Site icon nutriNews Brasil, Informações nutrição animal

Estratégias de melhora da saúde intestinal em animais monogástricos

Escrito por: Darío Cleofé - Médico Veterinário pela Universidade de Saragoça (Espanha). Com experiência em prática veterinária e pesquisa e desenvolvimento, fez a transição para a função de Vendas e Gerente de Marketing na indústria de Saúde Animal. , Ewa Sujka - Engenheira Agrônoma - MBA Executivo pela Câmara de Comércio de Madrid. Mais de 18 anos de experiência na abertura e desenvolvimento de mercados externos no setor de saúde e nutrição animal. Em janeiro de 2012 ingressou na Lipídeos Toledo S.A. onde lidera o departamento comercial como Diretora Comercial.
estrategias-saude-intestinal-animais-monogastricos

Estratégias de melhora da saúde intestinal para obter uma eficiência nutricional bem sucedida em animais monogástricos

Manter um sistema digestivo saudável é crucial para processar os nutrientes de forma eficaz, o que tem um impacto direto no rendimento produtivo.

As linhagens genéticas de animais monogástricos de alto desempenho muitas vezes enfrentam problemas de saúde intestinal devido ao seu elevado consumo de alimentos e sistema produtivo intensivo, o que força a sua fisiologia digestiva.

O excesso de nutrientes não digeridos pode causar um desequilíbrio microbiano, conhecido como “disbiose”, que altera a composição da microbiota intestinal.

A disbiose, junto com outros fatores de estresse (mudanças ambientais, procedimentos técnicos…), desencadeia inflamação e compromete a integridade das junções celulares epiteliais, o que resulta também num aumento da permeabilidade intestinal (Dukatelle R. et al, 2023).

Compreender as interações entre estas diversas características ressalta a ampla gama de aspectos relacionados com a saúde digestiva e o seu impacto na produção animal.

Neste contexto, definiremos a saúde digestiva como a ausência ou prevenção de doenças que permitam ao animal desempenhar as suas funções fisiológicas digestivas para resistir aos fatores de estresse externos e internos.

Entende-se por “microbiota intestinal” a coletividade de comunidades microbianas que habitam as superfícies mucosas do trato gastrointestinal de um animal (Guarner F, 2003). É composta principalmente por bactérias anaeróbias, e desempenha funções importantes como:

IMPACTO DA MICROBIOTA INTESTINAL NO CRESCIMENTO E NA SAÚDE DOS ANIMAIS

O trato gastrointestinal é considerado fundamental para a digestão e a imunidade do animal, e o seu bom funcionamento depende da microbiota intestinal, que deve manter-se em equilíbrio e em constante mudança.

Na verdade, as populações microbianas do microbioma intestinal variam de acordo com a área do intestino, a idade do animal, e de acordo com a condição fisiopatológica. A microbiota intestinal tem um impacto direto nos processos metabólicos, como, por exemplo, a capacidade de algumas bactérias para decompor certos componentes da dieta, como a celulose e o amido resistente (Adedokun S., 2019)

Quanto ao correto funcionamento e integridade intestinal, a fermentação bacteriana desempenha um papel crucial ao produzir ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que servem como alimento para os enterócitos, mas também regulam o fluxo sanguíneo intestinal, produção de mucina (proteção contra as agressões do tecido epitelial) e respostas imunitárias intestinais.

Verificou-se que certas cepas de Lactobacillus produzem uma variedade de AGCC e bactérias com propriedades bacteriostáticas ou bactericidas, seja através da redução do pH ou através da modificação dos receptores contra micróbios patogênicos.

Vários fatores influenciam a manutenção da saúde intestinal (Linden, J. 2013):

Entre estes fatores, historicamente tem sido identificado a dieta como o mais influente na composição da microbiota intestinal e manutenção do seu equilíbrio.

Que estratégias nutricionais temos ao nosso alcance para melhorar a saúde intestinal e, consequentemente, o desempenho zootécnico?

 

Neste artigo, daremos grande atenção à evolução da produção animal do século XXI no que diz respeito à redução da utilização de antibióticos na pecuária.

As preocupações globais com a utilização de antibióticos para promover o crescimento na produção animal levaram à sua proibição na União Europeia, bem como a uma reavaliação da sua utilização nos Estados Unidos e em outros países que se juntam a esta estratégia (World Health Organization, 2017).

Portanto, a investigação atual centra-se em encontrar alternativas aos antibióticos para garantir uma produção animal sustentável do ponto de vista alimentar.

Estas alternativas incluem a utilização de ingredientes que modulam a microbiota ou mesmo a morfologia das estruturas de absorção de nutrientes no intestino (microvilosidades intestinais), muitos dos quais de origem vegetal.

ÁCIDOS ORGÂNICOS (AAOO)

Os ácidos orgânicos são componentes que se encontram habitualmente em tecidos vegetais e animais. Anteriormente, eram utilizados como conservantes para prevenir a deterioração e aumentar a vida útil dos alimentos perecíveis, uma vez que controlam a contaminação microbiana.

Neste grupo incluem-se ácidos como o lático, o acético, o propiônico ou o butírico (entre outros), e que desempenham um papel benéfico na saúde intestinal (Suiryanrayna et al., 2015).

