banner horizontal whats

20 Sep 2021

Pré-eclosão: pontos críticos que afetam a qualidade de pintos de 1 dia

eclosãoQuanto estamos dispostos a perder no dia a dia de qualquer negócio? Dificilmente conseguiremos chegar a um número aceitável quando estamos falando em perdas financeiras na nossa produção. Assim como em praticamente todos os setores, quem atua com frango de corte, de postura e com reprodutoras também tem metas a cumprir. Se não atinge certos índices estabelecidos, pode amargar resultados bastante insatisfatórios.
E isso está diretamente relacionado com a sanidade de plantéis. Diversas são as premissas que sabemos que devemos seguir para evitar que eles sejam acometidos por doenças. Entre elas, está seguir os quatro pilares da produção avícola: cuidados com a nutrição, com o manejo (arraçoamento, seleção de ovos e aves), com a sanidade (medidas de biosseguridade, imunização dos lotes, monitorias, foco na qualidade de água) e com a ambiência (bem estar animal).
eclosão
eclosãoAté aqui, podemos estar tratando da questão de forma genérica. Então vou incluir uma provocação: todos esses cuidados são fundamentais, é fato. No entanto, se não começarmos a olhar com muita atenção para todos os pontos críticos que afetam qualidade dos pintos antes do seu nascimento, incluindo processos e até gerações anteriores, seremos inevitavelmente obrigados a tomar decisões complexas quando agentes patogênicos se manifestarem.
Decisões essas que podem envolver perder parte da produção, ou tratá-la com antibióticos, que oferecem uma solução imediata, mas que contribuem para a manutenção de pintos de baixa qualidade — lembramos que um dos maiores problemas atualmente nas granjas é a mortalidade inicial por onfalite — e para a resistência antimicrobiana (que já tratamos aqui), um problema de grande relevância à saúde pública.
O que fazer para evitar que esse cenário se crie? Tomando medidas preventivas que começam ainda no período de pré-eclosão. Vou detalhar melhor a seguir.
 
Por que ter cuidados ainda durante a pré-eclosão?
O pinto de um dia carrega consigo todas as características genéticas da sua linhagem e das condições em que ele foi incubado. Em outras palavras: ele é reflexo da incubação, do sistema de produção das matrizes, do eclosãomanejo da fase de recria dessas matrizes e é reflexo da matriz de 1 dia que o gerou. E você deve estar se perguntando: mas, mesmo depois de toda essa cadeia, o pintinho será impactado pela forma como sua mãe ou avó foi criada? A resposta é SIM.
E como reverter essa questão? Por onde começar? Em recente treinamento para a equipe interna de representantes da Biocamp, reuni alguns dos caminhos para isso e vou contar a seguir. Já adianto o primeiro deles: entender a importância da cloaca das aves.
 
Cloaca
Há 150 milhões de anos os ovos saem por esse órgão. Portanto, se precisamos reduzir a presença de bactérias patogênicas ou oportunistas na casca do ovo, é muito importante estabelecer mecanismos que diminuam sua presença ou concentração no trato digestivo das aves.
A cloaca de uma ave tem múltiplas funções e pertence a três sistemas: digestivo, excretor urinário e reprodutor. Isso significa que agentes saprófitas, oportunistas ou patógenos presentes em qualquer um dos segmentos desses sistemas poderão chegar até ela e, então, contaminar qualquer estrutura do ovo: gema, clara, membrana interna ou externa, e a casca do ovo.
Qual ação tomar a partir desta constatação? Iniciar tratamentos para inibir doenças? Minha orientação é analisar antes de agir.
Há um artigo bastante interessante publicado em 2019 na revista Nature, cujo objetivo foi caracterizar a comunidade microbiana no trato reprodutivo de galinhas e determinar a origem da microbiota intestinal dos embriões.
O trabalho mostra a variedade de bactérias saprófitas que estão presentes no oviduto, na cloaca, na casca do ovo, na clara e no próprio embrião. A questão é que, em situação de equilíbrio, sua presença traz benefício para a ave.
Outro exemplo da presença benéfica de uma bactéria está na E. coli no trato intestinal inferior, que inibe o crescimento de outras bactérias, como a Salmonella. A última edição do Diseases of Poultry (2020) mostrou que em aves normais, entre 10 a 15% dos coliformes intestinais podem pertencer a sorotipos potencialmente patogênicos. A E. coli no trato intestinal consiste, portanto, em um reservatório de fatores de virulência e resistência antimicrobiana. E o que deve ser feito? Nada! Tentar destruí-los com o uso de antibióticos é também reduzir os outros 85% que não são patogênicos.
A mesma publicação também cita a população de C. perfringens, que está sempre presente no intestino delgado de aves saudáveis. Mesmo em grandes quantidades, ela não é suficiente para produzir a Enterite Necrótica, provocando algum problema no trato digestivo apenas quando chega a níveis altos, o que só acontece, por exemplo, com desafios por coccidiose, altas dietas com proteína bruta (PB) e polissacarídeos não amiláceos nos alimentos (PNAs) que retardam o peristaltismo e favorecem a adesão bacteriana aos enterócitos. Corrigindo qualquer um desses fatores, é possível evitar que o problema ocorra.
 
