A integridade intestinal é crucial para a saúde e o desempenho de animais de produção. Embora a integridade dependa de vários fatores, a dieta e os nutrientes nela presentes exercem grande influência nesse sentido.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Entre os fatores antinutricionais presentes nos alimentos utilizados em dietas para suínos e aves, os β-mananos têm recebido atenção nos últimos anos (Vangroenweghe et al., 2021).
Os β-mananos são polissacarídeos não amiláceos (PNA) solúveis em água (Hsiao, 2006) e conhecidos pela capacidade de aumentar a viscosidade da digesta, o que interfere no tempo de trânsito intestinal e no aproveitamento dos nutrientes (Shastak et al., 2015). |
Além disso, podem afetar a saúde e a integridade do trato gastrointestinal (TGI) por desencadearem uma resposta imune inata desnecessária (Hsiao, 2006), processo este energeticamente caro ao animal (Huntley et al., 2018).
Embora a integridade do TGI dependa de vários fatores, a dieta e os nutrientes nela presentes desempenham um papel importante na manutenção da mucosa e na população microbiana (Montagne et al., 2003).
Estratégias nutricionais: como a utilização de enzimas exógenas pode ser uma opção viável para mitigar os impactos negativos dos β-mananos para suínos e aves.
AÇÕES DA β-MANANASE
Vários mecanismos podem explicar os efeitos positivos da suplementação de β-mananase ao desempenho e à digestibilidade de nutrientes (Shastak et al., 2015).
Quanto aos efeitos à integridade intestinal, os modos de ação podem ser: efeito sobre a viscosidade do substrato no intestino; melhora da morfologia intestinal; modulação da microbiota intestinal e efeito sobre as respostas imunes.
1- VISCOSIDADE
Os efeitos da suplementação enzimática na viscosidade jejunal da digesta foram estudados por Mehri et al. (2010), que observaram uma viscosidade reduzida pela adição de β-mananase à dieta.
Lee et al. (2003) mostraram que o uso da β-mananase em dietas contendo fração de casca de farelo de guar (rico em β-mananos) reduziu significativamente a viscosidade intestinal, a qual foi diretamente relacionada ao aumento do peso corporal e à melhor conversão alimentar de frangos de corte aos 20 dias de idade. Resultados semelhantes foram obtidos com o uso de β-mananase para frangos alimentados com níveis variáveis de galactomananos (Latham et al., 2018).
Figura 1. Efeitos da presença de PNA, em especial os β-mananos, na dieta de suínos e aves.
Poulsen et al. (2019) observaram melhorias significativas na saúde intestinal de frangos alimentados com β-mananase, confirmadas por meio da redução do fluido intestinal excessivo e do maior Índice de Integridade Intestinal (I²), este calculado através da avaliação de 23 condições associadas à saúde intestinal.
2- MORFOMETRIA
O efeito dos PNA na morfologia epitelial intestinal e no desenvolvimento estrutural parece estar relacionado à viscosidade da digesta.
A presença da digesta de alta viscosidade no lúmen pode aumentar a taxa de perdas de células das vilosidades, levando à atrofia dos vilos e ao aumento da profundidade das criptas (Montagne et al., 2003). |
Os efeitos observados podem ser atribuídos à redução da viscosidade pela degradação dos β-mananos que amenizaram os danos às estruturas absortivas do intestino.
3- MICROBIOTA
O uso de enzimas pode afetar a microbiota intestinal pelo aumento da taxa de digestão, deixando menos substratos disponíveis para fermentação no intestino, ou pela produção de oligossacarídeos solúveis que podem ser usados por microrganismos benéficos (Fig. 2) (Choct et al., 1996; Hopwood et al., 2002).
A suplementação de β-mananase modulou a microbiota intestinal de frangos por meio do aumento de grupos bacterianos benéficos, como Lactobacillus, Ruminococcaceae e Akkermansia, e da redução de Bacteroides em frangos de corte, além de mitigar os efeitos do desafio entérico por coccidiose (Bortoluzzi et al., 2019).
