Água na avicultura
Muitos pesquisadores e profissionais relacionados à avicultura, têm salientado a importância desse nutriente no desenvolvimento, saúde e bem-estar animal.
A busca na produção de proteínas linkadas ao conceito “One Health”, faz com que aumente nossas ações profiláticas em busca de integridade e manutenção da saúde dos plantéis.
A qualidade da água é um fator determinante para esse sucesso, no entanto, em muitas vezes acaba sendo esquecida ou negligenciada.
Em 2013, a OIE definiu as bases do bem-estar animal, devendo ser observados os padrões de saúde, conforto, nutrição, capacidade de expressar seu comportamento natural e não sofrer injúrias como: medo, dor e ansiedade.
Atualmente não temos uma legislação do MAPA específica para padrões de qualidade de água na avicultura. Basicamente, todos os padrões e orientações em termos de qualidade de água estão vinculados ao CONAMA ou ANVISA.
A água é um componente crucial para a avicultura, pois ela desempenha funções vitais no organismo das aves, incluindo a digestão, o transporte de nutrientes, a regulação da temperatura corporal e a manutenção da hidratação.
O acesso à água potável, é essencial para que as aves possam desenvolver suas aptidões zootécnicas. A contaminação microbiológica, composição físico-química e a temperatura da própria água são fatores que podem afetar negativamente o desempenho e a saúde das aves.
Sendo assim, seu monitorado deve ser constante nas propriedades, pois todos esses parâmetros podem sofrer mudanças ao longo do ano.
O percentual hidrogênico (pH) da água é um importante fator de monitoramento. É importante sempre regular o pH da água e realizar ajustes conforme necessário para garantir que o pH esteja dentro dos níveis adequados (6,0-7,0).
A água com pH alcalino pode interferir na digestão de proteínas, afetando a absorção de nutrientes e elevando a incidência de problemas de entéricos.
Assim como, o fornecimento de uma água com pH extremamente ácido pode irritar o trato digestivo das aves, causando danos nas mucosas, diminuindo a absorção de nutrientes, resultando em problemas de crescimento e desempenho, assim como, distúrbios metabólicos relacionados a menor mineralização da matriz óssea. Além desses fatores de interferência fisiológica nas aves, o pH também está diretamente ligado a uma eficiente cloração.
O cloro é frequentemente utilizado para controle de agentes patogênicos, como bactérias, fungos e vírus presentes na água. Dos agentes oxidantes, ainda é o produto com melhor custo-benefício no que se refere a desinfecção de águas. A atividade biocida do cloro varia de acordo com o pH da água.
O pH entre (4-7), permite uma dissociação do cloro mais efetiva, garantindo uma melhor capacidade de oxidação junto aos microrganismos presentes da água. Isso ocorre porque a forma dissociada do cloro com maior capacidade biocida é o ácido hipocloroso (HClO).
Em pH mais alcalinos, o percentual de prótons de hidrogênio disponíveis na água diminui, favorecendo uma maior concentração e dissociação de íons hipocloritos (OCl-), com baixa capacidade biocida.
Por exemplo, em pH 6, o cloro pode eliminar mais de 99% das bactérias em menos de 30 segundos, enquanto em pH 8, o mesmo nível de eliminação pode levar mais de 16 minutos.
É importante lembrar que o mau do uso de cloro pode formar subprodutos potencialmente tóxicos.
Lembramos que o cloro é gás, para estabilizar em meio liquido ou sólido (pastilhas) é necessário a utilização de outros produtos como: ácido cianúrico (Dicloro e Tricloro), hidróxido de sódio (Hipoclorito de sódio) e cálcio (hipoclorito de cálcio).
O hipoclorito de sódio é mais solúvel em água e, por isso, geralmente é mais fácil de aplicar na água de bebida. Ele se dissolve rapidamente e libera uma quantidade controlada de cloro na água.
No entanto, mesmo a solução de hipoclorito de sódio possa ser adquirida em diferentes concentrações (10-12%), trata-se de um produto extremamente volátil, com prazo de validade curto, gerando uma oscilação grande de concentração.
Por outro lado, o hipoclorito de cálcio é geralmente usado em concentrações de 65% a 70%, o que significa que a quantidade necessária para desinfetar a água é significativamente menor do que a necessária para o hipoclorito de sódio. O uso de hipoclorito de cálcio tem algumas vantagens em relação ao hipoclorito de sódio.
Por exemplo, enquanto o hipoclorito de sódio gera o hidróxido de sódio como subproduto da sua dissociação. O hipoclorito de cálcio gera apenas o cálcio, diminuindo riscos de toxicidade e melhor palatabilidade da água para consumo.
A utilização de cloros orgânicos (dicloro e tricloro) também merece destaque. São cloros com atividade biocida mais lenta, ou seja, precisam de tempo de contato (mínimo 30 mim) e também apresentam riscos de toxicidade em função da grande concentração de ácido cianúrico presente em sua dissociação.
O ORP (Potencial de Oxidação-Redução) também é um parâmetro importante para avaliar a qualidade da água na produção avícola. O ORP da água é influenciado por alguns fatores como:
- Presença turbidez (matéria orgânica);
- Minerais;
- Produtos químicos;
- pH e,
- Principalmente a concentração de agentes oxidantes.
Se o ORP da água estiver baixo (menor que 650 mV), significa que a água tem capacidade reduzida de oxidar as substâncias presentes, o que pode levar ao acúmulo de bactérias e outros micro-organismos patogênicos que afetam a saúde das aves.
Por outro lado, se o ORP da água estiver alto (acima de 670 mV), significa que a água está com atividade oxidante e por consequência, com capacidade biocida. Por isso, é importante controlar o ORP da água fornecida às aves e escolher sistemas de tratamento adequados que ajudem a manter um ORP adequado, correlacionando a concentração de cloro e pH.
Outro fator a ser considerado, é a conservação e limpeza dos reservatórios de água e tubulações. Muitas vezes esquecemos ou negligenciamos essa etapa no programa de biosseguridade e comprometemos a qualidade da água fornecida aos plantéis.
A presença de biofilmes no interior das tubulações, pode aumentar significativamente a chance de desafios sanitários por diferentes microrganismos.
Portanto, muitos são os fatores a serem observados quanto se trata de qualidade da água a ser utilizada para dessedentação dos plantéis avícolas, desde a fontes de captação, armazenagem, distribuição, temperatura, pH, composição físico-química, e o tipo de agente oxidante a ser utilizado.