Estratégias nutricionais para mitigar o estresse térmico em matrizes suínas lactantes
Introdução
Em países de clima tropical o desafio ambiental é constante para fêmeas suínas de alta produção. A alta produtividade torna-se um fator de relevância para o conforto térmico das matrizes em lactação, pois se faz necessário intensificar o aumento do consumo de ração nesta fase a fim de se evitar prejuízos nas fases subsequentes (Mendoza et al., 2020).
Considera-se como zona de conforto térmico para as matrizes suínas em lactação temperatura entre 18 e 22 ºC e umidade relativa do ar de 40 a 70% (Silva et al., 2021).
Fatores como a radiação, corrente de ar, temperatura e umidade do ar devem ser levados em consideração ao ajustar e adequar a faixa de temperatura da zona de conforto dos animais, favorecendo assim a melhor expressão do seu potencial genético. Sabendo disto, percebe-se que em países de clima tropical é fundamental a utilização de estratégias relacionadas a manejo e instalações.
Atualmente, estratégias nutricionais como o uso de aditivos e ajustes na formulação são fundamentais para favorecer o consumo das fêmeas, diminuindo os efeitos deletérios do baixo consumo na fase de lactação, o que consequentemente melhora os índices produtivos e reprodutivos das matrizes. A seguir, serão abordadas estratégias nutricionais para mitigar o efeito do estresse térmico em matrizes suínas em fase de lactação.
Estresse Térmico em Suínos
[cadastrar]
As glândulas sudoríparas dos suínos não são tão eficientes quando comparadas a outras espécies animais, e, por conta disso, a dissipação de calor ocorre por vias latentes (frequência respiratória) e sensíveis (condução, convecção e radiação).
Em adição, a eficiência de funcionamento destes mecanismos de dissipação podem ser influenciados por fatores, além da temperatura ambiente, como umidade e velocidade do ar e a área de contato com superfícies das instalações (Bjerg et al., 2020; Brandt et al., 2022; Huang et al., 2022).
O ambiente térmico pode modular o comportamento alimentar das matrizes, de forma que as flutuações de temperaturas influenciam diretamente no hábito alimentar, ocorrendo maior ingestão de ração em horários com temperaturas amenas (Quiniou et al., 2000; Silva et al., 2009, 2018 e 2021). Além disso, o padrão alimentar é influenciado pela temperatura ambiente e variação do fotoperíodo (Silva et al., 2021).
As altas temperaturas influenciam em parâmetros que vão além do consumo de ração. Diversos autores relataram que há influência sobre o desempenho reprodutivo subsequente das matrizes, assim como aumento de mortalidade de leitões por esmagamento, e menor ganho de peso dos leitões pela redução da produção de leite, teor de aminoácidos e perfil de ácidos graxos do mesmo (Silva et al., 2017; Silva et al., 2018; Oh et al., 2022).
Condições de estresse térmico por calor interferem sobre as condições de bem-estar dos animais. Logo, respostas fisiológicas são ativadas na tentativa de reverter o quadro de estresse.
Em adição, visando controlar a temperatura corporal, as fêmeas intensificam a frequência de mudança de posição na maternidade, o que por sua vez favorece a ocorrência de esmagamento dos leitões (Wishchner et al., 2009; He et al., 2019).
Estratégias nutricionais que auxiliam na redução do estresse térmico
As matrizes suínas atuais apresentam maiores taxas de acréscimo de tecido magro e maior capacidade reprodutiva, aumentando a produção de calor endógeno (He et al., 2019). Logo, a utilização de fibras (Oh et al., 2022), minerais (Chen et al., 2019) e aditivos (Rocha et al., 2022; Domingos et al., 2021; Silva et al., 2021) vêm sendo estudadas para buscar máxima eficiência das matrizes.
Garantir a ingestão de nutrientes necessários para mantença e produção é fundamental, sobretudo quando se pensa em desempenho eficaz de matrizes suínas criadas em condições de ambientes tropicais.
