Estratégias de melhora da saúde intestinal para obter uma eficiência nutricional bem sucedida em animais monogástricos
Manter um sistema digestivo saudável é crucial para processar os nutrientes de forma eficaz, o que tem um impacto direto no rendimento produtivo. |
As linhagens genéticas de animais monogástricos de alto desempenho muitas vezes enfrentam problemas de saúde intestinal devido ao seu elevado consumo de alimentos e sistema produtivo intensivo, o que força a sua fisiologia digestiva.
O excesso de nutrientes não digeridos pode causar um desequilíbrio microbiano, conhecido como “disbiose”, que altera a composição da microbiota intestinal.
Compreender as interações entre estas diversas características ressalta a ampla gama de aspectos relacionados com a saúde digestiva e o seu impacto na produção animal.
Neste contexto, definiremos a saúde digestiva como a ausência ou prevenção de doenças que permitam ao animal desempenhar as suas funções fisiológicas digestivas para resistir aos fatores de estresse externos e internos.
Entende-se por “microbiota intestinal” a coletividade de comunidades microbianas que habitam as superfícies mucosas do trato gastrointestinal de um animal (Guarner F, 2003). É composta principalmente por bactérias anaeróbias, e desempenha funções importantes como:
- Digestibilidade dos alimentos: convertem hidratos de carbono complexos em ácidos graxos de cadeia curta como o ácido butírico (nutriente essencial para os enterócitos), contribuindo para melhorias no ganho médio diário e no índice de conversão alimentar.
- Proteção contra a invasão de agentes patogênicos entéricos.
- Imunomodulação.
- Ajuda a desagregar compostos ou metabolitos tóxicos da dieta.
- Sintetiza vitaminas do grupo B, K, aminoácidos, ácidos graxos de cadeia curta, ácido láctico (acidificação do lúmen intestinal), etc. (Yadav and Jha 2019; Aggeletopoulou et al. 2019; Rinttilä and Apajalahti 2013).
IMPACTO DA MICROBIOTA INTESTINAL NO CRESCIMENTO E NA SAÚDE DOS ANIMAIS
Na verdade, as populações microbianas do microbioma intestinal variam de acordo com a área do intestino, a idade do animal, e de acordo com a condição fisiopatológica. A microbiota intestinal tem um impacto direto nos processos metabólicos, como, por exemplo, a capacidade de algumas bactérias para decompor certos componentes da dieta, como a celulose e o amido resistente (Adedokun S., 2019)
Quanto ao correto funcionamento e integridade intestinal, a fermentação bacteriana desempenha um papel crucial ao produzir ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que servem como alimento para os enterócitos, mas também regulam o fluxo sanguíneo intestinal, produção de mucina (proteção contra as agressões do tecido epitelial) e respostas imunitárias intestinais.
Verificou-se que certas cepas de Lactobacillus produzem uma variedade de AGCC e bactérias com propriedades bacteriostáticas ou bactericidas, seja através da redução do pH ou através da modificação dos receptores contra micróbios patogênicos.
Vários fatores influenciam a manutenção da saúde intestinal (Linden, J. 2013):
- As mudanças na alimentação.
- A qualidade do alimento e da água.
- A presença de micotoxinas ou outros agentes nocivos.
- As condições ambientais (como a temperatura, ventilação ou densidade populacional).
- As condições de tipo de produção.
- As infecções tipo virais, bacterianas ou parasitárias (coccidiose).
Que estratégias nutricionais temos ao nosso alcance para melhorar a saúde intestinal e, consequentemente, o desempenho zootécnico? |
Neste artigo, daremos grande atenção à evolução da produção animal do século XXI no que diz respeito à redução da utilização de antibióticos na pecuária.
As preocupações globais com a utilização de antibióticos para promover o crescimento na produção animal levaram à sua proibição na União Europeia, bem como a uma reavaliação da sua utilização nos Estados Unidos e em outros países que se juntam a esta estratégia (World Health Organization, 2017).
Estas alternativas incluem a utilização de ingredientes que modulam a microbiota ou mesmo a morfologia das estruturas de absorção de nutrientes no intestino (microvilosidades intestinais), muitos dos quais de origem vegetal.
