O estudo do microbioma como transformador da nutrição animal
“O futuro é tecnológico”. É com essa frase que abrimos e encerramos a entrevista dessa edição. Para nos explicar como o estudo da microbiota e a inteligência artificial o biólogo, doutor em genética, Natanael Leitão nos explica sobre como as transformações a nível digital e celular dos animais, possibilitarão que a demanda por alimentos, que tende a crescer 50% nos próximos 30 anos pode ser suprida com eficiência.
- Ainda pouco explorada e para muitas pessoas ainda pouco esclarecida, Natanael explica de forma prática o que seria o estudo da microbiota.
“Para contextualizar, quando falamos de microbiota, nos referimos à população de microrganismos que convivem em harmonia sobre a pele e no interior do sistema digestivo dos animais. Para cada célula que esse animal possui, existe entre 1-3 células de bactérias em seu corpo.” |
NL: A nutrição animal de precisão é o próximo passo da criação animal. Quando você oferece uma dieta personalizada para o plantel, os benefícios podem ser diversos.
Temos que lembrar que a dieta responde por 70% dos custos da criação, qualquer ganho gerado com otimização da dieta tem impacto direto no bolso do produtor.
Pensando na produção de alimentos e nos custos de criação, temos o “link” com a sustentabilidade, hoje muito difundida pelos indicadores de ESG, os impactos da produção, os dejetos gerados são desafios a serem contornados. Mas a IA também é responsável pela melhora dos indicadores de ESG:
Vou focar na vertical de sustentabilidade da ESG, que tem um impacto direto na criação dos animais.
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Com uma ferramenta de AI, será possível fazer o cálculo correto da pegada de carbono de cada unidade de produção, permitindo ao produtor fazer compensação proporcional ou receber os créditos gerados pela sua propriedade.
Pode explicar como as ferramentas biotecnológicas podem ajudar na eficiência da nutrição animal? Existe alguma espécie que ainda seja mais complexa nesse assunto?
A biotecnologia leva vantagem sobre as outras ferramentas, porque através dela conseguimos “escutar” diretamente os animais.
Com a biotecnologia, você pode tomar ações preventivas, porque as análises biológicas são muito sensíveis e conseguem fornecer informações subclínicas, ou seja, antes do animal manifestar os sintomas.
Apesar de muitas ferramentas e do estudo de todas as espécies de produção, há também as que sejam mais complexas, nesse caso os ruminantes:
“Os ruminantes são animais mais complexos, justamente pela existência da câmara ruminal. O que entra pela boca, é muito diferente do que chega ao intestino, porque as bactérias ruminais fazem o processo digestivo inicial. Mas essa complexidade esconde também um enorme potencial de ganhos para atacar problemas relacionados à nutrição e sustentabilidade.” |
A grande preocupação do sistema produtivo, de maneira geral, é abastecer a cadeia mundial de alimentos, visto que teremos que produzir 50% a mais de alimentos para suprir a população. De que forma a IA pode ajudar nesse processo?
Quanto mais informações oferecemos para os algoritmos, mais fácil será para determinar fatores que podem melhorar ou piorar o desempenho dos animais.
Essa tecnologia permite que a AI simule um aviário dentro do computador.
Funciona da seguinte maneira: o produtor fornece dados da unidade de produção, como: a localidade, período do ano, raça dos animais, dieta, idade, sexo e outras informações. Então criamos uma granja virtual para ele.
Lá, ele pode simular mudanças na dieta, uso de aditivos ou vacinas e projetar os possíveis impactos sobre essa mudança na terminação do lote.
Nossa sociedade vive uma transformação tecnológica, assim como foi nos tempos das revoluções industriais. É natural que indústrias e produtores deem atenção às tecnologias, porque elas trazem eficiência e assertividade para a produção.
O consultor se tornará um operador de tecnologias. Ele utilizará alguns pacotes tecnológicos para amparar a tomada de decisões em cada cliente. Essas ferramentas permitirão que ele faça a gestão personalizada das fazendas e compare a efetividade das medidas recomendadas.
Assim ele terá dados para fazer a tomada de decisões e justificar as medidas aos seus clientes. No final, todos ganham.
Para encerrar, temos a visão de Natanael quanto ao futuro da nutrição animal. Perguntamos a ele qual a principal transformação que a produção animal passará nos próximos anos e que impactará a forma como vemos a produção hoje?
Nos últimos 50 anos a produção cresceu baseado em seleção genética, dieta e manejo.
No futuro próximo, seremos impactados pela digitalização intensiva e eficiência na produção. Como você mesmo disse, a demanda por alimentos vai crescer 50%, mas a tendência do preço da carne não é de crescer proporcionalmente.
Não vai ter mais espaço para empirismo.
No médio prazo, biosensores serão financeiramente viáveis para serem implantados em todo os animais do plantel, permitindo pela primeira vez um monitoramento em tempo real de verdade. |
A suplementação também irá mudar. Ao invés dezenas de aditivos nas dietas e troca de fornecedores a cada problema, os animais terão em seu intestino bactérias geneticamente modificadas com capacidade de produzirem todo tipo de aditivo. Bastando o produtor ativá-las ou desativá-las, conforme a necessidade dos animais indicadas pelos sensores.
São vários possíveis futuros, todos eles serão tecnológicos.