Pensando nisto, e no desempenho da leitegada como um todo, o uso de leveduras como aditivo foi alvo de estudo de Rocha et al., (2022) e Domingos et al., (2021), buscando melhorar o aproveitamento nutricional das dietas, o estado de saúde e a produção de leite das porcas.
Observou-se que a suplementação de 0,04 e 0,08% para porcas de ciclos maiores a partir de 90 dias de gestação até o desmame proporcionaram maior produção diária de leite e ganho de peso diário das leitegadas. Já para fêmeas de 1º e 2º ciclo, do 90º dia de gestação até o 24º dia de lactação ou apenas durante a lactação apresentam maior teor de matéria seca e proteína no leite.
Já Domingos et al. (2021) avaliaram porcas durante final da gestação e lactação em clima tropical úmido com inclusão de levedura (Saccharomyces Cerevisiae var. Boulardii) on-top. Os autores observaram aumento no consumo diário de ração, consumo total de ração, e produção de leite nos animais que receberam a levedura quando comparados aos demais tratamentos avaliados.
A betaína foi alvo de estudo de Mendoza et al., (2020), o qual é um doador de metil e osmólito, diminuindo a demanda energética do suíno para manter adequada hidratação celular e o correto equilíbrio iônico (Andrade et al., 2016).
Os autores incluíram a betaína dietética na ração durante a lactação como estratégia para redução de calor em porcas expostas ao estresse térmico.
Entretanto, Silva, (2010), cita que a alta inclusão de fibra deve ser estudada, pois há um aumento da massa visceral dos animais, o que impacta no aumento da produção de calor metabólico.
Oh et al., (2022), avaliando o efeito da inclusão de fontes de fibras para matrizes suínas em estresse térmico, obtiveram como resultado que 6,5% da inclusão total de FDA durante o período de gestação foram refletidos no período de lactação, melhorando o consumo de ração, o desempenho reprodutivo e o crescimento da leitegada.
A utilização de minerais como o selênio (Se), o qual atua no metabolismo redox, foi alvo de estudo de Chen et al., (2019), os quais avaliaram o aumento do fornecimento de Se na dieta de porcas submetidas ao estresse térmico por calor com e sem sistema de resfriamento. Nesse estudo, os autores relataram como principais resultados a melhora na sobrevivência pré-desmame dos leitões, a composição do colostro e do leite, bem como o status antioxidante e a transferência de imunoglobulina independentemente das condições climáticas.
Em pesquisa realizada por Silva et al., (2021), avaliou-se o uso de palatabilizante, visando melhorar as propriedades sensoriais da dieta, e como consequência, aumentar o consumo voluntário de ração das porcas. Os autores observaram que o consumo médio diário de ração foi menor durante a estação quente, quando comparado a estação fria (5,56 vs. 6,80 kg/d).
Adicionalmente, observou-se um maior consumo médio diário de ração para os animais que foram alimentados com dieta contendo palatabilizantes quando comparadas com as alimentadas com ração controle (6,42 vs.5,36 kg/d). Além disso, evidenciou-se no estudo que o padrão de comportamento alimentar durante a estação quente é alterado.
- Outro fator a ser levado em consideração além de aspectos nutricionais é o resfriamento do piso em baias maternidade, uma vez que promove melhores condições de bem-estar, pois contribui para redução na frequência respiratória e temperatura da superfície da pele dos animais, além de proporcionar melhor desempenho produtivo e reprodutivo (Parois et al., 2018).
Considerações Finais
Assim como alterações ambientais devem ser levadas em consideração (controle ambiental das instalações), bem como o manejo adotado nas granjas, pois o fracionamento da dieta seguido de fornecimento em horários mais frescos e em momentos em que a fêmeas naturalmente tem maior predisposição inata para comer podem apresentar resultados positivos para aumentar o consumo voluntário de ração das matrizes.
Referências bibliográficas sob consulta.
[/cadastrar]