Uso de antimicrobianos
Quando há uso preventivo frequente e/ou indiscriminado de antibióticos na matriz para reduzir as bactérias patogênicas, é possível até que algumas perdas produtivas sejam reduzidas. No entanto, isso gera um problema potencialmente maior:
i) desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) e
ii) criar condições favoráveis para seleção de bactérias resistentes.
Geralmente as principais patologias aviárias e outras afecções, que com maior frequência afetam aves de reprodução, sujeitas a tratamento com antimicrobianos (AMCs) — ou onde seu uso é praticado de forma preventiva e frequente— são:

  1. Problemas entéricos causados por C. perfringens ou C. colinum, associados ou não à coccidiose;
  2. Colonização do trato digestivo das reprodutoras por salmonelas paratíficas, transmitidas verticalmente à sua progênie;
  3. Onfalites (pintos de um dia) e “ovos bomba” (nos incubatórios), contaminados geralmente por bactérias, oportunistas ou não, tais como Pseudomonas aeruginosa e/ou Escherichia coli (APEC);
  4. Síndromes respiratórias nas aves.

Quando isso acontece, os antibióticos reduzem a presença de bactérias saprófitas propiciando o aumento do nível, da concentração e da intensidade de bactérias patogênicas.
É por isso que os matrizeiros precisam ter mais atenção e controle no período pré-eclosão: para que não haja perda de 0,5 a 1% do lote já no primeiro dia e para que os demais pintos, após o tratamento, não sejam apenas “sobreviventes ao processo”.
 
O papel dos profissionais do setor
Cabe aos profissionais do setor serem defensores de uma nova forma de focar em produtividade e gestão de custos sem sacrificar as questões sanitárias e — mais importante! — sem incentivar a multirresistência das bactérias.
Para se ter ideia, 50% dos frangos europeus estão contaminadas com patógenos resistentes aos antibióticos* e 35% contém patógenos resistentes a antibióticos importantes para a saúde pública.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já fez um alerta: em 2050 haverá mais pessoas morrendo de infecções por bactérias multirresistentes a antibióticos que de outras doenças.  Tudo indica, conforme estudos, que essa será a próxima “pandemia” que viveremos.
Será um problema de saúde que poderá matar até 10 milhões daqui 30 anos. Mas, ao contrário da pandemia da Covid-19, que pegou a todos desprevenidos, ainda é tempo para agir e mudar esse cenário.
Em tempos em que programas como ESG (governança, ambiental e social) estão cada vez mais em evidência e já são exigência do nosso mercado, aqueles que não se adequarem a essas questões irão ter dificuldades de colocação de seus produtos e, até mesmo, desaparecer.
Por isso, precisamos adotar cada vez mais novas políticas e pensar em ferramentas que mostrem efetividade, sejam interessantes e capazes de modular a microbiota intestinal de maneira a não tornar as bactérias super resistentes.

Paulo Martins é diretor Técnico e Comercial da Biocamp

Os probióticos são um dos caminhos para isso. As bactérias probióticas de uma ou mais espécies fazem a colonização ainda na reprodutora e no período pré-eclosão e ajudam a reduzir o crescimento das patogênicas que podem provocar enfermidades. Os clientes que já aderiram à iniciativa, inclusive, já apontaram aumento de produtividade e diminuição dos custos — em especial com medicamentos.
Enquanto nós não decidirmos definitivamente ampliar uso de probióticos na recria e reprodução de reprodutoras, sejam elas matrizes ou avós, vamos continuar favorecendo essa cadeia. E o frango de corte também deveria passar pelo mesmo processo.
Qual futuro você quer para o seu negócio?
 

banner special nutrients
Subscribe Now!
biozyme robapagina
nuproxa esp
Relacionado con Inovação
Últimos posts sobre Inovação

MAIS CONTEÚDOS DE

Dados da empresa
BANNER de LALLEMAND
biozyme robapagina
Subscribe Now!
agriCalendar

REVISTA NUTRINEWS BRASIL
ISSN 2965-3371

Assine agora a revista técnica de nutrição animal

SE UNA A NOSSA COMUNIDADE NUTRICIONAL

Acesso a artigos em PDF
Mantenha-se atualizado com nossas newsletters
Receba a revista gratuitamente em versão digital

DESCUBRA
AgriFM - O podcast do sector pecuário em espanhol
agriCalendar - O calendário de eventos do mundo agropecuárioagriCalendar
agrinewsCampus - Cursos de formação para o setor pecuário.