Figura 2. Efeitos da presença de PNA, em especial os β-mananos, no intestino. (a) lúmen intestinal com células caliciformes normais, proteínas de junção, camada mucosa, partículas de ração, bactérias benéficas; (b) lúmen intestinal com ambiente altamente viscoso com aumento de muco, alimento não digerido, competição entre bactérias benéficas e patogênicas, ácidos graxos de cadeia curta – AGCC; (c) lúmen intestinal com carboidrases, muco normal, bactérias benéficas e alimento digerido (Adaptado de Raza et al., 2019).
Em poedeiras, a suplementação de β-mananase em dietas contendo altos níveis de farelo de guar aumentou a resistência dos animais à colonização de Salmonella Enteritidis (Gutierrez et al., 2008), reduzindo significativamente a concentração de S. Enteritidis em papo, fígado, ovário e conteúdo cecal.
Enquanto, em suínos desmamados, a suplementação reduziu a contagem de E. coli no ceco (Ferrel, Marsteller, 2013; Jang et al., 2020), mostrando potencial para melhorar a microbiota desses animais.
Além disso, o uso de β-mananase em dietas à base de milho e soja reduziu a contagem de coliformes fecais (Upadhaya et al., 2016), o que pode impactar na redução da pressão de infecção ambiental.
4- FATORES PRÓ-INFLAMATÓRIOS
Durante um estímulo imunológico, as citocinas pró-inflamatórias iniciam a mudança na partição de nutrientes para apoiar a ativação e a manutenção da resposta imunológica (Gabler, Spurlock, 2008). |
Essas citocinas orquestram uma resposta imune que resulta em febre, produção de proteínas de fase aguda (PFA) e proliferação de leucócitos (Huntley et al., 2018). A concentração sanguínea de PFA é modulada por citocinas pró-inflamatórias, como interleucina-1 (IL-1), IL-6 e fator de necrose tumoral (TNF), sendo consideradas boas indicadoras da resposta sistêmica a processos inflamatórios.
Estudos em aves demonstraram que a β-mananase diminuiu a concentração plasmática de PFA e melhorou o desempenho e a eficiência alimentar, explicada por uma possível economia de energia por meio da prevenção da resposta imune mediada pela presença do β-manano no intestino (Anderson et al., 2009).
Anderson e Hsiao (2006) também observaram que a adição de β-mananase às dietas à base de milho e soja reduziu significativamente o nível de glicoproteína ácida alfa-1 (AGP) no sangue ao mesmo tempo que proporcionou melhor desempenho. A β-mananase em frangos de corte ainda mostrou ação anti-inflamatória por meio da redução da expressão de IL-1 e IL-6 e do aumento de IL-10 (Olmeda-Geniec et al., 2015).
Ainda nesse sentido, a permeabilidade intestinal está intimamente relacionada às proteínas de junção, como claudinas, ocludinas e zona de oclusão-1 (ZO-1). Citocinas pró-inflamatórias podem perturbar a função de barreira epitelial influenciando as funções das proteínas de junção (Capaldo, Nusrat, 2009). Zuo et al. (2014) observaram que o uso de β-mananase afetou a expressão de proteínas de junção no intestino, aumentando a expressão de ocludina e ZO-1 em frangos, o que melhorou a integridade intestinal.
CONCLUSÃO
Diante disso, podemos observar que a aplicação de β-mananases na nutrição animal tem sido foco de pesquisas científicas. A introdução de enzimas que degradem os β-mananos presentes nos alimentos destinados à nutrição animal é um passo importante para a redução dos efeitos antinutritivos desse polissacarídeo.
Os dados de literatura suportam que o uso de β-mananase traz como benefícios a redução da viscosidade da digesta, a melhora da integridade intestinal, ajuda a estabelecer uma microbiota mais saudável e reduz a expressão de fatores pró-inflamatórios. |
A identificação dos mecanismos pelos quais a suplementação de β-mananase afeta a integridade intestinal é importante para entender os resultados de melhoria de desempenho encontrados no campo.
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