milheto, enquanto 100% de inclusão resultou em 10% de redução na produção de ovos e conversão 18% mais baixa que na dieta controle.
Em trabalho anterior, Garcia e Dale (2006) relataram que a inclusão de 10% de milheto na dieta de poedeiras não influenciou o consumo de ração ou a produção de ovos e proporcionou maior digestibilidade de amido.
Garcia et al. (2011) constataram que a inclusão de 20% de milheto em substituição ao milho não influenciou:
- O consumo;
- A conversão alimentar e;
- O percentual de postura ou parâmetros de qualidade interna e externa dos ovos;
- Além de apresentar menor viabilidade econômica (Tabela 6);
No entanto, reduziu a cor da gema à medida que os níveis do ingrediente eram aumentados.