ÁCIDOS ORGÂNICOS (AAOO)
Neste grupo incluem-se ácidos como o lático, o acético, o propiônico ou o butírico (entre outros), e que desempenham um papel benéfico na saúde intestinal (Suiryanrayna et al., 2015).
Para começar, exercem efeito sobre a atividade enzimática, pois são capazes de reduzir o pH do quimo, aumentando a atividade da pepsina. Os peptídeos resultantes da proteólise da pepsina desencadeiam a liberação endócrina de gastrina e colecistocinina, contribuindo para melhorar o crescimento, uma vez que a digestão de proteínas é otimizada.
Da mesma forma, a sua eficácia dependerá da sua capacidade de dissociação e hidrofobicidade, pelo que a sua suplementação deve ser feita em quantidades adequadas ou poderá exercer efeitos prejudiciais contra as células próprias do organismo.
BOTÂNICOS
Os botânicos contêm anéis aromáticos policíclicos classificados como polifenóis, alcaloides, terpenóides, compostos orgânicos de enxofre e compostos nitrogenados.
Os polifenóis constituem o grupo mais numeroso, e se tem estudado sua capacidade de diminuir a inflamação devido à sua capacidade de captação de radicais livres de oxigênio que se liberam em processos de oxidação celular, bem como suas propriedades estimulantes no crescimento microbiana saprófita.
Por exemplo, em pintos de 7 dias demonstrou-se o aumento da população de bactérias acido-láticas, bem como redutoras de microbiota patogênica (Viveros A, et al. 2020).
Como se consegue isso?
A hidrofobia dos derivados vegetais permite-lhes penetrar a parede bacteriana, gerando um rompimento: aumentam a permeabilidade e levam à liberação de material intracelular bacteriano. As membranas citoplasmáticas bacterianas são compostas de fosfolipídios e proteínas.
Após exposição a agentes botânicos, certas proteínas se desnaturam, muitas delas envolvidas na geração de energia. Outros compostos criam estresse oxidativo à bactéria por meio da oxidação da membrana externa, causando a sua destruição.
Neste sentido, os botânicos podem agir de forma sinérgica juntamente com ácidos orgânicos, e geralmente são administrados em conjunto, uma vez que alguns alteram a membrana bacteriana e esta, uma vez alterada, é permeável aos ácidos orgânicos capazes de interagir com o material genético da bactéria, aumentando o poder de destruição (Rifat Ullah Khan et al, 2022).
PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS
As espécies bacterianas utilizadas incluem bactérias ácido-láticas, bifidobactérias, fungos e leveduras vivas. Os probióticos promovem a exclusão competitiva, a maturação intestinal, regulam o sistema imunológico e melhoram o metabolismo e crescimento.
No entanto, o seu efeito pode variar dependendo da cepa e da quantidade administrada; note-se também que vários estudos revelaram que a combinação de múltiplas cepas pode ser mais eficaz do que uma única cepa. Além disso, podem influenciar a diversidade da microbiota intestinal e melhorar a resposta imune.
Por outro lado, os prebióticos são ingredientes não digeríveis que afetam seletivamente a composição e o metabolismo da microbiota intestinal. Os prebióticos, como frutooligossacrídeos (FOS) e mananoligossacarídeos (MOS), promovem o crescimento de bactérias benéficas, em detrimento daquelas prejudiciais.
A sua utilização em combinação com probióticos pode ter efeitos sinérgicos na saúde intestinal e no rendimento das aves (Yadav, S, 2019). |
CONCLUSÕES
Desde LIPTOSA, incentivamos o público em geral e especialista em produção animal a saberem mais sobre estes tipos de compostos, que contam com uma enorme base científica sobre os seus benefícios, observando-se grandes resultados visíveis a curto, médio e longo prazo.
E que, além disso, representam mais um passo para alcançar uma melhor rentabilidade econômica nas nossas fazendas, assim como o bem-estar dos animais, e uma maior reputação em relação ao público, uma vez que a utilização de antibióticos e outros ingredientes sintéticos está sendo reduzida.