Na área de alimentação de ruminantes de interesse zootécnico (bovinos, búfalos, caprinos e ovinos), um dos aspectos mais importantes é a formulação de rações. Antes de proceder ao balanceamento da ração, para a melhor resposta animal em termos produtivos, é necessário enfatizar que:
• Nenhum alimento simples é capaz de fornecer todos os nutrientes essenciais a todas as fases da vida de um animal;
• O animal foi retirado de seu ambiente natural, onde, possivelmente encontrava tudo que necessitava;
• Além disso, ele vem sendo pressionado a produções cada vez maiores, em tempos cada vez menores;
• O solo, pelo uso contínuo, vem sendo exaurido e o animal, confinado a horizontes cada vez mais estreitos, não podendo migrar em busca de áreas novas que lhe sejam mais apropriadas;
• Os alimentos balanceados, numa dieta adequada, possibilitam melhor eficiência de usos dos alimentos, com produções maiores e em tempo e custo cada vez menores, o que é de grande significação, por se saber que a alimentação é o insumo mais oneroso da produção animal.
Dito isto, a maior porção do alimento consumido pelos ruminantes provem da forragem, ou seja, do volumoso.
Quando os animais mais especializados, por exemplo as vacas em lactação ou bovinos de corte em terminação, são alimentados somente com volumoso, dificilmente estes consumirão os nutrientes (energia, proteína e minerais) necessários para a produção.
• Sendo assim, é imperativo categórico a inclusão de alimentos concentrados como fonte suplementar no suprimento das necessidades nutricionais dos animais nas fases de produção (crescimento, reprodução, lactação) e mantença.
Com isso, a formulação de uma ração balanceada consiste na combinação, mais que coerente, de ingredientes que serão consumidos em quantidades necessárias para suprir as necessidades diárias do animal.
Uma ração é balanceada quando todos os nutrientes requeridos estão presentes na ração consumida pelo animal durante um período de 24 horas.
O balanceamento da ração é essencial, visto que a falta ou excesso de nutrientes acarretam em perda parcial da produção e, caso persista, pode resultar na morte do animal (Figura 1).
Figura 1. Importância do balanceamento de ração para ruminantes.
Existem diferentes métodos empregados na formulação de ração, sendo eles manuais ou através de linguagem computacional, isto é, programas de computador.
Nos métodos manuais, podemos citar a tentativa e erro, que exige muito conhecimento por parte do formulador, o quadrado de Pearson, usualmente o mais empregado, o método matricial e o sistema de equações, cada um destes com suas vantagens e desvantagens.
• Neste, utilizaremos a fusão do quadrado de Pearson e do sistema de equações.
Para formular rações, é importante saber que existe uma cadeia com passos que deve ser respeitada e seguida, para que se possa proceder o balanceamento e obter como resultado final uma ração com os nutrientes necessários ao animal e que não haja perdas para o produtor.
A Figura 2 apresenta os passos a serem seguidos no processo de formulação de ração.
Figura 2. Passos para a formulação de ração para animais.
Agora, vamos exemplificar os conceitos na prática formulando uma ração para vaca de leite em lactação.
1- Formular ração para vaca leiteira de 500 kg PV, produção de leite de 26 kg/dia com 3,4% de gordura, estando na 21ª semana de lactação.
Primeiramente, vamos calcular o consumo de matéria seca da vaca através da equação proposta pelo BR-LEITE (2024):
CMS (kg/dia) = |
Desta equação, encontramos que o CMS da vaca estimado em kg/dia é de 15,70 kg.