Para começar, exercem efeito sobre a atividade enzimática, pois são capazes de reduzir o pH do quimo, aumentando a atividade da pepsina. Os peptídeos resultantes da proteólise da pepsina desencadeiam a liberação endócrina de gastrina e colecistocinina, contribuindo para melhorar o crescimento, uma vez que a digestão de proteínas é otimizada.

Outro mecanismo de ação corresponde à redução de agentes patogênicos como enterobactérias ou Salmonella spp. (Saki AA et al, 2012). A suplementação de ácidos orgânicos afeta o equilíbrio da membrana celular bacteriana, as macromoléculas celulares, e pode interferir com o transporte de nutrientes e metabolismo energético, levando à destruição.

Da mesma forma, a sua eficácia dependerá da sua capacidade de dissociação e hidrofobicidade, pelo que a sua suplementação deve ser feita em quantidades adequadas ou poderá exercer efeitos prejudiciais contra as células próprias do organismo.

BOTÂNICOS

A tendência mais inovadora das empresas dedicadas à nutrição animal tem sido incorporar ingredientes derivados de origem vegetal com propriedades historicamente estudadas, expostas por literatura científica, para o controle das disbioses intestinais ou a melhoria dos parâmetros zootécnicos.

Os botânicos contêm anéis aromáticos policíclicos classificados como polifenóis, alcaloides, terpenóides, compostos orgânicos de enxofre e compostos nitrogenados.

Os polifenóis constituem o grupo mais numeroso, e se tem estudado sua capacidade de diminuir a inflamação devido à sua capacidade de captação de radicais livres de oxigênio que se liberam em processos de oxidação celular, bem como suas propriedades estimulantes no crescimento microbiana saprófita.

Por exemplo, em pintos de 7 dias demonstrou-se o aumento da população de bactérias acido-láticas, bem como redutoras de microbiota patogênica (Viveros A, et al. 2020).

Em animais monogástricos foi estudada a capacidade destes compostos de controlar a disbiose intestinal, onde foi visto que aumentam a prevalência de várias espécies de bactérias benéficas e sua diversidade, ao mesmo tempo que reduzem a abundância de bactérias oportunistas.

Como se consegue isso?

A hidrofobia dos derivados vegetais permite-lhes penetrar a parede bacteriana, gerando um rompimento: aumentam a permeabilidade e levam à liberação de material intracelular bacteriano. As membranas citoplasmáticas bacterianas são compostas de fosfolipídios e proteínas.

Após exposição a agentes botânicos, certas proteínas se desnaturam, muitas delas envolvidas na geração de energia. Outros compostos criam estresse oxidativo à bactéria por meio da oxidação da membrana externa, causando a sua destruição.

Neste sentido, os botânicos podem agir de forma sinérgica juntamente com ácidos orgânicos, e geralmente são administrados em conjunto, uma vez que alguns alteram a membrana bacteriana e esta, uma vez alterada, é permeável aos ácidos orgânicos capazes de interagir com o material genético da bactéria, aumentando o poder de destruição (Rifat Ullah Khan et al, 2022).

PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS

Por último, alguns premixes e alimentos complementares para animais incluem probióticos e prebióticos em suas composições. Os probióticos são microrganismos não patogênicos que, administrados em quantidades adequadas, beneficiam a saúde intestinal e geral.

As espécies bacterianas utilizadas incluem bactérias ácido-láticas, bifidobactérias, fungos e leveduras vivas. Os probióticos promovem a exclusão competitiva, a maturação intestinal, regulam o sistema imunológico e melhoram o metabolismo e crescimento.

No entanto, o seu efeito pode variar dependendo da cepa e da quantidade administrada; note-se também que vários estudos revelaram que a combinação de múltiplas cepas pode ser mais eficaz do que uma única cepa. Além disso, podem influenciar a diversidade da microbiota intestinal e melhorar a resposta imune.

Por outro lado, os prebióticos são ingredientes não digeríveis que afetam seletivamente a composição e o metabolismo da microbiota intestinal. Os prebióticos, como frutooligossacrídeos (FOS) e mananoligossacarídeos (MOS), promovem o crescimento de bactérias benéficas, em detrimento daquelas prejudiciais.

A sua utilização em combinação com probióticos pode ter efeitos sinérgicos na saúde intestinal e no rendimento das aves (Yadav, S, 2019).

 

A inclusão de qualquer destas estratégias melhora a eficiência nutricional (digestão e absorção de nutrientes da matéria-prima) e, por conseguinte, dos rendimentos zootécnicos, conceitos associados a maiores benefícios econômicos em situações de produção.

CONCLUSÕES

Desde LIPTOSA, incentivamos o público em geral e especialista em produção animal a saberem mais sobre estes tipos de compostos, que contam com uma enorme base científica sobre os seus benefícios, observando-se grandes resultados visíveis a curto, médio e longo prazo.

E que, além disso, representam mais um passo para alcançar uma melhor rentabilidade econômica nas nossas fazendas, assim como o bem-estar dos animais, e uma maior reputação em relação ao público, uma vez que a utilização de antibióticos e outros ingredientes sintéticos está sendo reduzida.

Exit mobile version