FLORAMAX-B11 e ZYMOSPORE: poderosas ferramentas no controle da colibacilose em frangos de corte
APEC caracteriza-se como um dos principais agentes responsáveis pela queda de produtividade, mortalidade e condenação de carcaça no abate das aves, (DZIVA e STEVENS, 2008; MUCHON et al., 2019), e assim, gera perdas econômicas significativas na indústria avícola (CHRISTENSEN, BACHMEIER e BISGAARD, 2021; KATHAYAT et al., 2021).
Johnson et al. (2008) estimam que aproximadamente 30% das aves comerciais dos EUA apresentam em alguma fase da produção um quadro de colibacilose, que pode ser caracterizado pela presença de algumas lesões, como, pericardite, peritonite, perihepatite, celulite e aerossaculite (BARBIERI et al., 2013). |
Diante disso, probióticos têm sido apontados como uma alternativa para a diminuição do emprego de antimicrobianos no sistema produtivo (ZHANG e KIM, 2014; SELALEDI et al., 2020). Os probióticos são microrganismos vivos, que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro (HILL et al., 2014).
- Algumas cepas podem produzir substâncias com propriedades antimicrobianas, como as bacteriocinas, que têm capacidade de inibir o crescimento de bactérias patogênicas, também podem interagir com o tecido linfoide associado ao intestino (GALT) e estimular o sistema imunológico e já foi demonstrada a sua capacidade de reduzir a inflamação intestinal, reduzindo assim a passagem de substâncias nocivas do intestino para a corrente sanguínea (ABD EL-HACK et al., 2020; JHA et al., 2020).
O presente estudo propõe avaliar os produtos FloraMax-B11® (Lactobacillus spp.) e Zymospore® (Bacillus subtilis) como alternativas probióticas frente a um desafio por APEC, devido a necessidade de minimizar o uso de antimicrobianos na produção de frangos de corte e promover o uso racional de antimicrobianos. |
METODOLOGIA
O estudo foi realizado em parceria entre os Laboratórios de Medicina Aviária (UEL), Laboratório de Bacteriologia Básica e Aplicada (UEL) e empresa Vetanco Brasil.
Delineamento experimental
O experimento foi previamente aprovado pelo comitê de ética institucional sobre o uso de animais (CEUA/UEL 093/2021). As aves foram alojadas em gaiolas experimentais no infectório do Laboratório de Medicina Aviária da Universidade Estadual de Londrina – UEL.
Foram alojados 216 frangos de corte da linhagem Cobb, mistos, com um dia de vida (dv), em gaiolas experimentais. As aves foram divididas em seis grupos, a ração consistiu em uma dieta basal com ou sem a adição de Zymospore a depender do tratamento (tabela 1).
Tabela 1: Descrição dos tratamentos
Foram utilizados dois probióticos, FloraMax-B11 (um pool de Lactobacillus, com três cepas de Lactobacillus bulgaricus, duas cepas de Lactobacillus casei, duas cepas de Lactobacillus cellobiosus, três cepas de Lactobacillus fermentum e uma cepa de Lactobacillus helveticus), produto em uma concentração final mínima de 7,0×10 ⁷ UFC/mL e o Zymospore (uma cepa de Bacillus subtilis), produto em uma concentração final mínima de 5,0×10⁹ UFC/mL (figura 1).
Figura 1: Cronograma do experimento.
Teste de letalidade
Teste de patogenicidade
Foram submetidas à eutanásia, por deslocamento cervical, 12 aves de cada tratamento em cada um dos períodos de autopsia (7° e 12° dv) e foi realizada uma avaliação de lesões macroscópicas, como indicadas na figura 2, avaliando-se a presença/ausência de aerossaculite (A), pericardite (P), perihepatite (Ph) e peritonite (Pe) (BARBIERI et al., 2013).
