Em condições comerciais, os pintinhos eclodem em diferentes intervalos de tempo, geralmente, a janela de nascimento abrange o período de 24 a 48 h. As aves permanecem no nascedouro até o momento em que a maioria tenha realizado a eclosão, comumente até o dia 21,5 de incubação.
Após a eclosão e secagem de suas plumas, elas são coletadas e submetidas à diversos manejos:
Desde a eclosão até o alojamento na granja, as aves passam por um período de espera que pode chegar até 72 h sem ter acesso a água e a ração.
Durante esse período de restrição, as aves são capazes de utilizar os nutrientes presentes no saco vitelínico por até 72 h após a eclosão. Devido a essa capacidade, acreditava-se que o jejum por esse período não promoveria danos as aves.
Além disso, há diferença na reabsorção do saco vitelínico entre as linhagens. Frangos de corte de crescimento rápido possuem taxa metabólica embrionária mais elevada com capacidade de absorver o saco vitelino mais rapidamente quando comparado com linhagens de crescimento lento ou com linhagens de poedeiras (Gonzales et al., 2008).
Quando os pintinhos são submetidos ao jejum por período superior de 24 h, o processo de catabolismo das imunoglobulinas do saco vitelino com o intuito de produzir proteínas para manter sua sobrevivência é iniciado.
Essas imunoglobulinas (IgY) são de origem materna, das quais as aves são dependentes para tornar o seu sistema imunológico maduro o suficiente para produzir suas próprias células de defesa, os linfócitos B (Ulmer-Franco et al., 2012).
Essa característica faz com que esse período se torne determinante não só para a viabilidade da fase inicial, mas também para todo o ciclo produtivo das aves. O jejum prolongado atrasa o desenvolvimento intestinal assim como também afeta o peso de vísceras durante esse período. Dessa forma, os pintinhos tornam-se mais susceptíveis à colonização de agentes patogênicos que alteram a saúde intestinal. Com isso, o desempenho inicial e a viabilidade podem ser afetados negativamente.
A falta de nutrientes diminui a expressão de mRNA dos genes relacionados com o crescimento muscular (Li et al., 2007). Consequentemente, a capacidade ribossomal e de síntese proteica também é prejudicada. Esse fato foi claramente elucidado por Bigot et al. (2003), que constataram a interação entre os níveis de insulina plasmática após a alimentação e a ativação da enzima S6K1, encarregada da ativação de outros compostos envolvidos na síntese proteica do músculo esquelético.
- Menores concentrações de glicogênio muscular (de Jong et al., 2017), de T3 indicando menor taxa metabólica (Reyns et al., 2002), e de fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1) que está positivamente relacionada ao peso corporal (Wen et al., 2014) também foram observadas quando as aves foram submetidas ao jejum.
A metanálise realizada por de Jong et al. (2017) indicou que o jejum de 48h após a eclosão afetou negativamente o peso corporal dos frangos de corte, galinhas poedeiras e perus aos 42 dias de idade, período avaliado no estudo, e aumentou a taxa de mortalidade desse período.
Acredita-se que, durante esse período, o pintinho apresenta respostas fisiológicas para atingir o peso determinado pelo seu potencial genético ao final do ciclo produtivo como a rápida reabsorção do saco vitelínico e o rápido desenvolvimento do comportamento de ingestão de alimentos.
Como pode ser visto, o jejum pode afetar negativamente o desempenho produtivo, o desenvolvimento intestinal, a taxa de absorção de nutrientes e a resposta imune. Assim, quanto antes se iniciar o fornecimento de ração balanceada para o pintinho após a eclosão mais rápida será a reabsorção do saco vitelínico e melhor será o aproveitamento do seu conteúdo interno.
- Em conjunto esses aportes nutricionais promovem a síntese de proteínas e glicogênio nos tecidos, o desenvolvimento de órgãos e tecidos e, finalmente, o crescimento corporal, especialmente, o da primeira semana que mostra-se uma fase crucial e que influencia diretamente sobre toda a vida produtiva da ave.
Para isso, o fornecimento das dietas pós-eclosão e pré-iniciais devem ser compostas por ingredientes de alta qualidade com granulometria e forma física adequadas e alta digestibilidade de forma a garantir o atendimento das exigências nutricionais.
Referências Bibliográficas
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