Através das equações propostas pelo NASEM (2021) e BR-LEITE (2024), encontramos as necessidades de nutrientes da vaca (Tabela 1):
Tabela 1. Necessidades nutricionais da vaca
Agora, vamos a composição dos ingredientes e o preço dos insumos:
O espaço reserva na formulação de ração é a porção da ração final destinada a inclusão de sal e minerais, neste caso vamos utilizar um ER de 3%, logo calcularemos a ração com base em 97% para os elementos orgânicos, sendo necessário o ajuste do CMS e NDT:
CMS (kg): |
NDT (%): |
Procedemos agora à pré-mistura dos alimentos volumosos e concentrados para encontrar o NDT. Neste caso, utilizaremos partes iguais dos ingredientes, obtendo-se, assim, a média ponderada da composição dos mesmos:
PMvolumosos 65% SM e 35% FT SM: 75,4 x 65% = 49 FT: 56,7 x 35% = 19,9 NDTvolumosos = 68,9% |
PMvolumosos 50% FM e 50% FS FM: 86,1 x 50% = 43 FS: 80,3 x 50% = 40,1 NDTvolumosos = 83,1% |
A partir do NDT total calculado pela pré-mistura entre ingredientes volumosos e concentrados, calcularemos a relação volumoso:concentrado através do quadrado de Pearson:
Calcularemos a fração dos ingredientes volumosos na ração, mediante os 65% SM e 35% FT de inclusão destes na pré-mistura calculada anteriormente, desta forma teremos:
15,23 kg CMS ———- 100% X kg CMS ———- 61,3% |
X = 9,34 kg de volumoso, sendo 65% SM e 35% FT, então:
6,07 kg de MS de silagem de milho e 3,27 kg de MS de feno de tifton-85
Vamos conferir os nutrientes fornecidos pela ração volumosa e calcular o déficit a ser suprido pelo concentrado:
Com o déficit calculado, montamos o sistema de equações para o concentrado, sendo FM o fubá de milho e FS o farelo de soja: Resolvendo o sistema, teremos:
Equação 1 PB: 0,085FM + 0,488FS = 1,734 (x por 0,861)Equação 2 NDT: 0,861FM + 0,803FS = 4,9 (x por -0,085) 0,073FM + 0,420FS = 1,493 -0,073FM – 0,068FS = -0,4165 0,352FS = 1,0765 FS = 1,0765/0,352 = 3,06 kg de MS |
• Como achamos o valor de farelo de soja, substituímos este valor na equação 1, obtendo o valor de fubá de milho:
0,085FM + (0,488 x 3,06) = 1,734 0,085FM + 1,492 = 1,734 0,085FM = 1,734 – 1,492 FM = 0,242/0,085 → FM = 2,85 kg de MS |
O concentrado será composto por 3,06 kg de MS de farelo de soja e 2,85 kg de MS de fubá de milho. Agora, montamos a tabela da ração concentrada:
Não existe mais nenhum déficit nutricional. Lembrando que o ER foi de 3%, e que destes 2,5% é reservado para mistura mineral e 0,5% para sal comum, teremos:
1- Sal mineral: 15,70 kg CMS x 2,5% = 0,39 kg
2- Sal comum: 15,70 kg CMS x 0,5% = 0,08 kg
Agora, montamos a tabela final da ração com base na matéria natural dos ingredientes. Para isso, basta dividir o kg do ingrediente em MS pela % de MS do mesmo, por exemplo:
• Silagem de milho (MS para MN) = 6,07/31% = 19,6 kg de MN;
• Farelo de soja: 3,06/89% = 3,44 kg de MN, e assim por diante.
Calcularemos agora, a fórmula e montaremos a tabela com a mistura que deverá ser fornecida no cocho com o custo final:
Fazendo uma análise econômica:
• Preço da ração: R$ 41,61
• Preço do leite: R$ 2,78 (São Paulo/Dez, 2024)
• Lucro bruto: 2,78 x 26 kg = R$ 72,28
• Lucro líquido: 72,28 – 41,61 = R$ 30,67
Note a importância da formulação de ração no sistema de produção de animais ruminantes, impactando não apenas na saúde do animal, em termos de excesso ou deficiência de nutrientes, mas no lucro obtido pela propriedade num ciclo de produção.
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