Figura 2: Lesões observadas em quadros de colibacilose. 1.Pericardite fibrinocaseosa (*); 2.Aerossaculite caseosa, em saco aéreo abdominal esquerdo (*); 3.Perihepatite fibrinosa (*); 4.Perihepatite caseosa (*); 5.Pericardite caseosa (*) e perihepatite fibrinocaseosa (→); 6.Aerossaculite caseosa em saco aéreo abdominal esquerdo (*).
Imagens: Laboratório de Medicina Aviária.
O ensaio de letalidade foi avaliado por curvas de sobrevivência de Kaplan-Meier e o teste estatístico log-rank (Mantel-Cox), sendo considerado p<0,05, os testes foram realizados usando GraphPad Prism (GraphPad Software Inc., La Jolla, CA), enquanto os resultados de patogenicidade foram analisados por meio de estatística descritiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não foi observada mortalidade nas aves não desafiadas no período avaliado (T1, T3, T4). Com relação aos grupos desafiados foi observado uma maior mortalidade das aves do controle positivo quando comparado aos grupos que receberam FloraMax-B11 ou Zymospore (figura 3).
Figura 3: Número de aves que foram a óbito por dia.
O grupo T2 (controle positivo) apresentou uma mortalidade de 58% (7/12), enquanto em ambos os grupos tradados (T5 – APEC + FloraMax- B11 e T6 – APEC + Zymospore) foi observada uma mortalidade de 17% (2/12) aves, tendo sido ambos os probióticos estatisticamente (p-valor < 0,05) efetivos para a redução da mortalidade causada pela APEC utilizada no desafio.
Liang et al. (2021), observaram uma menor mortalidade de aves tratadas com Bacillus subtilis e com Lactobacillus, quando comparado ao grupo controle positivo (desafiado com APEC).
No presente estudo, Zymospore (Bacillus subtilis) e o FloraMax-B11 (pool de Lactobacillus spp.) foram capazes de minimizar a mortalidade das aves desafiadas com APEC. Deve-se apontar que os probióticos devem ser associados a outras ferramentas de manejo e sanidade, para atingirem sua máxima eficiência. |
- Na autopsia com sete dias de vida foi possível observar que quatro (33%) de doze animais apresentaram lesões macroscópicas, no grupo positivo (T2), enquanto os grupos tratados com FloraMax-B11 (T5) e Zymospore (T6) apresentaram três (25%) e duas (17%) aves, respectivamente, com lesões macroscópicas (tabela 2).
Tabela 2: Lesões macroscópicas observadas nas aves com sete dias de vida.
*A- Aerossaculite; Pc – Pericardite; Ph – Perihepatite; Pe – Peritonite
No grupo T6 (APEC + Zymospore), das 2 aves que apresentaram lesões, uma delas apresentou pericardite e perihepatite e uma ave apresentou apenas pericardite. |
Tabela 3: Lesões macroscópicas observadas nas aves com doze dias de vida.
*A- Aerossaculite; Pc – Pericardite; Ph – Perihepatite; Pe – Peritonite
Tarabees et al. (2019) relataram que probióticos têm a capacidade de reduzir as taxas de recuperação de E. coli do fígado e baço de frangos de corte, corroborando com o encontrado no presente estudo, em que o FloraMax-B11 e o Zymospore foram capazes de minimizar a ocorrência de lesões macroscópicas em aves desafiadas experimentalmente com APEC.
Tratamentos com cepas probióticas podem ter resultado em uma menor ocorrência de lesões macroscópicas devido a alguns de seus mecanismos de ação, como a melhora do sistema imunológico e a modulação da microbiota intestinal.
CONCLUSÃO
O uso do FloraMax-B11 (fornecido nos dois primeiros dias de vida das aves) e do Zymospore (adicionado à ração ao longo de toda a vida das aves) permitiram uma redução de mortalidade causada por APEC e podem ser associados a uma diminuição da expressão de lesões macroscópicas (perihepatite, peritonite, aerossaculite, pericardite) em ambo os casos quando comparados ao controle positivo.
Referências bibliográficas disponíveis sob consulta.